O que é o cancro da mama?
É uma doença na qual células mamárias crescem e se multiplicam de forma descontrolada, formando um tumor que poderá ser detetado por exames de imagem e/ou pela palpação de nódulos anormais ou alterações a nível da pele ou do mamilo, nomeadamente corrimento mamilar. Contrariamente ao que acontece nos tumores benignos, as células cancerosas podem invadir os tecidos vizinhos e espalhar-se (metastizar) para outras partes do corpo.
O cancro da mama é frequente?
Cerca de 1 em cada 9 mulheres desenvolverá cancro da mama ao longo da vida, se viver até aos 80 anos.
A frequência aumenta com a idade:
· 30 Anos . . . . .0.44 % (ou 1 em 227)
· 40 Anos . . . . .1.47 % (ou 1 em 68)
· 50 Anos. . . . . 2.38 % (ou 1 em 42)
· 60 Anos. . . . . 3.56 % (ou 1 em 28)
· 70 Anos . . . . .3.82 % (ou 1 em 26)
Segundo os dados do Globocan 2020, em Portugal, o cancro da mama é a 2ª neoplasia mais comum com 7 041 (11.6%) / 60 467 novos casos de cancro, sendo a 5ª causa de mortalidade por cancro. Nas mulheres, é a neoplasia mais diagnosticada com 7 041 (26.4%) / 26 673 novos casos de cancro, e a 1ª neoplasia responsável pela mortalidade por cancro.
Quais são os sinais e sintomas do cancro da mama?
A maioria dos cancros de mama são descobertos em exames de rastreio, tais como mamografias, realizados por rotina numa fase em que a mulher não tem quaisquer manifestações percetíveis à palpação. No entanto, há sintomas e sinais que podem fazer suspeitar da presença desta doença:
· Aparecimento de um nódulo, espessamento ou alteração de novo na mama ou axila que não desaparece ou aumenta ao longo do tempo (embora 80 a 90% dos nódulos não sejam cancro)
· Inversão do mamilo que não existia previamente
· Corrimento através do mamilo
· Desenvolvimento de pele casca de laranja com sinais inflamatórios
Quem tem maior risco de vir a ter cancro da mama?
O cancro de mama é uma doença multifatorial, como tal associada a mais do que um fator de risco, destacando-se:
· Idade mais avançada – cerca de 80% dos diagnósticos são feitos em mulheres com mais de 50 anos
· Obesidade (IMC > 30)
· Inatividade física
· Consumo excessivo de álcool
· Tempo de exposição a estrogénios prolongado – primeira menstruação precoce ou menopausa tardia
· Primeira gravidez após os 30 anos de idade ou nunca ter engravidado
· Uso de terapêutica hormonal de substituição
· História familiar de cancro de mama
O risco de cancro da mama aumenta 2 a 3 vezes nas doentes com história familiar de cancro da mama em familiares próximos.
Mulheres e homens com mutações nos genes BRCA1 e BRCA2 apresentam elevado risco de desenvolverem cancro da mama ao longo da vida e em idades mais jovens. Contudo, estas mutações são raras, ocorrendo apenas em 5 a 10% das doentes com cancro da mama.
Alguns exemplos que podem estar mais associadas a hereditariedade são: o cancro de mama no homem, o diagnóstico de cancro da mama abaixo dos 35 anos de idade, o diagnóstico de cancro da mama e ovário na mesma pessoa, 3 ou mais casos de cancro da mama na família em familiares mais chegados, o diagnóstico de um determinado subtipo de cancro de mama (triplo negativo) abaixo dos 50 anos de idade.
O que fazer para prevenir?
Existem 5 passos e 2 ações com impacto positivo na prevenção do cancro da mama.
Passos:
1. Manter peso corporal saudável
2. Manter estilo de vida ativo
3. Limitar o consumo de álcool
4. Amamentar, se possível
5. Pesar os riscos e benefícios do tratamento hormonal para os sintomas da menopausa
Ações:
1. Ter atenção às alterações que podem ocorrer na própria mama
2. Consultar o médico assistente para obter informação sobre a realização de exames de rastreio de acordo com as recomendações nacionais e internacionais (ecografia mamária com mamografia ou outros)
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico assenta em três pilares: a observação clínica, os exames de imagem e a biópsia.
