Quando ir às urgências? Aprenda a fazer a escolha certa.
A elevada afluência às urgências hospitalares de casos de baixa gravidade e que não necessitam de cuidados imediatos aumenta o tempo de espera e compromete a capacidade de resposta a situações realmente críticas. Este é um dos maiores desafios para a saúde em Portugal, que, segundo o relatório Health at a Glance 2023, lidera a procura por serviços de urgência entre os países da OCDE.
O que é considerado uma urgência médica?
Uma urgência médica é uma situação crítica que representa uma ameaça à saúde, exigindo atenção clínica imediata para evitar o agravamento da condição do doente.
No caso específico de bebés, idosos ou doentes portadores de doença crónica estas situações podem ser ainda mais graves.
Exemplos de condições que devem determinar a ida à urgência:
1. Perigo de vida: se os sintomas apresentados colocarem em risco a vida do paciente ou de outra pessoa, estamos perante uma emergência médica e não uma urgência. Nesses casos, deve contactar-se imediatamente o número de emergência médica 112.
2. Cortes profundos: feridas de pequena ou média dimensão que não param de sangrar, mesmo com pressão, ou que necessitam de intervenção médica para a cicatrização.
3. Lesões na zona da cabeça: traumatismos que devem ser avaliados imediatamente por um médico, especialmente se houver perda de consciência ou náuseas associadas.
4. Queimaduras severas: que afetam a face, mãos, pés, genitais, articulações ou uma área extensa do corpo, que formem bolhas ou deixem a pele aberta.
5. Convulsões: principalmente se estes episódios forem repentinos e prolongados.
6. Dificuldade respiratória: quando há uma grande dificuldade em respirar.
7. Dor intensa: quando há uma dor aguda e súbita, especialmente na região abdominal ou no peito.
8. Perda de consciência ou desmaios prolongados: quando dura mais do que alguns segundos e a pessoa não recupera a consciência rapidamente.
9. Sinais de AVC: fraqueza ou paralisia num dos lados do corpo, dificuldade em falar, perda de parcial ou total de visão e falta de equilíbrio.
10. Gravidez: dor abdominal acompanhada de tonturas, sangramento intenso ou outros sinais como confusão, agitação ou falta de oxigénio.
11. Reações alérgicas graves (anafilaxia): inchaço da língua, garganta e/ou lábios, acompanhado de dificuldade em respirar.
Outras situações, sendo menos urgentes e não existindo risco de vida, podem necessitar de observação imediata. Alguns exemplos:
1. Entorses ou distensões musculares;
2. Dores ligeiras: seja de cabeça, garganta, barriga, etc.;
3. Pequenas hemorragias e cortes;
4. Tosse persistente;
5. Febre;
6. Náuseas, diarreia ou vómitos alimentares;
7. Comichão ou alteração na pele;
8. Alteração da pressão arterial sem outros sintomas.
Como é determinado o nível de emergência?
O nível de emergência é determinado na chegada ao hospital, geralmente através de uma triagem realizada por um enfermeiro. Durante este processo, são analisados o historial clínico, os sintomas e alguns sinais vitais do doente. Com base nessas avaliações, os serviços estabelecem prioridades de atendimento, assegurando que os doentes com condições mais graves são atendidos primeiro.
Em Portugal, o protocolo de triagem utilizado é o Protocolo de Manchester, um sistema que classifica a urgência em cinco cores, com base em diversos critérios e discriminadores. Este protocolo também define os tempos de espera ideais para cada situação, garantindo que os pacientes recebam o atendimento adequado de acordo com a gravidade dos seus sintomas.
- Vermelho: emergência, necessita de atendimento imediato (tempo espera: 0 minutos).
- Laranja: muito urgente, necessita de atendimento praticamente imediato (tempo de espera: 10 minutos).
- Amarelo: urgente, necessita de atendimento rápido, mas pode aguardar (tempo de espera: 60 minutos).
- Verde: pouco urgente, pode aguardar pelo atendimento ou ser encaminhado para outros serviços de saúde (tempo de espera: 120 minutos).
- Azul: não urgente, pode aguardar pelo atendimento ou ser encaminhado para outros serviços de saúde (tempo de espera: 240 minutos).
O que fazer se não tiver a certeza de como agir?
É natural que perante a existência de alguns sintomas e sem a perceção da sua gravidade, surjam dúvidas sobre a melhor forma de agir.
- Ligue para a linha 112 perante uma situação grave ou de risco de vida.
- Ligue para o SNS 24 – 808 24 24 24 – perante um problema de saúde não emergente ou contacte a Linha de Saúde Lusíadas (21 770 41 16). Este é um serviço gratuito de avaliação clínica por telefone, realizado por enfermeiros qualificados e experientes, disponível todos os dias, das 8h às 24h.
Após a avaliação inicial, a equipa de enfermagem irá encaminhá-lo para o canal de atendimento mais adequado à sua situação clínica:
- Unidades de Atendimento Urgente
- Consultas sem Marcação
- Teleconsulta SOS Adultos
- Atividade Programada: Consultas ou Teleconsulta de Especialidade
- Indicação para autocuidados
Lembre-se de que as urgências hospitalares devem ser utilizadas apenas em situações de verdadeira necessidade. Sempre que possível, recorra às alternativas disponíveis, contribuindo para um atendimento mais eficiente e seguro para todos. Este pequeno gesto pode ter um grande impacto e ajudar a salvar vidas.
Colaboração da Dra. Sofia Lourenço, Coordenadora da Unidade de Atendimento Urgente de adultos do Hospital Lusíadas Lisboa