Pílula: 10 factos a saber
É o método contracetivo mais usado pelas mulheres portuguesas, embora ainda envolto em muitas dúvidas e mitos. A pílula é um contracetivo oral, em que cada comprimido possui hormonas sintéticas muito semelhantes às que são produzidas naturalmente pelos ovários.
Estas hormonas inibem a ovulação, o que impossibilita a fecundação resultante do ato sexual. Este método tem um grau de eficácia muito elevado (99%) no que diz respeito a evitar uma gravidez. No entanto, é importante realçar que, ao contrário dos métodos de barreira (como o preservativo), a pílula não protege contra doenças sexualmente transmissíveis.
Que tipos de pílula existem?
Existem dois princípios biológicos (hormonas) essenciais no funcionamento da pílula (e para todo o ciclo menstrual): o estrogénio e a progesterona. O tipo de pílula vai depender das hormonas (e respetiva dosagem) incluídas na sua composição, mas também da forma como são administradas.
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Pílula combinada:
É o tipo de pílula mais conhecido, composto por estrogénio e progesterona em pequenas quantidades. Nas suas formas mais comuns, deve ser tomada diariamente, 21 em cada 28 dias ou 28 dias em contínuo.
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Pílula sem estrogénios:
Contém apenas uma pequena quantidade de um progestagénico sem presença de estrogénio. Por isso, é adequada a mulheres que estão a amamentar e também a quem os estrogénios são desaconselhados.
Deve ser tomada diariamente, sem pausas entre embalagens. Existem ainda métodos, como o adesivo (aplicado diretamente sobre a pele – administração transdérmica) ou o anel vaginal (administração pela mucosa vaginal), que são também contracetivos hormonais combinados (com estrogénio e progesterona), embora não sejam tomados por via oral.
Factos a reter sobre o uso da pílula oral combinada
1. A pílula deve ser tomada diariamente, sem esquecimentos.
Seja para tomar em 21 ou 28 dias seguidos, a eficácia da pílula só é garantida se ingerir um comprimido todos os dias, à mesma hora. Em caso de esquecimentos de dois ou mais comprimidos, o efeito contracetivo pode ficar comprometido.
No caso das pílulas de 21 dias, a regra é simples: 21 dias de toma de comprimidos, seguidos de sete dias de pausa - nos quais surge a menstruação. Já no caso dos 28 dias, são tomados comprimidos ao longo de todo o ciclo menstrual, incluindo comprimidos placebo que correspondem ao período de pausa das hormonas (24 dias de pílula + 4 com placebo ou 21 dias de pílula + 2 com placebo). É possível também tomar a pílula de forma contínua (sem pausa de hormonas e sem placebo).
2. Alguns medicamentos podem anular o efeito da pílula.
“Qualquer medicamento que aumente a atividade das enzimas hepáticas responsáveis pela sua metabolização, causa uma diminuição do efeito contracetivo” na pílula oral combinada, adianta Elsa Milheiras, especialista em Ginecologia e Obstetrícia no Hospital Lusíadas Amadora, exemplificando com alguns anticonvulsivantes usados no tratamento da epilepsia, o antibiótico Rifampicina, antifúngicos e eventualmente a Erva de São João, embora neste último caso as evidências sejam limitadas.
O efeito da pílula pode ainda ficar comprometido se houver vómito ou diarreia até quatro horas depois da toma do comprimido.
3. seu uso prolongado não reduz a fertilidade.
Como destaca a ginecologista do Hospital Lusíadas Amadora, “não há nenhuma evidência de que a toma de pílula diminua a fertilidade, podendo até causar alguma melhoria, por exemplo ao diminuir a incidência de doença inflamatória pélvica”.
Porque é que, então, é tão comum esta ideia de que, depois de parar de tomar a pílula, é mais difícil engravidar? Por um lado, porque o ciclo menstrual pode voltar a ficar irregular. Por outro lado, a fertilidade diminui com a idade e, se se deixar passar algum tempo antes de começar a tentar engravidar, as hipóteses vão diminuindo. Mas nada que esteja diretamente relacionado com a própria pílula.
4. Além do efeito contracetivo, a pílula pode servir de medicamento para algumas doenças.
A toma regular da pílula oral combinada pode ser útil, por exemplo, como tratamento para:
- Doenças ginecológicas, como hemorragias devido a miomas e dor pélvica causada por endometriose;
- Alterações hormonais com hiperandrogenismo, como acne ou hirsutismo (excesso de pelos);
- Irregularidades menstruais, como hemorragias intensas, dores menstruais, síndrome pré-menstrual e prevenção da enxaqueca menstrual;
- Prevenção da formação de quistos ováricos funcionais.