Na presença de características clínicas suspeitas, os exames habitualmente a realizar são a ecografia mamária e a mamografia. Se estes revelarem alterações suspeitas de cancro, procede-se à biópsia (colheita de tecido), cuja análise ao microscópio (exame anátomo-patológico) define o diagnóstico. A ressonância magnética só toma lugar em casos selecionados ou se surgirem dúvidas na ecografia/mamografia.
Que tipos de cancro da mama existem?
Existem pelo menos 5 subtipos diferentes de cancro da mama, definidos por marcadores que são realizados na análise anátomo-patológica da biópsia – recetores hormonais de estrogénio e progesterona , HER2, ki 67%. A definição do subtipo é essencial para definir o plano de tratamento oncológico mais adequado a cada caso.
Quais são os estádios do cancro da mama?
O estádio corresponde à extensão do cancro, ou seja, se está localizado apenas na mama e/ou nos gânglios da axila – estádio precoce – ou se atinge também outros órgãos à distância – estádio avançado. A classificação TNM (T-tamanho do tumor, N-gânglios linfáticos na axila, M-metástases à distância) é a utilizada a nível mundial. O estádio pode variar entre 0 e IV. Quanto mais avançado o estádio, pior o prognóstico.
Estadio 0 – tumor não invasivo (in situ)
Estadio I – tamanho do tumor primário ≥ 2 cm, sem afetar os gânglios linfáticos axilares
Estadio II – tamanho do tumor > 2cm e < 5cm, podendo os gânglios linfáticos axilares estarem afetados
Estadio III – tamanho do tumor >5 cm ou envolvimento de gânglios linfáticos axilares
Estadio IV – o tumor espalhou-se para outros órgãos ou gânglios linfáticos longe do seu local de origem (ex.: fígado, pulmão, osso...)
Como se trata o cancro da mama?
O tratamento do cancro da mama deve ser individualizado a cada doente e depende principalmente do estádio da doença e do subtipo de cancro da mama.
1. ESTÁDIOS INICIAIS
• Cirurgia
Nos estádios iniciais em que o tumor está contido na mama e/ou gânglios linfáticos da axila, a cirurgia é o componente mais importante do tratamento e, normalmente, é a terapêutica inicial. O objetivo é sempre conseguir uma cirurgia que conserve a mama afetada – cirurgia conservadora. Por vezes, pode ser necessário começar por quimioterapia de forma a conseguir reduzir o tumor, permitindo assim uma cirurgia conservadora. Em casos mais particulares, pode não ser possível conservar a mama, por exemplo, quando há vários focos de tumor em todos os quadrantes da mama.
Tipos de cirurgia da mama:
· Tumorectomia – remove o tumor e uma pequena margem de tecido normal envolvente. A esta cirurgia segue-se Radioterapia de forma a prevenir que o tumor volte na mama que ficou conservada.
· Mastectomia – remove a mama toda. Pode ou não conseguir-se conservar o mamilo e a aréola, dependendo das características e localização do tumor.
Normalmente, o primeiro local para onde o cancro de mama se espalha são os gânglios linfáticos que se encontram na região da axila do mesmo lado da mama afetada. Nesta fase o tumor ainda é operável.
Tipos de cirurgia dos gânglios da axila:
· Biópsia do gânglio sentinela – é injetado um contraste na mama antes da cirurgia que ajuda o cirurgião a identificar os primeiros gânglios que possam estar afetados. É feita a análise ao microscópio. Se estes gânglios linfáticos não contiverem doença não é necessário remover mais gânglios linfáticos, poupando, assim, a doente ao esvaziamento axilar e suas complicações.
