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Passar uma aliança no olho faz desaparecer um terçolho?

Colaboração
Os abcessos resultantes de inflamações das glândulas sebáceas das pálpebras reagem ao calor e isso tem feito perpetuar diversas crenças relacionadas com a cura pela passagem local de objetos de metal quentes, explica Jorge Palmares, médico oftalmologista do Hospital Lusíadas Porto.

Inflamações da pálpebra

As pálpebras são uma barreira mecânica protetora do globo ocular. Têm na sua estrutura diversas glândulas sebáceas e mucosas, cujas secreções são fundamentais na composição das lágrimas que lubrificam e protegem a superfície ocular externa. O terçolho, ou terçol, a que os clínicos chamam hordéolo externo, é uma inflamação aguda das glândulas sebáceas palpebrais e dos folículos ciliares, associados às pestanas.

O bloqueio de uma ou mais glândulas que se encontram no bordo e na espessura da pálpebra origina um pequeno abcesso, palpável, às vezes doloroso, na sequência da infeção causada pela bactéria Staphylococcus aureus. Os hordéolos externos são os mais frequentes, duram uma a três semanas e podem drenar espontaneamente, com alívio da dor.

O hordéolo interno é causado pela infeção bacteriana das glândulas sebáceas que existem no interior das pálpebras (glândulas de Meibomius) e que são responsáveis pelo conteúdo lipídico do filme lacrimal, impedindo a sua evaporação. Este líquido é essencial para manter os olhos lubrificados, nutridos e livres de infeções e quando estas glândulas ficam obstruídas originam o chamado chalázio, ou calázio, uma espécie de abcesso interno. O problema tem uma evolução mais crónica e mais profunda, podendo arrastar-se por várias semanas e exigir tratamento cirúrgico. 

Terçolho: o que está em causa

Sintomas

O terçolho pode provocar dor, lacrimejo, fotofobia, prurido, sensação de corpo estranho e sensibilidade na margem palpebral, acompanhada pela formação de um pequeno caroço ou nódulo, com um ponto amarelado no centro e com edema palpebral localizado ou difuso.

Fatores de risco

Os terçolhos e chalázios são bastante comuns em pessoas com inflamação crónica das pálpebras (blefarite), que se caracteriza por uma secreção gordurosa nas pestanas, semelhante a caspa. A disfunção das glândulas oleosas pode provocar alteração nas colónias bacterianas que normalmente habitam na pele.

Além da blefarite crónica, são também fatores de risco, a acne, a dermatite seborreica e a rosácea. Os adolescentes têm mais hordéolos e chalázios devido à variação hormonal que influencia a produção de gordura, mas estes abcessos podem surgir em todas as idades.

Prevenção

Uma boa higiene das mãos, o uso adequado de lentes de contacto e dos cosméticos ajudam a prevenir a inflamação/infeção. Os hordéolos não são contagiosos.

Tratamento

Os hordéolos, internos ou externos, podem drenar, sem ser espremidos, e evoluir espontaneamente entre uma e três semanas, ou serem tratados de forma mais rápida. Muitas pessoas recomendam aquecer uma aliança ou uma moeda e aplicar sobre o abcesso para uma maior eficácia.

O mito tem resistido à passagem do tempo, provavelmente por permitir obter resultados positivos, em alguns casos, já que o calor local é a base do tratamento. Mas a mezinha não é de todo aconselhada pelos médicos. Usar a aliança pode queimar a pele e o uso de compressas mornas consegue um melhor efeito.

Para fazer desaparecer o terçolho, a recomendação clínica é aplicar compressas embebidas em água morna, duas a quatro vezes por dia (10 minutos de cada vez), de modo a liquefazer as secreções e facilitar a drenagem do produto sebáceo através do orifício da glândula. Há até no mercado toalhetes especiais, esterilizados e pré-impregnados com ácido hialurónico e seborreguladores, para a desinfeção apropriada das pálpebras.

A aplicação de pomada oftálmica de antibiótico, com anti-inflamatório associado para acelerar o processo de cura, pode por vezes ser necessária e, nos terçolhos internos, como a infeção é profunda, o tratamento tópico pode também ser complementado com antibioterapia oral. No calázio crónico pode ser necessário fazer uma drenagem cirúrgica, com anestesia local.

Em suma

A aplicação de calor local é a base do tratamento, mas os médicos recomendam o uso de compressas mornas, não só para evitar queimar a pele, como também para obter um melhor resultado.

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Revisão Científica

Dr. Jorge Palmares

Dr. Jorge Palmares

Hospital Lusíadas Porto

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