5. Os efeitos secundários incluem náuseas e secura vaginal.
O início da toma da pílula pode originar alguns efeitos secundários adversos, que geralmente desaparecem espontaneamente após cerca de três meses. Os possíveis efeitos podem abranger náuseas, tonturas, irritabilidade e sensação de “barriga inchada” (efeitos estrogénicos), como também secura vaginal e alterações de humor (efeitos progestagénicos), entre outros.
De acordo com Elsa Milheiras, o mais importante é “monitorizar os sintomas e tomar medidas caso estes efeitos persistam além de três meses”. Comunique quaisquer efeitos secundários ao seu médico, para que ele possa decidir qual a melhor abordagem a seguir.
6. A pílula pode ser tomada em contínuo.
Existem pílulas de uso contínuo, sem pausas, que implicam que deixe de ter menstruação. No entanto, não precisa de temer efeitos nocivos para o organismo com a toma contínua da pílula. A grande desvantagem, como destaca Elsa Milheiras, é mesmo “a maior frequência de spotting (sangramento escuro, escasso) e pequenas hemorragias irregulares”.
De resto “tem muitas vantagens, como diminuir as hemorragias, adiar a menstruação numa determinada data, reduzir as dores de cabeça associadas ao período, diminuir a síndrome pré-menstrual, etc.”. A toma em contínuo não tem efeitos na fertilidade da mulher.
7. O seu uso reduz o risco de cancro do ovário, do endométrio e do cólon.
O impacto da pílula na saúde da mulher e, sobretudo, na relação com o risco de cancro tem sido frequentemente estudado ao longo dos anos. As boas notícias, sugeridas por investigações recentes, são que o uso de pílulas mais modernas pode mesmo ajudar a reduzir o risco de cancro do ovário, do endométrio e do cólon.
8. A pílula pode estar associada a um maior risco de cancro da mama e do colo do útero.
Enquanto reduz o risco de alguns cancros, a verdade é que a pílula (mesmo nas versões mais modernas) continua a estar associada a um maior risco de cancro da mama e do colo do útero. Elsa Milheiras sublinha, no entanto, que se trata de um “aumento modesto de risco”, que “diminui à medida que mais anos passam sobre a suspensão da toma”.
Em paralelo, há também uma relação com o risco de doença tromboembólica, mas que diminuiu com a evolução da própria pílula (e a redução das doses hormonais nas versões mais modernas).
“Ainda existe um aumento do tromboembolismo venoso dos membros inferiores e pulmonar nas utilizadoras de pílulas na nossa era, mas esse risco é inferior ao causado simplesmente pela presença de gravidez ou ambiente hormonal no período pós-parto”, explica a ginecologista.
9. A sua utilização não é recomendada para quem tem hipertensão elevada.
As mulheres que sofrem de hipertensão com valores iguais ou superiores a 160/100 mmHg (estádio 2) não devem tomar a pílula oral combinada. Mas este não é o único caso em que o uso deste método contracetivo está desaconselhado.
No geral, a pílula não é indicada em situações de:
- Gravidez em curso;
- Hemorragia genital anormal sem diagnóstico conclusivo;
- Doença cerebrovascular ou coronária (por exemplo, AVC, angina de peito, enfarte);
- Trombose venosa profunda/embolia pulmonar, assim como situação clínica predispondo a acidentes tromboembólicos;
- Doença cardíaca valvular complicada (hipertensão pulmonar, risco de fibrilhação auricular, história de endocardite bacteriana subaguda);
- Neoplasia hormonodependente (da mama ou outras);
- Doença hepática crónica ou em fase ativa (exclui portadores sãos) e tumor hepático;
- Enxaqueca com aura em qualquer idade e sem aura após os 35 anos;
- Tabagismo (15 cigarros ou mais, por dia, em mulheres de idade superior a 35 anos);
- Primeiros 21 dias pós-parto, mesmo que não esteja a amamentar. Existem ainda contraindicações para quem tem hipertensão controlada ou diabetes, mas deve ser o médico a decidir, caso a caso, se é possível a toma da pílula.
10. Deve ser sempre prescrita por um médico.
Apenas um especialista poderá indicar qual a melhor pílula para cada mulher, adequando “doses e compostos para conseguir o melhor resultado não só em termos de contraceção, mas também de benefícios não contracetivos”, lembra Elsa Milheiras. Além disso, o médico pode avaliar, dado o historial clínico de cada pessoa, se há alguma contraindicação clara ao uso da pílula, podendo recomendar métodos alternativos.