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Angiologia e Cirurgia Vascular: principais áreas de intervenção

Colaboração
Em Portugal, as doenças cardiovasculares continuam a ser a principal causa de morte, representando um terço de todos os óbitos no país, sendo também uma das principais causas de incapacidade e hospitalizações.

Ao falar de doenças cardiovasculares é necessário ter em conta que não são só as causas cardíacas que estão envolvidas nestes números.

A aterosclerose, principal fator que leva a esta alta mortalidade, é uma doença multisegmentar e generalizada e que atinge todas as artérias do corpo. Também várias situações do âmbito da patologia venosa podem causar mortes súbitas, o que faz com que o papel da Angiologia e Cirurgia Vascular se tenha tornado cada vez mais importante.

A medicina tem feito progressos significativos neste campo, tanto no que diz respeito ao diagnóstico como ao tratamento destas situações, passando dos métodos abertos (cirúrgicos clássicos), para os tratamentos feitos através de cateteres (tratamentos endovasculares) que atualmente são, sem sombra de dúvida, os preferidos para estas doenças. Tal deve-se ao facto de serem muito menos invasivos, praticados em cirurgia de ambulatório e com muito menos mortalidade.

Os Hospitais e Clínicas Lusíadas têm ao seu dispor profissionais de excelência e com vários anos de experiência no diagnóstico e tratamento das doenças do sistema circulatório, apoiados pelos meios tecnológicos mais modernos e sofisticados.

O que é Angiologia e Cirurgia Vascular?

Angiologia e Cirurgia Vascular é uma especialidade médico/cirúrgica que visa prevenir, diagnosticar, tratar (de forma médica, endovascular ou cirúrgica) e fazer o acompanhamento do doente afetado por doenças do sistema vascular (ou circulatório). Este sistema é responsável pela circulação e dele fazem parte as artérias (transportam o sangue para os vários órgãos), as veias (responsáveis pelo retorno venoso) e os vasos linfáticos (a linfa ajuda também no retorno venoso).

É bastante comum os especialistas nesta área escolherem uma abordagem multidisciplinar, como ocorre em todas Unidades Vasculares do grupo Lusíadas, com inter-relação com especialidades como a Cardiologia, a Imagiologia, a Fisiatria, a Neurologia, a Cirurgia Plástica e outras. É, pois, uma especialidade transversal, na medida em que a circulação abrange todas as partes do corpo.

Quais são as doenças mais comuns do sistema vascular?

Uma doença do sistema vascular é sinónimo de que existe algo que está a impedir a boa circulação do sangue pelo corpo, ou seja, algo que está a funcionar mal. Algumas das doenças mais comuns são:

Do Foro Arterial

  • Doença carotídea: Obstrução ou libertação de pequenas placas das artérias carótidas que levam o sangue ao cérebro, podendo causar Acidentes Vasculares Cerebrais (AVC) e cujo tratamento pode prevenir este quadro.
  • Doença Arterial Periférica: Resulta na maioria das vezes na obstrução das artérias que levam o sangue para os membros inferiores. São situações especialmente importante no diabético onde o risco de amputação é muito acentuado.
  • Doença Aneurismática da Aorta Abdominal, da Aorta Torácica e Aneurismas Periféricos:  Consiste na dilatação permanente das artérias em vários sectores do corpo. O crescimento destas dilatações leva à sua rotura, sendo esta especialmente relevante nos aneurismas a nível da aorta abdominal, onde podem originar um alto risco de morte.
  • Traumatismos vasculares: Lesões traumáticas dos vasos sanguíneos que têm de ser resolvidas com urgência, a fim de evitar hemorragias marcadas ou mesmo a perda de membros.

