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A Inteligência Artificial pode afetar a nossa capacidade de pensar?

Colaboração
A Inteligência Artificial (IA) está a revolucionar vários aspetos do nosso quotidiano - do trabalho à educação, até às relações pessoais. Embora estas ferramentas ofereçam conveniência e eficiência sem precedentes, importa questionar: estaremos a pagar um preço por esta dependência tecnológica?

A Inteligência Artificial pode afetar a nossa capacidade de pensar?

A Inteligência Artificial (IA) está a revolucionar vários aspetos do nosso quotidiano - do trabalho à educação, até às relações pessoais. Embora estas ferramentas ofereçam conveniência e eficiência sem precedentes, importa questionar: estaremos a pagar um preço por esta dependência tecnológica?

O acesso generalizado à IA levanta questões cruciais sobre o seu impacto na nossa cognição: como altera a nossa forma de pensar, de resolver problemas e de processar informação? Neste artigo, exploramos como o uso constante destas tecnologias pode estar a reconfigurar o funcionamento do cérebro, com consequências que apenas começamos a compreender.

Uso de Inteligência Artificial e o seu impacto cognitivo

A IA generativa - que recorre a modelos treinados com grandes quantidades de dados e padrões para gerar novos conteúdos – está a transformar a forma como trabalhamos, aprendemos e até pensamos.

Podemos dizer que já usamos ferramentas como calculadoras ou folhas de cálculo há décadas sem que isso tenha resultado numa redução comprovada da capacidade de raciocínio. No entanto, há uma diferença crucial: essas ferramentas exigem que entendamos o seu funcionamento para as utilizarmos de forma eficaz, enquanto a IA pode realizar tarefas complexas por nós, sem exigir um esforço mental ativo. E é aqui que reside o “problema”.

O Cérebro tem de ser “treinado” 

O cérebro não se limita a funções básicas de sobrevivência - coordena atenção, memória, raciocínio lógico e pensamento abstrato. Para percebermos o impacto da IA, é essencial entender como o cérebro funciona.
Embora os neurónios não funcionem como células musculares, seguem um princípio semelhante: precisam de ser exercitados para se manterem saudáveis. Na verdade, o cérebro tem uma notável capacidade de adaptação (neuroplasticidade), mas, quando não é desafiado com atividades estimulantes, as conexões entre neurónios (sinapses) podem enfraquecer, resultando numa redução progressiva das funções cognitivas.

Como é que o uso excessivo de Inteligência Artificial afeta o nosso cérebro?

Com base no conceito de neuroplasticidade e no princípio do “usar ou perder”, é fácil perceber que, ao delegarmos sistematicamente à IA tarefas que antes exigiam esforço cognitivo, sem compensar com outros estímulos, corremos o risco de reduzir o pensamento profundo. Com o tempo, essa falta de uso pode enfraquecer competências essenciais, como sugerem alguns estudos, entre as quais:

  • Resolução de problemas (deixamos de treinar o raciocínio lógico);
  • Pensamento crítico (aceitamos respostas prontas sem as questionar);
  • Criatividade (se a IA gera ideias por nós, exercitamos menos a nossa imaginação).

Inteligência Artificial no ensino

Os efeitos da Inteligência Artificial no desenvolvimento cognitivo também já estão a ser identificados em escolas nos Estados Unidos. Os investigadores da Universidade da Pensilvânia concluíram que os alunos que recorreram à IA para resolver exercícios práticos tiveram um desempenho inferior nos testes, quando comparados com aqueles que realizaram as tarefas sem qualquer tipo de assistência tecnológica. Isto sugere que o uso da IA no contexto académico, apesar de “conveniente”, pode estar a contribuir para um declínio das competências de pensamento crítico dos estudantes.

Além disto, os especialistas em educação alertam que o papel crescente da IA nos ambientes de aprendizagem pode comprometer o desenvolvimento das capacidades de resolução de problemas. Os alunos estão a ser cada vez mais incentivados a aceitar respostas formuladas por IA sem compreender totalmente os processos ou conceitos subjacentes. Com a integração progressiva da IA na educação, existe o receio de que as futuras gerações tenham menos capacidade para se envolver em exercícios intelectuais mais profundos, estando sempre dependentes de algoritmos em vez de desenvolverem as suas próprias competências analíticas.

O problema não é a IA, mas como a usamos

A chave está no equilíbrio. A IA pode ser uma aliada se for usada para complementar – e não substituir – o nosso pensamento. Por exemplo:

  • Usar para gerar ideias, mantendo o espírito crítico e adaptando as sugestões;
  • Delegar tarefas repetitivas, mas reservar tempo para desafios mais exigentes;
  • Evitar a dependência, mantendo hábitos de leitura profunda e reflexão.

Ou seja, o risco não está na tecnologia em si, mas na forma passiva como a podemos utilizar. 
A IA veio para ficar, e o seu impacto no cérebro será tão positivo ou negativo quanto as escolhas que fizermos. A neurociência mostra que, sem desafios cognitivos, perdemos habilidades – mas também que podemos usar a tecnologia a nosso favor, sem deixar que ela pense por nós.
 

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Revisão Científica

Prof. Dra. Luísa Alves

Prof. Dra. Luísa Alves

Hospital Lusíadas Monsanto

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