Como se trata a endocardite
A endocardite é uma infeção da camada mais interna do coração, o endocárdio, que normalmente ocorre quando uma bactéria entra na corrente sanguínea através, por exemplo, da boca ou do intestino, e acaba por chegar até ao coração. “Essa bactéria vai infetar esta camada mais interna, camada esta que inclui as válvulas do coração, e que são as estruturas mais frequentemente afetadas”, explica Mariana Santos Castro, especialista no Centro de Cardiologia de Lisboa do Hospital Lusíadas Lisboa.
Sintomas
Os sintomas da endocardite podem aparecer de forma abrupta ou mais gradual.
As principais manifestações são:
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Febre
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Cansaço
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Dores musculares e/ou nas articulações
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Perda de apetite e emagrecimento
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Aparecimento de petéquias ou nódulos subcutâneos dolorosos nos membros
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No caso de haver disfunção valvular, muitas vezes, isto traduz-se num sopro cardíaco, previamente desconhecido, e em alguns sintomas de insuficiência cardíaca, como a falta de ar, cansaço e edemas
A lesão mais característica é um coágulo infetado formado por bactérias, plaquetas e fibrina — também chamado de vegetação — que se localiza, com frequência, nas superfícies das válvulas cardíacas e das próteses valvulares, no caso de doentes operados. “As válvulas lesadas ou próteses valvulares são estruturas onde mais facilmente se formam estas vegetações, sendo rara a endocardite em corações estruturalmente normais”, esclarece a médica, acrescentando: “Também é possível a embolização periférica da vegetação ou de fragmentos, e aí as manifestações podem ser AVC, isquemia periférica dos membros ou, por exemplo, isquemia intestinal.”
Muitas vezes, a suspeita de endocardite vem pela persistência de sintomas, apesar do tratamento. “A febre persistente num doente com doença cardíaca estrutural deve sempre levantar este possível diagnóstico”, afirma.
O diagnóstico
O diagnóstico de endocardite é feito com base em vários critérios, que incluem, além dos sintomas já identificados, a presença de um microrganismo (bactéria ou fungo) no sangue. Mas é com o ecocardiograma que se consegue identificar as vegetações, a presença de complicações como fístulas ou abcessos peri-valvulares, permitindo também classificar o tipo e grau de disfunção valvular. “Na grande maioria dos casos, é necessário o ecocardiograma transesofágico, por ser feito com uma sonda que se aproxima mais do coração e vê melhor as válvulas mais frequentemente afetadas (válvula aórtica e mitral)”, afirma.
Para confirmar a presença e identificar o agente causador da endocardite, “são precisas hemoculturas, exames microbiológicos do sangue em que se consegue identificar qual é a bactéria ou fungo responsável pela infeção, e também perceber qual é o melhor antibiótico para a tratar”.
A endocardite marântica (não infecciosa)
A endocardite marântica não resulta da infeção por um microrganismo, mas está associada a doenças autoimunes, e refere-se à formação de trombos estéreis de plaqueta e fibrina nas válvulas cardíacas e no endocárdio. “Nós chamamos endocardite, mas não é uma infeção. Chamamos endocardite porque a manifestação é muito semelhante às endocardites infecciosas”, explica.
Neste caso, os sintomas são ligeiramente diferentes, são os sintomas da doença autoimune ou os associados à disfunção valvular que as vegetações provocam.
Tratamento
A primeira linha de tratamento da endocardite infecciosa será sempre através de antibiótico, idealmente dirigido ao microrganismo identificado. “A duração da toma é longa — pelo menos quatro e, muitas vezes, seis semanas”, diz.
Em alguns casos, pode haver indicação para cirurgia, pela gravidade da disfunção valvular, presença de complicações locais, vegetações grandes (com maior risco de embolização) ou no caso de embolização periférica. “Se houver evidência de embolização periférica, pode ser um sinal de que tem de se retirar aquela vegetação, limpar, e, às vezes, até substituir as válvulas afetadas”, esclarece.
Prevenção
Tratando-se de uma infeção que afeta, sobretudo, pessoas já com lesões valvulares, há alguma prevenção a fazer. “Nós sabemos que as pessoas que têm lesões valvulares significativas ou próteses têm maior suscetibilidade a poderem fazer uma endocardite e, por isso, a maioria destes doentes tem indicação para fazer profilaxia da endocardite, quando submetidos a tratamentos dentários, colonoscopias ou endoscopias”, diz a médica.
Por outro lado, no caso de pessoas sem alterações estruturais no coração, o que há a fazer é garantir “uma higiene oral adequada, evitar as infeções da pele e, quando essas acontecem, tratar de imediato”. No fundo, deve evitar-se e tratar-se sempre as possíveis portas de entrada para uma infeção no sangue.