Do Foro Venoso

  • Varizes ou Doença Venosa Crónica: resulta de deficiente mecanismo de retorno do sangue por falência de um sistema de transporte valvular. Têm de ser tratadas pois são múltiplas as complicações que podem originar desde a rotura, às úlceras e à formação de coágulos no sistema venoso superficial e profundo.
  • Tromboses Venosas Profundas e Superficiais (Tromboflebite): mais frequentes nos membros inferiores e mais graves se estiverem envolvidas as veias profundas. Existem pessoas com uma maior predisposição genética para formação de coágulos, e claro pode também o seu aparecimento ser a primeira manifestação de múltiplas patologias que precisam de ser diagnosticadas.
  • Síndrome de congestão pélvica: mau funcionamento e consequente dilatação das veias da zona pélvica nomeadamente das veias ováricas. Normalmente surge em mulheres com idades entre os 20 e os 50 anos sendo uma das principais causas de dores pélvicas crónicas muitas vezes não diagnosticadas. A colaboração com a Ginecologia é fundamental para o sucesso destes tratamentos.

Foro Linfático

  • Linfedemas: doenças que podem ser primárias ou seja de nascença, ou secundárias a muitas situações das quais se destacam as doenças do foro oncológico, ou aos inerentes tratamentos nomeadamente a radioterapia. Atualmente o diagnóstico desta situação é vascular, mas a maioria dos tratamentos são realizados em conjugação com a Fisiatria e nalguns casos particulares com a Cirurgia Plástica e Reconstrutiva.

Como é feito o diagnóstico destas doenças?

Os principais meios de diagnóstico são:

  • Índice Tornozelo-Braço: Consiste na medida da pressão arterial sistólica (“máxima”) nos tornozelos e nos braços, através de um aparelho “Doppler”, e na elaboração do quociente entre as duas medidas obtidas, o que permite confirmar ou afastar a hipótese de uma doença do foro arterial.
  • Angiodinografia (Ecodoppler): Sem dúvida o método de eleição, pelo que a grande maioria dos gabinetes de consulta das Unidades Lusíadas estão equipados com um aparelho deste tipo,  que permite que o doente saia da consulta já com um diagnóstico preciso da sua situação. Consiste em criar uma imagem combinada através de uma ecografia tradicional e Doppler espectral. A ecografia usa ultrassons para gerar imagens dos tecidos do corpo, enquanto o Doppler espectral mede a velocidade do fluxo sanguíneo utilizando ultrassons de alta frequência.
  • Tomografia Computorizada (TAC): Permite obter imagens do interior do corpo humano, utilizando raios X. Para visualizar as estruturas vasculares, é necessário injetar numa veia periférica, um produto de contraste que contém iodo, obtendo-se um Angio-TAC. Este exame é geralmente utilizado para o diagnóstico de uma doença vascular, para o planeamento de uma intervenção cirúrgica ou para o acompanhamento e evolução de uma doença nomeadamente a nível aórtico.
  • Ressonância Magnética: Também pode ser utilizada com a adição de contraste, permitindo um grande detalhe morfológico e funcional. No entanto, o doente permanece completamente imóvel durante algum tempo, numa câmara que atualmente já é mais aberta que nos primeiros aparelhos, mas por vezes causa algum desconforto. Contudo pode fornecer dados importantes.
  • Angiografia: Exame de diagnóstico que tem como objetivo visualizar o estado dos vasos sanguíneos através da punção de uma artéria ou veia. Insere-se um cateter até à região ou órgão que se quer averiguar, e simultaneamente administra-se o contraste e assim obtém-se uma visualização correta do vaso ou área a estudar. É através destes cateteres que posteriormente se realiza a maioria das terapêuticas que passam pela desobstrução do vaso lesado com colocações de stents até, noutras áreas, à embolização de veias anómalas.

Fatores de risco e prevenção

Os principais fatores de risco para uma doença do sistema circulatório sobretudo as de origem aterosclerótica (foro arterial) são:

  • - Ter mais de 50 anos;
  • Fumar;
  • Diabetes;
  • Histórico familiar de doença vascular;
  • Hipertensão;
  • Altos níveis de colesterol ou triglicerídeos no sangue;
  • Falta de atividade física;
  • Consumo excessivo de álcool; 
  • Obesidade;
  • Stress.

Apesar de haver fatores que não conseguimos controlar, como a idade ou o histórico familiar, algumas mudanças no estilo de vida podem contribuir para uma melhor saúde vascular e ajudar a prevenir uma doença deste foro. 

