5 min

Unidade da Tiroide: cuidar da glândula que controla todo o corpo

Colaboração
Umas mais silenciosas, outras mais evidentes, há várias formas desta glândula em forma de borboleta ficar doente. O trabalho multidisciplinar é fundamental para um tratamento adequado.

A tiroide é uma glândula em forma de uma borboleta, localizada na zona anterior do pescoço. É fundamental para o equilíbrio do corpo, uma vez que é a responsável pela produção de hormonas, que são libertadas para o sangue e que controlam o funcionamento de todo o organismo — desde o peso, ao humor, cabelo, unhas, frequência cardíaca ou pressão arterial, entre outros.

“As doenças da tiroide atingem, em todo o mundo, mais de 300 milhões de pessoas e, só em Portugal, estima-se que afetem 1 milhão de pessoas”, indica Virgínia Soares, especialista em Cirurgia Geral e uma das responsáveis pela Unidade da Tiroide do Hospital Lusíadas Braga.

Podendo afetar pessoas de qualquer idade e sexo, é fundamental estar atento e conhecer os problemas que podem afetar esta glândula. “A tiroide pode ficar doente de duas maneiras”, indica a especialista: as alterações na sua forma (patologia nodular) e as alterações no seu funcionamento (hipertiroidismo ou hipotiroidismo). 

Sobre os fatores de risco, a especialista explica que não há uma causa específica para o surgimento dos problemas benignos na tiroide em Portugal, indicando apenas a maior probabilidade associada a um fator genético. “Há alguma preponderância familiar, ou seja, se alguém na família tem doença na tiroide, a probabilidade de um filho vir a desenvolver a patologia, face à população geral, é um bocadinho maior”, diz. “Alguns cancros podem também estar associadas, mas são exceções relativamente à frequência no aparecimento de problemas na tiroide.” 

Patologia nodular 

Uma das patologias mais comuns na tiroide é a alteração na forma desta glândula, nomeadamente, através do surgimento de nódulos. “O mais importante é sabermos que tipo de nódulos são, uma vez que podem ser benignos ou malignos.” Estudos indicam que a patologia nodular maligna, isto é, o cancro na tiroide, era em 2010 o terceiro carcinoma mais frequente nas mulheres portuguesas, surgindo, anualmente, em Portugal, mais de 500 novos casos, numa média de 445 pessoas do sexo feminino e 88 pessoas do sexo masculino.

A maior parte das vezes, estes nódulos não têm sintomas específicos associados. “Pode sentir-se dificuldade em engolir ou dificuldade em respirar, mas essas sensações surgem quando os nódulos já são um bocadinho maiores”, explica a especialista. “Pode sentir-se mal-estar no pescoço, uma espécie de sensação de corpo estranho nesta parte do corpo, como se estivesse ali qualquer coisa que não se consegue explicar. Outras vezes o nódulo é palpável.”

Hiper e hipotiroidismo

Os nomes dão pistas do que acontece em cada uma destas patologias. No hipertiroidismo, a libertação de hormonas acontece em excesso, a uma velocidade superior ao que é suposto. Como resultado, o organismo fica muito acelerado. “Podem surgir palpitações, maior nervosismo, irritação, insónias ou perda de peso, apesar de a pessoa comer muito, entre outros.”

No hipotiroidismo acontece o inverso: “A produção de hormonas é inferior ao normal e surgem efeitos contrários: a pessoa fica mais cansada, pode ter queda de cabelo, alterações menstruais ou ganho de peso, por exemplo.”

Pela abrangência e potencial subtileza dos sintomas, o diagnóstico destas patologias pode ser mais demorado. “Habitualmente, o hipotiroidismo tem um diagnóstico mais tardio, porque os sintomas podem ser associados ao cansaço e fadiga do dia-a-dia. Já no hipertiroidismo, por ter sintomas mais exuberantes, o diagnóstico tende a ser mais precoce.”

Mas é importante conhecer estes sintomas e estar atento aos sinais que o corpo lhe dá.  “Quando as alterações da função da tiroide não são tratadas, o corpo fica desregulado e a doença evolui para uma forma que pode ser grave, podendo surgir desde depressões a situações de insuficiência cardíaca, já em casos extremos.”

Diagnóstico e tratamento de problemas da tiroide 

O diagnóstico de problemas no funcionamento da tiroide começa com análises que permitem detetar a produção em excesso ou em défice das hormonas. Quando há confirmação de um diagnóstico de hiper ou hipotiroidismo, o tratamento passa por introduzir medicação que “controle o funcionamento” desta produção hormonal, no sentido de reequilibrar o seu ritmo, devolvendo o equilíbrio ao corpo. 

