Malária nas férias
A ciência avança, mas a malária continua a matar cerca de um milhão de pessoas todos os anos. Todo o cuidado é pouco. Se viajar para o Brasil, entre dezembro e março, para a Tailândia, Indonésia e Índia ou para um qualquer país africano, as atenções são redobradas. Não há vacina para a malária, mas é possível evitar ser picado ou prevenir complicações mais graves da doença.
Como posso apanhar malária?
A malária (também conhecida como paludismo) é transmitida pela picada da fêmea de um mosquito particular – Anopheles – que injeta um parasita unicelular muito complexo do género Plasmodium, sendo o Plasmodium falciparum o que provoca maior mortalidade.São apenas as fêmeas que se alimentam de sangue e, por isso, picam as pessoas (podem também afetar os animais) entre o pôr-do-Sol e o amanhecer.
Num artigo publicado na revista Nature Scientific Reports em 2013, revelou-se que durante o dia o mosquito dorme mas, quando o Sol se põe, o seu sistema olfactivo torna-se extremamente sensível, conseguindo encontrar com facilidade o cheiro do hospedeiro – o homem. Os alvos mais sensíveis são as grávidas e crianças menores de 5 anos.
O parasita é introduzido na corrente sanguínea no momento da picada, viaja até ao fígado, atravessa várias células desse órgão até se instalar numa delas. Aqui multiplica-se em milhares de células, que se libertam no sangue e infetam os glóbulos vermelhos. É neste momento que os sintomas se manifestam.
Quantos tipos de parasitas de malária existem?
A malária é transmitida por quatro principais espécies de parasitas:
- Plasmodium falciparum (causa a malária grave e, como se espalha mais rapidamente provoca frequentemente a morte);
- Plasmodium malariae (mais raro, tem um período de incubação que pode ser de anos; não causa a morte mas, se não for tratado pode causar uma doença crónica);
- Plasmodium vivax (o mais comum no Brasil e o menos grave pois espalha-se mais devagar no corpo),
- Plasmodium ovale (raro, tem um período de incubação de cerca de 15 dias, não causa a morte mas, se não for tratado, pode dar origem a doença crónica).
Sintomas da malária
Se viajou para algum dos países onde a malária ainda é endémica (Brasil, Tailândia, Indonésia e Índia ou continente africano) deve tomar atenção aos seguintes sintomas, sobretudo porque podem ser confundidos com gripe.
Surgem entre sete a 10 dias depois de infetado embora, em casos raros, as manifestações possam surgir até um ano depois:
- Febres altas;
- Dores de cabeça;
- Vómitos;
- Dores nas articulações e nos músculos;
- Diarreia.
Como se faz o diagnóstico?
O diagnóstico pode ser feito através de um teste rápido disponibilizado no mercado, que deteta a presença do antígeno. Mas deve ser usado apenas como referência, já que, no caso de existência de sintomas, deve ser procurada ajuda médica especializada. As análises ao sangue permitirão confirmar se é malária ou outra doença.
Como é tratada?
Normalmente, são administrados medicamentos antimaláricos, tomados oralmente ou injetados, conforme a gravidade da situação. Neste último caso, o tratamento implica o internamento numa unidade de cuidados intensivos, já que a febre pode gerar convulsões. É ainda necessário monitorizar o esforço respiratório, os valores de açúcar e de potássio no sangue.Cerca de oito milhões de casos de malária evoluem para malária grave, provocando danos ao nível do cérebro ou nos órgãos vitais.
Como pode ser evitada?
Repelente
- Com DEET 20-35% (10% para crianças), IR3535® ou Icaridina/Bayrepel® 20% (10% para crianças);
- Deve ser aplicado nas áreas expostas do corpo (braços, pernas, tornozelos, pescoço e face), evitando o contacto com as mucosas ou zonas sensíveis da pele e renovado de 4 em 4 horas – também pode aplicá-lo na roupa;
- Deve aplicar primeiro o protector solar e só depois o repelente;
Vestuário apropriado
- Use roupa de cores claras e de fibras naturais, optando por calças e sapatos fechados;
- Deve acomodar-se em locais com ar condicionado e inseticida;
- Durma sob um mosquiteiro, preferencialmente tratado com inseticida;
- Feche portas e janelas.
Medicação preventiva
A medicação preventiva, à base de artemisinina, deve ser prescrita por um médico especialista e iniciada sempre antes da partida e deve prolongar-se até 4 semanas depois de ter saído da zona de risco. Se vai viajar, marque uma Consulta do Viajante para colocar questões e tomar todas as precauções necessárias.
Curiosidades sobre a doença
Antes do grego Hipócrates – considerado o "pai da medicina" – ter descrito os sintomas da malária, esta era associada à punição de espíritos que habitavam os pântanos. Foram os chineses – que já conheciam a doença desde o ano 2700 a.C. – que começaram por usar a Artemisia annua, para o tratamento de doenças de pele e da malária.
No século XVII os padres jesuítas observaram que os índios sul-americanos usavam a casca da árvore Quinina para tratar a febre. Em 1820 o princípio ativo da quinina foi isolado e usado, durante muito tempo, para a prevenção e tratamento da malária. Em Portugal, a doença atingiu milhares de pessoas até à década de 60 do séc. XX. As zonas mais afetadas eram as bacias hidrográficas do Sado, Tejo e Mondego, onde o arroz era a cultura principal, local de eleição para o desenvolvimento e proliferação dos mosquitos. Hoje está erradicada do nosso país.