Assim, destaca-se:

  • Ter uma alimentação saudável e equilibrada;
  • Praticar exercício físico regularmente; 
  • Deixar de fumar;
  • Moderar o consumo de álcool; 
  • E talvez a mais importante: fazer check-ups anuais, principalmente se existir histórico familiar ou ter fatores de risco. Muitas pessoas podem ter problemas sem saber. Os exames vão permitir identificar problemas precocemente e, quem sabe, torná-los menos graves.

Quais os tratamentos disponíveis?

Todos os tratamentos estão dependentes do tipo de doença e da sua gravidade. No entanto, de forma geral poderemos dizer que existem alguns tratamentos considerados “standard” nesta especialidade:

Medicamentosos 

  • Anticoagulantes e antiagregantes: usados para tratar e prevenir coágulos sanguíneos;
  • Medicamentos para a Pressão Arterial e Colesterol: ajudam a controlar fatores de risco que contribuem para doenças arteriais.

Procedimentos Cirúrgicos Minimamente Invasivos

Foro arterial

  • Angioplastia e Stents: Como já falámos os mais utilizados. 
    Através de controlo radiológico é introduzido uma espécie de balão na artéria ou veia obstruída, que é insuflado para a abrir empurrando o seu conteúdo contra a parede do vaso. Normalmente, utiliza-se posteriormente um stent (rede ou malha metálica) para manter a artéria ou veia aberta; 
  • Endopróteses: são utilizadas sobretudo para o tratamento dos aneurismas da aorta abdominal que atualmente são possíveis de realizar como qualquer cateterismo por via percutânea, ou seja, somente com uma picada na virilha com anestesia local ou com sedação.

Foro Venoso

  • Trombólise Dirigida por Cateter: Medicamentos administrados diretamente nos coágulos para os dissolver, através de um cateter. Podem ser usados nas tromboses venosas profundas muito extensas ou nos tromboembolismos pulmonares.
  • Tratamento de varizes por ablação térmica endovenosa: A técnica mais utilizada para tratamento de qualquer tipo de varizes dos membros inferiores. Em vez da extração da veia como se procedia classicamente, usa-se o calor produzido por um cateter de laser ou de radiofrequência que origina que estas veias anómalas, fiquem colapsadas permitindo assim que o fluxo sanguíneo passe para veias saudáveis; são métodos pouco invasivos realizados em ambulatório com pós-operatórios mínimos em termos de incapacidade laboral.
  • Meias de Compressão: ajudam a prevenir o acúmulo de sangue nas pernas, sendo úteis para varizes e insuficiência venosa crônica sobretudo nas fases mais avançadas da doença.
  • Escleroterapia: Atualmente, a escleroterapia permite tratar múltiplas formas de doença venosa sobretudo com a utilização de espuma associada à visualização dos vasos por ultrassons (esclerose ecoguiada). Consiste na injeção de um líquido ou uma espuma em veias anómalas, o que faz com que fiquem colapsadas e ocluam, passando o sangue a circular pelos trajetos normais.

Procedimentos Cirúrgicos clássicos

  • “Bypass”: Por vezes é necessário a utilização de cirurgia clássica. Através de um enxerto vascular, é criada uma rota alternativa para o fluxo sanguíneo passar ao lado da artéria bloqueada, ou seja, usando uma veia do próprio doente ou um conduto sintético alternativo é criada uma derivação que permite ultrapassar o vaso ocluído.
  • Endarterectomia Carotídea: Remoção de placas das artérias carótidas para prevenir Acidentes Vasculares Cerebrais (AVC) é ainda a forma mais usada e mais vantajosa em termos de risco benefício no tratamento deste setor. Em casos selecionados também podem ser usados stents.
  • Reparação de Aneurismas: Cirurgias abertas clássicas para reparar aneurismas na aorta ou em outras artérias por exemplo a nível poplíteo (atrás do joelho) podem ser usadas sobretudo em doentes jovens de baixo risco cirúrgico.


A Lusíadas Saúde procura proporcionar aos seus doentes o melhor cuidado possível, para que se sintam sempre em boas mãos.
 

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Revisão Científica

Dr. Pereira Albino

Dr. Pereira Albino

Coordenador da Unidade de Cirurgia Vascular

Hospital Lusíadas Lisboa
Hospital Lusíadas Amadora
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