4 min

Alimentação para diabéticos

Colaboração
Não há alimentos proibidos para diabéticos. Mas doces? Só com muita moderação. Os conselhos de Catarina Saraiva, endocrinologista do Hospital Lusíadas Lisboa e da Clínica Lusíadas Almada.

A diabetes é uma doença crónica e constitui um grave problema de saúde pública a nível mundial, não só pelo aumento da sua incidência como pela sua elevada morbilidade. O controlo metabólico é conseguido através de uma alimentação saudável e também pela prática de atividade física e medicação oral e/ou injetável.

Seguir uma dieta saudável é importante não apenas para controlar os níveis de açúcar, mas também o perfil lipídico, a tensão arterial, minimizando assim o risco cardiovascular e de complicações microvasculares. O mais importante é conseguir fazer escolhas alimentares saudáveis, que se adaptem ao estilo de vida de cada um, mas com lugar a exceções.

As vontades devem ser saciadas. É preciso ter prazer a comer. É muito importante para a nossa saúde conectar a mente e o corpo, identificar adequadamente a fome e saciedade e comer sem culpa, sublinha Catarina Saraiva, endocrinologista do Hospital Lusíadas Lisboa e da Clínica Lusíadas Almada.

Que tipo de dieta deve fazer um diabético?

Ao contrário do que se defendia há umas décadas, a alimentação para diabéticos não necessita de ser diferente da uma pessoa sem a doença. Contudo, as recomendações nutricionais para a diabetes e suas complicações são baseadas em conhecimentos científicos e experiência clínica.

Devido à complexidade nutricional, Catarina Saraiva recomenda a presença de um nutricionista nas equipas de saúde que tratam pessoas com diabetes. Deve-se seguir a Dieta Mediterrânica, que representa um modelo alimentar completo e equilibrado devido ao uso de azeite como principal fonte de gordura, ao consumo abundante de produtos de origem vegetal, frescos e pescado e ao consumo moderado de carnes e laticínios.

Assim, devem-se privilegiar:

  • Os produtos frescos (não processados);
     
  • Os legumes e as hortaliças: são pobres em hidratos de carbono e calorias, mas muito ricos em fibras que promovem a saciedade, ajudam a controlar a glicemia após as refeições e favorecem o funcionamento intestinal. São ainda grande fonte de vitaminas, sais minerais e compostos antioxidantes;
     
  • As leguminosas: o feijão, o grão, as favas e as ervilhas são fonte de proteína vegetal e de hidratos de carbono de absorção muito lenta (que fazem subir muito lentamente o açúcar). Contêm vitaminas, sais minerais e fibras. São importantes para controlar a glicemia após a refeição, para aumentar a saciedade e controlar os níveis de colesterol;
     
  • Os temperos com cebola, alho e ervas aromáticas;
     
  • As sopas, os cozidos, as caldeiradas; 
     
  • A fazer fritos (o que se deve evitar) só se deve usar azeite, óleo de amendoim ou banha;
     
  • Evitar os molhos gordos, preferir os estufados (tudo “em cru” em vez de refogados, retirar as peles e as gorduras visíveis das carnes e reduzir os alimentos ricos em gordura saturada e hidrogenada como enchidos, carnes gordas, queijo gordo, natas, salgadinhos, folhados, bolos).

E devem cumprir-se as seguintes regras:

  • Comer duas ou três peças de fruta por dia: no final do almoço e do jantar ou em pequenos lanches (uma peça de fruta e uma sandes de pão escuro, que permite a absorção mais lenta dos hidratos de carbono). Há frutas que têm maior quantidade de hidratos de carbono (açúcares) do que outros. Devem ser conhecidas as equivalências entre as frutas: por exemplo, uma maçã média equivale a duas ameixas ou 16 morangos;
     
  • Os hidratos de carbono mais complexos (chamados farináceos) não devem ser eliminados da alimentação. Mas devem ser comidos com moderação e ser obtidos de fontes como o pão escuro, a batata, o feijão, o grão, os couscous, centeio e aveia e não devem ser eliminados da alimentação;
     
  • Evitar outras fontes de farinhas e açúcares como bolos/doces e folhados (reservados para ocasiões especiais); - Preferir o peixe à carne, por ter menos gordura e ser rico em ácidos gordos insaturados ómega 3, com funções importantes na prevenção inflamatória (fortalecem o sistema imunitário e aumentam a resistência a fatores externos invasivos) e da doença cardiovascular;
     
  • Optar pelas carnes magras e de aves (sem peles) por conterem um teor mais baixo de gordura do que a carne vermelha. A ingestão excessiva de carne vermelha aumenta a ingestão de gordura saturada e de proteína que levam a níveis mais elevados de colesterol e sobrecarga renal, respetivamente;
     
  • Evitar refrigerantes e outras bebidas açucaradas;
     
  • Ingerir água: 1,5 a 2 L por dia é a dose recomendada para adolescentes e adultos;
     
  • Ingerir bebidas alcoólicas com moderação (3 dl vinho ou duas cervejas por dia para os homens e metade para as mulheres) e sempre a acompanhar hidratos de carbono;
     
  • O café e o chá devem ser bebidos com moderação (duas chávenas por dia). No entanto, quem tem hipertensão ou arritmia deve aconselhar-se com o médico ou nutricionista.

E existem alimentos proibidos na alimentação para diabéticos?

Não faz qualquer sentido proibir alimentos. A alimentação deve ser variada, equilibrada e sem restrições. Deve ser adotada a nova Roda dos Alimentos, que permite uma diversificação alimentar adequada. Mas atenção aos açúcares e outros hidratos de carbono. O consumo de doces, que leva a um aumento de peso, de glicemia e dos níveis de colesterol deve ser reservado para uma ocasião especial (se as glicemias estiverem bem controladas), no final de uma refeição.

E, quando tal ocorra, deve reduzir-se a quantidade de hidratos de carbono (arroz, batata, massa, pão…) consumidos. Estas recomendações, que são importantes para os diabéticos, devem também ser tidas em conta pela população em geral.

A dieta deve ser diferente no caso de se tratar da diabetes tipo 1 e da diabetes tipo 2?

Não. As pessoas com diabetes que façam insulina rápida às refeições poderão aumentar a dose de insulina em função da quantidade hidratos de carbono que consumiram. No entanto, se estes forem excessivos acabam por aumentar de peso e não terão qualquer benefício nisso.

Contudo, na diabetes tipo 2, para evitar oscilações de glicemia, devem fazer-se seis refeições por dia, com intervalos de 2 e meia a 3 horas e com um jejum noturno não superior a 8 horas. Na diabetes tipo 1 deve ser feita uma orientação individualizada por forma a garantir um equilíbrio entre a quantidade de hidratos de carbono ingerida e a quantidade de insulina administrada.

Ler mais sobre

Diabetes

Este artigo foi útil?

Revisão Científica

Dra. Catarina Saraiva

Dra. Catarina Saraiva

Hospital Lusíadas Lisboa

Especialidades em foco neste artigo

Especialidades em foco neste artigo

PT