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O que é a psicogeriatria e qual a sua importância para a longevidade?

Viver mais anos levanta uma questão essencial: esses anos são acompanhados de uma boa qualidade de vida? E de que forma é que viver mais anos afeta a saúde mental?

Portugal é atualmente o terceiro país mais envelhecido da Europa e o quarto a nível mundial, numa tendência que se prevê acentuar com o reduzido índice de renovação geracional. Este fenómeno tem gerado discussões sobre os desafios do aumento da esperança média de vida, especialmente num contexto de baixa natalidade, que acentua o envelhecimento da população. Se, por um lado, esta transformação demográfica representa um desafio, por outro, não é igualmente uma conquista positiva vivermos mais anos? A resposta é: depende.

É animador saber que, em princípio, viveremos mais tempo, podendo desfrutar mais da vida e da companhia dos que nos são próximos. Porém, este cenário levanta uma questão essencial: estarão esses anos extra acompanhados de uma boa qualidade de vida? A evolução dos cuidados de saúde prolonga a nossa capacidade para resistir ao passar do tempo, mas é fundamental assegurar que o bem-estar e a saúde mental também acompanham essa longevidade.

Neste contexto, exploramos alguns dos principais desafios associados ao envelhecimento e o papel crucial da psicogeriatria.

O que é a psicogeriatria?

A psicogeriatria é uma área da psiquiatria dedicada à prevenção, avaliação, diagnóstico e tratamento de perturbações mentais das pessoas mais velhas, centrando-se nos cuidados de saúde e reabilitação sobretudo quando existem problemas cognitivos, funcionais ou comportamentais.

A abordagem psicogeriátrica é ampla, contemplando não apenas os aspetos biológicos e psicológicos do envelhecimento, mas também os efeitos de doenças físicas, além de questões psicossociais. Esta área atua de forma integrada, procurando melhorar a qualidade de vida dos doentes e maximizar a sua autonomia.

Quais as doenças ou situações que exigem a atenção da psicogeriatria?

A compreensão integrada de problemas cognitivos, doenças físicas – como doença cardiovascular ou patologia musculoesquelética –, perturbações do sono, polimedicação e isolamento social requer uma abordagem médica especializada. Os psiquiatras geriátricos tratam um leque diversificado de condições. Entre as situações de intervenção mais comuns destacam-se:

• Problemas de memória e demência: a psicogeriatria desempenha um papel crucial no diagnóstico diferencial nas fases iniciais das doenças que levam a compromisso cognitivo, como a doença de Alzheimer ou a doença cerebrovascular. Um diagnóstico precoce permite aos doentes e familiares entenderem, desde cedo e antes do agravamento dos sintomas, as opções de tratamento disponíveis e os passos necessários para garantir cuidados adequados no futuro.

• Delírios e alucinações: comuns em adultos com uma idade mais avançada, principalmente em casos de defeito cognitivo e sensorial. Em alguns casos é possível tentar identificar causas que contribuem para estes sintomas psicóticos e até reverter o quadro.

• Depressão e perturbações de ansiedade: problemas que afetam atualmente uma percentagem significativa de idosos, sobretudo em ambientes hospitalares ou em estruturas residenciais. A intervenção é essencial, podendo ser feita com abordagens farmacológicas e não farmacológicas.

• Abuso de substâncias: o uso abusivo de álcool (e de outras substâncias) é uma preocupação na população idosa, sobretudo no contexto da realidade portuguesa em que o consumo de bebidas alcoólicas de forma nociva na população geral é um problema.

• Aspetos psicossociais: envelhecer pode alterar a dinâmica social, afetando relações familiares e redes de apoio, o que requer uma análise aprofundada destes fatores.

A intervenção desta área da psiquiatria é, na grande maioria das vezes, multidisciplinar, integrando outras especialidades médicas, enfermagem, terapia ocupacional, psicologia, fisioterapia, entre outros. As áreas médicas que frequentemente intervêm no plano de cuidados são a medicina geral e familiar, a medicina interna, a neurologia e a medicina do sono. Frequentemente, a psicogeriatria é o elemento central da gestão de cuidados dos doentes e famílias.

Por que razão a psicogeriatria é cada vez mais importante?

A psicogeriatria ganha crescente relevância à medida que a população envelhece a um ritmo acelerado. Com a esperança média de vida a atingir novos recordes, uma parte substancial da população chega a uma idade avançada com novos desafios de saúde mental. Garantir que os anos extra de vida são vividos com qualidade torna-se essencial – e é precisamente aqui que a psicogeriatria desempenha um papel importante.

Hoje, os psiquiatras geriátricos não tratam apenas os sintomas — atuam na tentativa de preservar a funcionalidade mental e social das pessoas mais velhas, podendo intervir atempadamente e promover um envelhecimento ativo. Essa atuação pode ter um impacto importante não só na vida dos próprios doentes, mas também no bem-estar das famílias e dos cuidadores, ajudando a construir um ambiente de apoio e dignidade.

Ao incorporar estratégias de prevenção, esta área contribui para retardar ou mitigar os efeitos debilitantes das perturbações mentais no idoso, ajudando a garantir que esses anos extra são vividos com qualidade e significado, respeitando o desejo natural de cada pessoa em envelhecer com dignidade.

A psicogeriatria não prolonga a vida – dá-lhe valor, sentido e esperança. Pois, no que toca à longevidade, quantidade e qualidade andam de mãos dadas.
 

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Scientific Review

Dr. Rui Pedro Albuquerque

Dr. Rui Pedro Albuquerque

Hospital Lusíadas Monsanto
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