Menopausa: como lidar com os afrontamentos
Nem todas as mulheres experienciam a menopausa da mesma forma. Algumas não sentem os afrontamentos, a irritabilidade, as insónias ou a secura vaginal, enquanto para outras estes sintomas são tão intensos que interferem com o seu dia a dia. Daí que a menopausa seja, muitas vezes, encarada erroneamente como um acontecimento negativo, como um marcador de “velhice”. É importante abandonar estes conceitos desatualizados.
Este momento - que se define como a paragem permanente de períodos menstruais, refletindo o esgotamento da reserva folicular ovárica e que é diagnosticada após 12 meses de ausência espontânea de menstruação - deve ser encarado como mais uma fase da vida, com pontos negativos e positivos, como a não necessidade de contraceção ou o fim dos períodos menstruais tão difíceis de suportar por tantas mulheres.
Se for uma experiência partilhada é muito mais facilmente aceite e ultrapassada. E o apoio mais importante, deve ser o do parceiro.
Tenha presente que a maioria das queixas estão inter-relacionadas e que tudo funciona como um círculo vicioso: os afrontamentos provocam uma má qualidade de sono, que gera alterações no humor, que levam à depressão, que pode suscitar uma diminuição da libido.
Damos algumas explicações para interromper esta cadeia de acontecimentos em relação a quatro aspetos: afrontamentos, alterações emocionais, depressões e redução da libido.
1. Afrontamentos
O que são?
São o sintoma mais comum associado à menopausa - é referido por 75 a 80% das mulheres que passam por esta fase. Manifestam-se por uma sensação de calor que, geralmente, começa no peito e face e que rapidamente se generaliza. São frequentemente acompanhados de uma transpiração profusa, pelo que se torna um pouco difícil escondê-los - principalmente quando são frequentes e/ou de duração mais longa.
Por que razão os afrontamentos são mais intensos em certas mulheres?
A obesidade, o tabagismo, uma atividade física reduzida e, até, um nível socioeconómico mais baixo serão fatores de risco associados. Pensa-se que a diminuição dos níveis de estrogénios que ocorre na menopausa leva a um mau funcionamento dos sistemas de regulação da temperatura corporal no sistema nervoso central, a nível de uma estrutura chamada tálamo.
O corpo assume erradamente que a temperatura externa está alta demais e ativa mecanismos de perda e dissipação de calor.
Como lidar com os afrontamentos?
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Afrontamentos de intensidade ligeira
As mulheres com afrontamentos de intensidade ligeira melhoram através de modificações comportamentais simples:
- Diminuição da temperatura ambiente;
- Recurso a leques;
- Utilização de diferentes camadas de vestuário em vez de uma peça única;
- Evitar comidas picantes ou situações de stresse que podem gerar afrontamentos.
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Afrontamentos mais intensos
Quando são mais intensos, as mulheres necessitam de medicação (hormonal ou outra). A terapêutica hormonal de substituição está indicada para as que não apresentam contra--indicações ao uso de hormonas. Para as restantes, podem-se usar alguns tipos de medicação com ação a nível do sistema nervoso. Atenção que no mercado existem terapêuticas alternativas (como isoflavonas e fitoestrogénios) mas sem segurança ou eficácia demonstrada.
2. Alterações emocionais
Quais são as alterações emocionais mais comuns?
Os sintomas associados a estados depressivos são os mais frequentes:
- Irritabilidade;
- Insónia;
- Humor depressivo.
Por que ocorrem?
Pensa-se que as hormonas ováricas podem estar envolvidas na regulação dos níveis de outras hormonas relacionadas com o humor.
Como lidar com as alterações emocionais?
Como qualquer outro problema de saúde, deve procurar ajuda caso sejam intensos ou interfiram de forma significativa na sua vida. Muitas vezes, a terapêutica hormonal de substituição melhora as queixas emocionais e mesmo os estados depressivos das mulheres na menopausa.
3. Depressões
Por que razão as mulheres na menopausa têm maior probabilidade de sofrer depressões?
Existem vários fatores biológicos e ambientais. Estão particularmente em risco mulheres com afrontamentos intensos, as que têm distúrbios de sono, as que tiveram antecedentes de síndrome pré-menstrual grave ou de blues pós-parto, aquelas com acontecimentos de vida indutores de stresse, com antecedentes de depressão, com um baixo nível socioeconómico e que utilizem drogas psicotrópicas.
As alterações hormonais que ocorrem na menopausa podem ajudar a entrar numa fase depressiva e o risco parece ser cerca de 2,5 vezes superior, comparativamente a mulheres pré-menopáusicas. Por outro lado, atribui-se cada vez mais importância à relação entre a diminuição da qualidade do sono (provocada pelos afrontamentos) e as alterações de humor e depressões subsequentes.
O que se deve fazer?
Não compete ao ginecologista tratar a patologia depressiva. Por outro lado, apesar de a terapêutica hormonal de substituição poder melhorar os sintomas depressivos, estes isoladamente não são uma indicação para este tipo de medicação. Terão de ser os psiquiatras a decidir quais os fármacos mais indicados em cada situação.
Por vezes, é importante uma abordagem multidisciplinar, em que o ginecologista e o psiquiatra coordenam os dois tipos de medicação (psiquiátrica e hormonal).
4. Redução da libido
Por que acontece?
Apesar de as mulheres pós-menopáusicas se queixarem mais frequentemente de uma redução da sua libido, a relação entre menopausa e diminuição do desejo sexual está longe de ser linear. A diminuição dos níveis de estrogénio reduz a lubrificação e a vascularização vaginal, o que pode levar a dor nas relações sexuais (dispareunia).
Mas esta é uma disfunção mecânica e não obrigatoriamente correlacionável com a diminuição da libido. Vários estudos tentaram - sem sucesso - provar a relação entre a diminuição dos níveis das diferentes hormonas sexuais e do desejo sexual. Diferentes terapêuticas hormonais também não corrigem esta queixa numa percentagem muito importante de casos.
Outras alterações de vida que acontecem na altura da menopausa (saída dos filhos de casa, instabilidade no emprego, problemas de saúde, dificuldades familiares ou económicas) podem ter um efeito mais importante na redução da libido do que a menopausa propriamente dita.
O que se deve fazer?
A abordagem deve ser multidisciplinar - o ginecologista tem um papel importante numa abordagem inicial, mas em mulheres cuja aceitação da menopausa seja francamente má, por vezes é necessário considerar apoio psicológico. Numa primeira fase, deve-se corrigir a secura vaginal que pode estar a causar dispareunia.
Se as queixas de diminuição de libido se mantiverem, tentar descobrir as causas. É muito importante desmitificar o papel da menopausa como fator isolado. Na esmagadora maioria das vezes, tudo o resto é mais importante. Deve-se falar de forma aberta sobre as alterações corporais.