Endometriose: o que é e sintomas frequentes
A endometriose afeta cerca de 10% das mulheres em idade fértil (15-40 anos) e a sua origem pode ser multifatorial. Joaquim Gonçalves, coordenador da Unidade de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital Lusíadas Porto, explica o que é esta doença.
O que é a endometriose?
É uma doença crónica que resulta da presença de tecido endometrial – a mucosa que reveste a parede interna do útero – fora da cavidade uterina (endométrio ectópico). No entanto, durante o ciclo menstrual comporta-se como se estivesse dentro do útero e as suas células, glândulas e vasos sanguíneos proliferam.
No cataménio (menstruação), o endométrio descamado é eliminado na forma de fluxo menstrual; em simultâneo o endométrio ectópico também descama nos diferentes locais onde se encontre, associando-se-lhe sintomas provocados por essa pequena hemorragia interna. Em 93% dos casos localiza-se na zona pélvica, ou perto, mas é possível encontrar nichos deste endométrio em outras localizações:
- Parede do útero;
- Trompas de Falópio;
- Ovários;
- Bexiga;
- Intestinos;
- Umbigo;
- Nariz;
- Pulmões.
Quais as causas?
Calcula-se que tenha diferentes causas, mas ainda é uma doença enigmática. Pode dever-se a:
- Refluxo do conteúdo menstrual (a "sementeira de células endometriais") o que explica a endometriose pélvica, mas não explica a endometriose nasal ou do reto;
- Parece haver uma componente genética: se a mãe e a tia têm, o mais provável é a mulher da geração seguinte também ter (em caso de irmãs gémeas, a doença manifesta-se em ambas);
- Disfunção do sistema imunitário; Tem uma disseminação por via hematológica (apesar de ser benigno, comporta-se como um tumor maligno).
Sintomas frequentes
Dores menstruais (dismenorreia)
- Dor pélvica crónica (há mais de 2 meses num ano);
- Dor relacionada com o período menstrual, mas que pode começar alguns dias antes deste e prolongar-se depois;
- Cãibras uterinas.
Dor durante o ato sexual (dispareunia profunda)
Fruto das aderências intra-abdominais, na penetração profunda há arrastamento do útero, o que provoca dor.
Perdas de sangue
- Antes da chegada do período menstrual, pode observar-se perdas de sangue;
- Menstruação abundante;
- Spotting – sangramento com uma coloração e consistência semelhante a chocolate.
Ocasionalmente surgem outros sintomas da endometriose:
- Problemas intestinais e urinários: retorragias (na defecação, não existem fezes, mas surge sangue) ou hematúria (urina com sangue);
- Náuseas;
- Saciedade precoce;
- Disquesia (dificuldade em evacuar);
- Disúria (desconforto ao urinar).
Estes sintomas podem, por vezes, sugerir doenças como a síndrome do intestino irritável e a doença inflamatória pélvica, dificultando um diagnóstico correto.
Como se diagnostica a endometriose?
A endometriose é diagnosticada tendo em conta a simultaneidade do fluxo menstrual com as queixas apresentadas, qualquer que seja o órgão afectado. É necessário ter em conta a história clínica, que deverá ser elucidativa, pois há uma tríade de sintomas a identificar.
A sua ocorrência cíclica, coincidente com o ciclo menstrual, permite fazer o diagnóstico. A suspeita de diagnóstico é essencialmente clínica e alicerçada no cortejo dos sintomas que lhe estão associados. Quando existe necessidade absoluta de diagnóstico pode haver necessidade de recurso a técnicas mais invasivas, normalmente cirúrgicas: laparoscopia por exemplo, e outros exames como colonoscopia.
O ideal é que a mulher seja observada cerca de 3 a 4 dias antes do período menstrual. Nessa altura, já se podem ver os nichos (chamados "olhos de perdiz"), prestes a descamar
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Laparoscopia:
É uma técnica que consiste em fazer pequenas perfurações, para fazer uma inspeção visual interna do órgão em causa com uma pequena câmara. Este método permite diagnosticar a endometriose em 70% das pacientes.
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Estudo histopatológico
Através de uma biópsia deste tecido endométrico ectópico efetuada sob observação direta, é possível confirmar em definitivo o diagnóstico de endometriose.
Qual a relação entre endometriose e infertilidade?
Uma vez que afeta cerca de 10% das mulheres em idade reprodutiva (15-40 anos), a endometriose influencia a fertilidade. Cerca de 60% das mulheres em reprodução medicamente assistida sofrem de endometriose. As aderências e o processo inflamatório decorrente de produção de prostaglandinas e citocinas pelo endométrio ectópico geram infertilidade por alteração da permeabilidade tubar e barreira à captação do óvulo. A infertilidade pode ser o resultado de:
- Alteração da função tubária;
- Diminuição da recetividade do endométrio;
- Desenvolvimento comprometido dos ovócitos e embrião;
- Fenómenos aderenciais ao nível das trompas.
Existe tratamento para a endometriose?
Apesar de não ter cura, a patologia pode ser controlada. Em pacientes que não pretendem engravidar, a pílula é um excelente método que irá contribuir para a atrofia do endométrio, diminuindo deste modo a progressão da doença e intensidade das queixas. Na mulher grávida a doença desaparece, reaparecendo um ano e meio depois.
Em alguns casos de endometriose do ovário, do septo retovaginal e de fenómenos aderenciais que possam gerar quadros suboclusivos, pode estar indicado o recurso à cirurgia laparoscópica. Os inibidores das prostaglandinas, como os anti-inflamatórios, são arma excelente para alívio da dor e desconforto pélvico.
Tome nota
O Hospital Lusíadas Lisboa tem uma Unidade Integrada de Tratamento da Endometriose. Trata-se de uma Unidade multidisciplinar que trabalha de forma integrada, contando com um leque de especialistas que poderá discutir os casos, criar a equipa que irá intervir e, inclusivamente, decidir por uma intervenção cirúrgica.