No caso da patologia nodular é diferente. Quando há queixas ou suspeitas de nódulos na tiroide, há indicação para a realização de uma ecografia, que permite confirmar se estes estão presentes. Pode, depois, ser necessário recorrer-se a uma biópsia com control ecográfico. “Permite colher células, que são analisadas, dando-nos a certeza do diagnóstico. Dá-nos segurança na orientação do indivíduo, permitindo definir o tratamento adequado. É um exame muito importante para nos ajudar a tomar esse tipo de decisão.”

Confirmando-se a presença dos nódulos, há dois caminhos a seguir: “Ou são vigiados ou operados”, indica Virgínia Soares. A indicação cirúrgica depende da doença da tiroide (se os nódulos são malignos) ou da sua dimensão (se forem muito grandes).  “No Hospital Lusíadas Braga  este de ato cirúrgico é realizado por uma equipa especializada na cirurgia da tiroide.” 

Existem também dois tipos de cirurgia: “Ou retiramos metade ou retiramos a totalidade da tiroide. Quando retiramos apenas metade, o indivíduo não tem, habitualmente, de fazer medicação. Se for necessário retirar a totalidade, precisa de terapêutica para substituir a tiroide.

A Unidade da Tiroide

Quer seja por suspeita de patologia nodular ou de alteração de funcionamento, o processo para o diagnóstico e tratamento começa numa consulta, que é conduzida, numa primeira etapa, por um especialista em Cirurgia ou Endocrinologia. Alguns dos motivos mais frequentes para a marcação desta consulta, diz Virgínia Soares, são a alteração de peso, sensação de corpo estranho na garganta ou pescoço, dificuldade em engolir, em respirar ou a palpação de um nodulo no pescoço.

“Conversamos com o doente e, caso não traga já os exames clínicos feitos (por indicação do médico de família, por exemplo), estes são pedidos na consulta, consistindo, geralmente, em análises e ecografia. Os resultados são observados, a fim de decidir o rumo a seguir: se é necessária medicação, biópsia ou operação.”

A importância do trabalho multidisciplinar 

Por influenciar o funcionamento de todo o corpo, um trabalho multidisciplinar, que envolva diferentes especialidades médicas, é fundamental para o tratamento eficaz das patologias desta glândula. 

Assim, depois da consulta inicial com o especialista em Cirurgia ou Endocrinologia, dá-se, caso seja necessário, o encaminhamento para outras especialidades, “que são fundamentais para o tratamento do indivíduo como um todo.”

É para dar resposta a esta necessidade, que nasce a Unidade da Tiroide no  Hospital Lusíadas Braga. “Temos nesta área um grupo de médicos especializados e dedicados ao tratamento de doenças da tiroide”. 

Além da Endrocrinologia e Cirurgia, esta área envolve também Oftalmologia, Otorrinolaringologia e Medicina Nuclear.  “Como influência todo o organismo, quando está doente, a tiroide interfere com todos os órgãos e sistemas do corpo. É importante haver uma equipa que consiga abranger, na sua plenitude, as doenças da tiroide”, indica a médica. 

A especialista deixa alguns exemplos da importância no cruzamento das diferentes áreas médico-cirurgicas. “A Doença de Graves, por exemplo, está associada ao hipertiroidismo e, por vezes, os olhos ficam um bocadinho mais salientes. É fundamental aqui o apoio da Oftalmologia”, exemplifica Virgínia Soares. “Há doentes que têm alteração da voz associada a problemas da tiroide, e, por isso, aqui é necessário o apoio da Otorrinolaringologia."

Os resultados deste trabalho em equipa têm vindo a revelar-se muito positivos. “A tendência atual da Medicina passa pela formação de grupos multidisciplinares com dedicação específica a determinadas doenças. Estas, pela sua complexidade ou raridade, são melhor avaliadas e tratadas por uma equipa dedicada, tendo em vista a aceleração e rentabilização dos cuidados”, explica a especialista.

E acrescenta: “Todos os estudos mostram que a mortalidade, morbilidade, prognóstico e a sobrevida estão dependentes da especialização das equipas médico-cirúrgicas, sendo portanto fundamental a formação destas equipas multidisciplinares para que se obtenham os melhores resultados.”

Ler mais sobre

Tiroide

Este artigo foi útil?

Revisão Científica

Dra. Virgínia Soares

Dra. Virgínia Soares

Hospital Lusíadas Braga

Especialidades em foco neste artigo

Especialidades em foco neste artigo

PT