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Endodontia: o que é uma desvitalização dentária?

Cáries ou traumatismos são fenómenos que podem levar à desvitalização do dente.

A desvitalização dentária é uma prática muito comum na área de Medicina Dentária, ao contribuir para salvaguardar os dentes quando infeções bacterianas (cáries), traumatismos e outras situações atingem a região dos nervos do dente. Este procedimento é feito por especialistas em endodontia. 

“A endodontia é uma área de diferenciação na medicina dentária, responsável pelo estudo da polpa dentária, dos canais radiculares e dos tecidos periapicais, ou seja, dos tecidos em torno do dente”, explica Joana Soares da Costa, médica dentista, com uma especialização na área de endodontia, e Coordenadora da Unidade de Medicina Dentária do Hospital Lusíadas Porto e Clínica Lusíadas Gaia


O que é a polpa dentária

A polpa dentária é uma região dentro do dente preenchida por tecido vivo, irrigada por vasos sanguíneos e que contém nervos. “É o que nos dá a sensibilidade ao frio e ao quente”, acrescenta a especialista. A polpa dentária forma também os canais radiculares, que se estendem até à raiz do dente, onde estão inseridos os nervos e os capilares sanguíneos que se conectam com o sistema nervoso e sanguíneo do resto do organismo. 

“Quando há alguma questão na polpa dentária, seja uma cárie ou um traumatismo no dente, pode haver a necessidade da desvitalização. O que fazemos é remover a polpa dentária e substituir com um material que é compatível com o organismo”, resume. Sempre que há problemas a nível da polpa dentária, entra em ação a endodontia. 


4 causas para a desvitalização de um dente 

Cárie dentária que atinge a polpa do dente 

A cárie é a situação mais comum que obriga à desvitalização do dente. “Se temos uma cárie que não é tratada atempadamente, as bactérias atravessam o dente, atingem o nervo do dente e vão causar inflamação. É esta inflamação que provoca a conhecida dor de dentes, que é das dores mais agudas que existe”, diz a médica dentista. 

Não existe um tratamento que elimine as bactérias, deixando a polpa dentária intacta. Por isso, a melhor opção é a desvitalização 

Traumatismo na dentição 

Também se recorre à desvitalização quando ocorre um acidente que produz um traumatismo nos dentes e expõe a polpa dentária: o dente parte e o nervo fica exposto. Nesse caso, é preciso retirar este tecido, desvitalizando o dente, para depois se proceder à sua reconstrução. 

Há casos em que o nervo não é exposto, mas “o traumatismo é tão agressivo que, passado um tempo, o nervo do dente morre, porque perde a vascularização.” Tem, por este motivo, de ser desvitalizado. 

A periodontite

A periodontite é outra das situações que leva à desvitalização. Esta que é uma infeção que ocorre quando as bactérias se acumulam nos tecidos de suporte do dente, ou seja, a gengiva e osso. 

Quando acontece, para se defender dessas bactérias, o organismo acaba por se autodestruir, levando a uma perda óssea e gengival, fazendo com que os dentes comecem a abanar. 

“Nestas situações, as bactérias podem ir pela zona óssea e raiz do dente até atingirem o nervo do dente, levando à necessidade da desvitalização. Mas aí já é um tratamento que é complementar entre a endodontia e a periodontologia”, explica Joana Soares da Costa. 

Uma nova desvitalização

Quando a desvitalização falha e retorna a infeção bacteriana nos canais radiculares, existindo necessidade de realização de uma nova desvitalização.

Sinais de alerta

Nos casos em que a infeção bacteriana da polpa dentária provoca uma dor aguda agressiva, o indivíduo está perante uma pulpite irreversível, para o qual o único tratamento efetivo é a desvitalização imediata do dente. Noutros casos, a dor pode ser bastante mais ténue e fazer com que acabe por adiar uma consulta médica. A longo prazo, o que pode acontecer é o aparecimento de um abcesso, um sinal de que o nervo já morreu devido à infeção. 

“Quando um nervo de um dente morre e nada se faz, as bactérias alimentam-se do resto do nervo e vão evoluindo pelo interior do dente até chegar à raiz, criando um abcesso”, explica Joana Soares da Costa. 

Também neste caso a desvitalização é o tratamento adequado. Para evitar este cenário, é importante estar atento a outros sinais de alerta como sensações agressivas no dente devido a variações de temperatura, dor latejante à noite ou dor durante a mastigação de alimentos. 


