Os 5 erros que os viajantes mais cometem
1. Deixar a consulta do viajante para “a última hora”
Marcar uma consulta do viajante é um dos primeiros itens a colocar na lista de preparação da viagem. E isto porque, idealmente, esta deve ser feita com um mês e meio de antecedência. “Como alguns dos riscos associados às viagens podem ser preveníveis por vacinação, e algumas das vacinas podem demorar cerca de 30 dias até completar o seu ciclo de administração, é bom que quem viaja tenha a sua consulta 4 a 6 semanas antes da partida”, explica o especialista em Medicina Interna Filipe Basto e diretor clínico do Hospital Lusíadas Porto.
Esse tempo também é muitas vezes necessário “para que se iniciem, de forma oportuna, outro tipo de medicações preventivas ou preparações médicas específicas”, alerta o também diretor clínico do Hospital Lusíadas Porto. Em qualquer caso, mesmo passado o prazo ideal para iniciar a medicação, passar pela consulta do viajante é fundamental: “Por muito ‘em cima da hora’ que se esteja, vale sempre a pena discutir, individualmente, os riscos específicos de cada itinerário e adquirir conhecimentos e competências que podem ser essenciais para manter a saúde e a segurança em todo o percurso.”
2. Desvalorizar os riscos de um voo longo
Passar muitas horas dentro de um avião significa sujeitar o nosso corpo a um ambiente de “menor pressão atmosférica (equivalente a uma altitude de 1800 a 2400 metros), em que o oxigénio está mais rarefeito e há menos humidade”, explica Filipe Basto. E isto, com a agravante de “estarmos confinados a um pequeno espaço, onde a mobilidade é muito reduzida”, acrescenta o clínico. Filipe Basto deixa, por isso, alguns conselhos gerais, válidos para qualquer pessoa que viaja de avião. A saber:
- Fazer exercícios com contração dos músculos das pernas durante o voo e caminhar até à casa de banho;
- Bocejar repetidamente durante a descolagem e aterragem para aliviar a pressão nos ouvidos;
- Beber muita água para evitar a desidratação.
Também é importante que, na consulta do viajante, possa ser estudado o historial clínico do indivíduo, de forma a avaliar a necessidade de tomar outro tipo de precauções mais específicas.
“Pessoas com problemas cardíacos ou respiratórios podem precisar de uma ajuda suplementar, nomeadamente de oxigénio”, alerta o especialista em Medicina Interna. O risco de formação de coágulos sanguíneos e a possibilidade de desenvolver tromboses venosas, em especial nos membros inferiores, também não deve ser desvalorizada, até porque é possível adotar medidas preventivas.
“Calçar meias de contenção venosa ou até fazer uma profilaxia medicamentosa são armas que poderemos utilizar para reduzir o risco, particularmente em pessoas com história prévia, pessoal ou familiar de tromboses ou com um biótipo de maior risco”, informa Filipe Basto.
3. Esquecer-se da bolsa dos medicamentos
Nem a mais, nem a menos. “Nas viagens, os medicamentos são como os sapatos: devem apenas levar-se aqueles de que precisamos e nos fazem falta, evitando sempre que possível medicações novas”, afirma o especialista. Os medicamentos necessários (nomeadamente os fármacos preventivos como os da malária) podem não estar disponíveis no local de destino ou ser de qualidade duvidosa.
Por isso, na mala devem estar incluídos também os medicamentos pessoais — “Sempre nas caixas originais e acompanhados com uma receita que confirme a prescrição”, alerta o médico. Os itens a colocar na bolsa de SOS ou de emergência devem ser decididos “durante a consulta do viajante, em função do destino, das condições da viagem e do perfil e condições particulares do viajante”. Mas, na generalidade, a farmácia portátil deverá conter:
- Um analgésico;
- Um antialérgico;
- Medicamentos para a diarreia;
- Eventualmente, um antibiótico, dependendo do contexto e das condições particulares da viagem.
4. Descuidar as precauções básicas
Há regras que todos os viajantes devem cumprir, em qualquer circunstância, nomeadamente no que toca aos cuidados básicos de higiene, alimentação, e outros. É importante:
- Só consumir água engarrafada e gelo que tenha sido feito a partir de água engarrafada (atenção às caipirinhas e bebidas granizadas!);
- Evitar alimentos crus ou mal cozinhados;
- Lavar sempre muito bem as mãos;
- Ter especial cuidado com os acidentes e evitar o contacto com os animais (“em muitos países do mundo ainda existe a doença raiva”, lembra o especialista).
5. Ignorar os riscos específicos da zona de destino
Não basta conhecer na generalidade o país de destino, é preciso também ter em conta as condicionantes individuais e específicas de cada saída, tais como:
- O tipo de viagem;
- A atividade a desenvolver pelo viajante;
- As condições de alojamento;
- Os locais por onde se pretende passar, quer em termos de geografia, quer de clima. “Na consulta do viajante, uma análise cuidadosa do itinerário a percorrer permitirá distinguir zonas, por vezes muito próximas, mas com perfis de risco totalmente diversos”, explica o especialista em Medicina Interna. Os destinos visitados podem implicar, até numa mesma viagem, precauções muito diferentes e a geografia e o clima são variáveis importantes:
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Risco de doença
O que se passa com a segurança:
- Bairros contíguos podem significar níveis de perigo muito diferentes
- É igualmente válido para algumas doenças, nomeadamente aquelas que são transmitidas por vetores como os mosquitos
- “Mais frequentes em locais com condições climatéricas que facilitem o seu desenvolvimento em águas paradas”.
Em países como a Índia, “o risco de malária, por exemplo, difere entre cada região, depende das estações do ano e das monções, e varia entre zonas urbanas e rurais”, explica o especialista.
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Altitude
Para pessoas saudáveis, os problemas relacionados com a descida dos níveis mais baixos de oxigénio “podem começar por volta dos 2500-3000 metros e ser extremamente importantes a partir dos 3600 metros”, explica Filipe Basto. Os sintomas incluem:
- Fadiga fácil;
- Diminuição da capacidade de esforço;
- Falta de apetite;
- Irregularidades do sono.
Estes sintomas podem evoluir para:
- Dores de cabeça, que podem ser fortes;
- Formas extremas de falta de ar (dispneia). A subida deve ser feita de forma progressiva (300 a 600 metros por dia, registados na altitude em que se dorme) e, no caso de os sintomas se agravarem, o melhor tratamento é mesmo a descida. “Há contudo alguns medicamentos que podem ser utilizados preventivamente para reduzir estes sintomas e estes riscos, devendo os benefícios e efeitos laterais destas medicações ser discutidos na consulta do viajante”, informa o especialista.
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Exposição solar
“A exposição aos raios ultravioleta pode acontecer mesmo quando não há aparente exposição ao sol e, se esta for excessiva, pode ter consequências a curto prazo – as queimaduras solares; ou à distância – os tumores cutâneos”, alerta Filipe Basto.
As queimaduras podem ser tanto mais graves quanto maior for a área afetada e provocar dor intensa, frequentemente associada a febre e desidratação. Viajar para locais como o Equador ou em altitude condicionam um maior risco de exposição, que se pode agravar pela reflexão, por exemplo, da neve, da água ou da areia.
É por isso muito importante:
- Evitar uma exposição solar excessiva, sobretudo nas horas de maior insolação;
- Cobrir a pele com roupa e utilizar protetor solar nas áreas descobertas;
- Usar óculos de sol — com lentes que permitam bloquear ambos os tipos de radiação ultra violeta (A e B);
- Beber muitos líquidos.