· Esvaziamento axilar – reservado para as situações em que haja gânglios linfáticos na axila afetados pela doença. Quando estes gânglios linfáticos são removidos podem surgir sequelas, normalmente, irreversíveis como: a drenagem dos líquidos nessa zona ficar comprometida, o que aquando da realização de esforços repetidos pode levar ao chamado linfedema (aumento do volume do braço); dificuldade em determinados movimentos do braço, dor ou sensação de formigueiro. Nestes casos, é essencial o auxílio da fisioterapia.
A necessidade de realizar Radioterapia, Quimioterapia e/ou hormonoterapia é normalmente decidida baseada na informação da análise ao microscópio da peça obtida na cirurgia.
• Radioterapia
A Radioterapia é um tratamento local (dirigido à mama e/ou gânglios linfáticos da axila) à base de radiação que impede o crescimento das células tumorais, tentando preservar os tecidos normais adjacentes. É um procedimento indolor em que a doente está deitada numa máquina durante 2-5 minutos. É utilizado após as cirurgias conservadoras e após algumas mastectomias.
• Quimioterapia
A quimioterapia consiste num conjunto de fármacos que destroem as células tumorais. Nos estádios iniciais da mama pode estar indicada antes ou após a cirurgia.
Antes da cirurgia – neoadjuvante – é utilizada de forma a reduzir o tumor e tornar possível a cirurgia conservadora, ou a possibilitar a cirurgia, em casos em que à partida o tumor não seja operável.
Após a cirurgia – adjuvante – pode estar indicada conforme os resultados da análise da peça operatória. A duração do tratamento decorre entre 3 e 6 meses. Quando é realizada em contexto adjuvante, normalmente inicia-se pela quimioterapia e só depois se passa para a fase de radioterapia e/ou hormonoterapia, se indicados.
• Hormonoterapia
A hormonoterapia está indicada após a cirurgia (adjuvante) em todos os tumores que apresentem recetores hormonais positivos (ver diagnóstico). É feita na forma de comprimidos e a duração do tratamento pode variar entre 5 a 10 anos. Não é utilizada em conjunto com a quimioterapia, mas a sua utilização é segura em simultâneo com a radioterapia.
• Anticorpos
Em cerca de 15 a 20% dos tumores há uma alteração num recetor tumoral chamado HER2 (ver diagnóstico). Nestes casos, e consoante o estádio da doença, normalmente há a indicação para realização de quimioterapia associada a um ou mais anticorpos – tratamento anti-HER2. Este tratamento é iniciado com a quimioterapia e tem a duração total de 1 ano.
2. ESTÁDIOS AVANÇADOS
Nos estádios avançados da doença, ou seja, quando o tumor se espalhou para outras localizações do corpo, o principal objetivo do tratamento é o prolongamento do tempo de vida com o máximo de conforto possível. Nesta fase, os tratamentos mais utilizados são a hormonoterapia, quimioterapia, anticorpos e outras moléculas alvo. A escolha da terapêutica a utilizar depende essencialmente do subtipo de cancro de mama e da presença ou não de sintomas. Na maioria dos casos, o tratamento é realizado enquanto o doente estiver a responder à terapêutica ou até o doente deixar de a tolerar.
Nesta fase da doença, a radioterapia é reservada para controlo pontual de sintomas, como por exemplo, a dor ou hemorragia. O papel da cirurgia é controverso e só é ponderado em casos muito selecionados.
Como se faz o seguimento/vigilância após os tratamentos?
Nos estádios iniciais da doença, após o final dos tratamentos (cirurgia/radioterapia/quimioterapia), inicia-se um programa de vigilância baseado em avaliações clínicas e exames complementares. Nas consultas periódicas, o médico assistente averigua se há algum sintoma ou sinal “de novo” e realiza a observação da doente. Os exames de vigilância passam, essencialmente, pela realização análises ao sangue periódicas e ecografia mamária e mamografia anual. Este programa de vigilância é individualizado consoante o caso.
Nos estádios avançados, o acompanhamento é individualizado ao doente. Dependendo da doença e do tratamento instituído, são realizadas avaliações periódicas, onde é feita a monitorização da tolerância e a resposta à terapêutica instituída.