Como se faz a desvitalização   

“A desvitalização é a remoção do nervo e a parte vascularizada do interior do dente. O dente permanece inserido no osso, mas deixa de ser uma parte viva”, informa a médica dentista. “A maioria dos dentes desvitalizados têm que ser reabilitados com coroas de forma fixa para permitir que tenha uma viabilidade de longo prazo.” 

Há dois tipos de tratamentos endodônticos para se realizar uma desvitalização: o tratamento cirúrgico e o não-cirúrgico. 

O tratamento não-cirúrgico realiza-se a partir da coroa do dente, na parte oclusal (a região do dente que macera os alimentos) onde, fazendo um pequeno furo, o profissional acede ao interior do dente, utilizando “ligas específicas com o objetivo de remover o nervo e todas as bactérias que estão no interior dos canais”, descreve a médica dentista. “Usamos irrigantes específicos para desinfectar e garantir que estamos a matar essas bactérias e um material para preencher o interior dos canais e garantir que ali não voltam a crescer novas bactérias”, acrescenta. 

Nos casos em que a coroa dentária não é a melhor opção para aceder à polpa – quando, por exemplo, o indivíduo tem uma coroa artificial que não deve ser removida – recorre-se à cirurgia. “Descola-se a gengiva, abre-se um buraquinho no osso para se aceder à raiz, fazendo-se a desvitalização pelo fim do dente”, explica Joana Soares da Costa. 

A desvitalização não é, regra geral, um procedimento doloroso, assegura a especialista: “O tratamento envolve anestesia. Por norma, o paciente quando vem fazer uma desvitalização, vem com muita dor, mas a dor é resolvida de imediato. Já se deixar alongar até uma situação muito aguda — a pulpite —, pode ser necessário dar uma anestesia diretamente no nervo.”  

Vantagens da desvitalização

 A desvitalização é um procedimento que evita recorrer à colocação de um implante. “Nós, dentistas, consideramos o implante a última opção. Deve-se sempre tentar salvar um dente com uma cárie extensa ou um abcesso através do tratamento endodôntico. Desta forma, durante, pelo menos, mais 10, 15, 20 anos, o dente vai manter-se na boca, evitando a sua perda”, afirma a especialista. 

Além de ser uma técnica mais cara do que uma desvitalização, a colocação de um implante pode levantar alguns problemas em pessoas fumadoras ou com doenças como a diabetes. Nestas situações, existe uma maior probabilidade de rejeição do implante. Por outro lado, os implantes também podem sofrer doença periodontal – na região à volta do dente – ou traumatismos. Também a mastigação sobre um dente natural e a mastigação sobre um implante é diferente. O indivíduo perde a propriocepção com o implante, sendo mais desconfortável. 

“Se nos fosse possível atrasar a colocação de um implante, melhor. Estaríamos a deixar mais opções disponíveis para a pessoa ter a dentição completa durante toda a vida”, acrescenta a médica. E, deste modo, adiam-se os possíveis riscos de um implante e os aspetos negativos, como a diminuição da propriocepção. 


A desvitalização pode falhar? 

As hipóteses de falhar são reduzidas se o tratamento endodôntico for feito por um profissional competente, “seguindo todas as regras preconizadas — como o isolamento absoluto, que garante que a saliva não entra para o interior do dente”, destaca a médica-dentista. Pode haver, no entanto, uma perda significativa da estrutura do dente caso a cárie se tenha expandido muito. 

Ainda assim, a desvitalização pode falhar. Não por causa de uma falha clínica, mas pelo processo natural dos dentes. Ao longo do tempo, e com a mastigação, o dente reconstruído pode começar a desenvolver microfissuras. Se as bactérias penetrarem essas microfissuras, podem atingir de novo os canais radiculares, iniciando uma nova infeção. 

“Portanto, a desvitalização falha e teremos de a refazer. Por isso é que, consoante a perda inicial de estrutura, decidimos se colocamos uma coroa, que nos dá mais garantias de estabilidade, ou se optamos por uma reconstrução mais simples, que consiste em tapar com um compósito normal”, explica a especialista. 

Por último, Joana Soares da Costa desvenda um mito relacionado com os dentes desvitalizados: “As pessoas têm a crença de que um dente desvitalizado não volta a doer, nem volta a ter cárie. Mas um dente desvitalizado continua a ter o risco de ter uma cárie, se não for higienizado”, explica. “E se a desvitalização falhar, ou se a restauração partir e as bactérias voltarem a entrar para o interior do dente, vai surgir um abcesso, que provocará dor  nesse dente.” 


 

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Dra. Joana Soares da Costa

Dra. Joana Soares da Costa

Coordenador da Unidade de Medicina Dentária

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