8 conselhos para evitar o pé diabético
Consequências da diabetes
A hiperglicemia persistente, que caracteriza a diabetes, provoca um distúrbio metabólico que pode ter consequências graves ao nível dos olhos (retinopatia), dos rins (insuficiência renal), e sobretudo dos pés (pé diabético), principais vítimas da degeneração dos vasos sanguíneos (vasculopatia) e dos nervos (neuropatia).
A diabetes afeta um milhão de portugueses. A prevalência da doença em Portugal está estimada em 13,1%, embora se saiba também que, de entre estas pessoas, só cerca de metade (7,4%) sabe que tem a doença.
A neuropatia
De acordo com um trabalho apresentado pelo Prof. Dr. Armando Mansilha, especialista em Angiologia e Cirurgia Vascular e professor na Faculdade de Medicina do Porto, as pessoas com diabetes têm um risco aumentado de amputação, 15 a 30 vezes comparado com os não diabéticos.
No momento em que a diabetes é detetada, 13% das pessoas revelam já sintomas de neuropatia e, uma década depois, o número cresce para 50%. A falta de sensibilidade, resultante da destruição do sistema nervoso, faz-se sentir sobretudo nos pés. Os sinais de alerta de neuropatia são vários:
- Sensação de formigueiro;
- Perda da sensibilidade local;
- Dores;
- Ardor nos pés e nas pernas;
- Sensação de picada;
- Dormência e fraqueza nas pernas.
O pé diabético
Os pés são uma espécie de “calcanhar de Aquiles” dos diabéticos. Sabe-se que 12 a 25% das pessoas com diabetes desenvolvem, ao longo da vida, lesões tróficas (úlceras ou gangrena) nos membros inferiores. E isto acontece por vários motivos:
- Os pés sustentam o peso do corpo, o que significa que estão sob uma pressão constante;
- Têm uma mecânica, ao nível da parte óssea, muito complicada, tendencialmente suscetível ao desenvolvimento de deformações;
- São uma zona muito exposta e, por isso, sujeita a traumatismos vários.
Pé diabético neuropático
Se a pessoa apresenta falta de sensibilidade no pé, isso torna-a mais vulnerável. Não sente a dor de uma “bolha” provocada por um sapato que magoa, ou do panarício na unha, e portanto não é alertado pelo ardor quando surge numa micose entre os dedos do pé.
Pé diabético com doença arterial periférica
A situação agrava-se ainda mais quando, além da neuropatia, existe doença vascular periférica. O efeito da hiperglicemia persistente ao nível das artérias resulta numa calcificação e posterior oclusão.
É da máxima importância corrigir fatores de risco, ou seja o controlo rigoroso da glicemia, uma dieta equilibrada, controlo da hipertensão arterial e da hipercolesterolemia, deixar de fumar e fazer uma vigilância rigorosa e regular dos pés.
Tratamento do pé diabético com doença arterial periférica
Quando a lesão progride, o tratamento pode implicar uma cirurgia reconstrutiva convencional (bypass) ou endovascular, que consiste na desobstrução da artéria lesada através da dilatação com um balão (angioplastia) e/ou colocação de um stent, (minúsculo tubo de metal, expansível e em forma de malha) — diferentes procedimentos que têm sempre como objetivo vascularizar o membro para permitir a cicatrização.
Nos casos mais severos, porém, os médicos têm como única opção a amputação, nas suas várias dimensões:
- Minor (excisão de um ou vários dedos);
- Major (resseção do pé ou da perna, que pode chegar a incluir a zona da coxa).
Prevenir o pé diabético
Em 2014, os problemas relacionados com o pé diabético motivaram 1863 ocorrências hospitalares (menos 141 do que no ano anterior) e obrigaram à realização de 1385 amputações, um número igualmente inferior às 1556 intervenções de 2013.
Os dados constam do Relatório Anual do Observatório Nacional da Diabetes (OND) e permitem confirmar que, apesar da dura realidade, no que diz respeito ao pé diabético, a situação em Portugal tem vindo a melhorar.
Essa é também a leitura que faz Maria Teresa Vieira, especialista em cirurgia vascular do Hospital Lusíadas Lisboa, que lembra existir hoje mais informação, um melhor acesso a cuidados de saúde e profissionais com formação específica na área da diabetes, o que favorece o diagnóstico precoce e a prevenção das complicações associadas à doença, nomeadamente o pé diabético.
Conselhos úteis
Seguir uma dieta equilibrada, não fumar, avaliar a taxa de glicemia regularmente, bem como os níveis de gorduras no sangue, através de análises, é essencial para prevenir todas complicações que possam resultar da diabetes.
No mesmo sentido, é ainda importante proceder a uma vigilância periódica aos órgãos mais sensíveis (olhos, rins, coração e pé). Mas a prevenção do pé diabético passa ainda por outros cuidados. A saber:
1. Examinar os pés diariamente
Todos os dias, ou pelo menos uma vez por semana, examine os pés num lugar bem iluminado e verifique a existência de qualquer lesão: cortes, calos, bolhas, micoses, fissuras, feridas ou alterações de cor.
2. Usar água morna
Mantenha os pés sempre limpos e use sempre água morna, para evitar queimaduras. A falta de sensibilidade característica da neuropatia interfere com a avaliação da temperatura e, por isso, este é um risco a evitar. No final, limpe os pés com uma toalha macia e gestos suaves, sem esfregar.
3. Hidrate a pele
Mantenha a pele hidratada, mas evitando aplicar creme nas zonas entre os dedos dos pés ou à volta das unhas. A humidade favorece a multiplicação de microrganismos e ajuda ao desenvolvimento de infeções.
4. Usar materiais naturais
Use meias sem costura ou elásticos fortes e sempre em materiais naturais, como o algodão ou lã, porque as fibras sintéticas favorecem as altas temperaturas e o suor.
5. Cuidado a cortar as unhas
Corte as unhas com instrumentos apropriados ou com uma tesoura de ponta arredondada, sempre a direito e com os cantos arredondados, sem retirar as cutículas. Idas à manicure ou pedicure são de evitar — calos e outros problemas devem ser tratados por um podologista.
6. Consulte um médico
Nunca deve cortar calos ou usar loções abrasivas para tratá-los, em casa, sem uma prévia avaliação médica da situação.
7. Proteja sempre os pés
Mantenha os pés protegidos, mesmo na praia e na piscina. Mais uma vez, a falta de sensibilidade decorrente da neuropatia faz aumentar o perigo de feridas ou lesões.
8. Atenção ao calçado
Evite sapatos abertos, apertados, de material sintético ou de salto com ponta fina. Sapatos fechados, macios e sem costuras são recomendados para pessoas com diabetes.
Caso a pessoa revele deformações ósseas nos pés, o ideal será mesmo recorrer a sapatos adaptados, feitos “à medida” por um técnico de ortótose.