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Obesidade e Fertilidade: O excesso de peso tem impacto na capacidade reprodutiva?

Colaboração
A obesidade é um problema de saúde pública, que afeta o metabolismo, o sistema cardiovascular e também a fertilidade. O excesso de peso pode comprometer significativamente a função reprodutiva tanto nas mulheres como nos homens, reduzindo a probabilidade de gravidez espontânea e diminuindo a taxa de sucesso dos tratamentos de procriação medicamente assistida.

Obesidade e fertilidade feminina

Nas mulheres, a obesidade está normalmente associada a alterações hormonais que afetam a ovulação e a regularidade do ciclo menstrual. O tecido adiposo (também conhecido por gordura) em excesso leva a uma produção excessiva de estrogénios e a um aumento de resistência à insulina, que são fatores que contribuem para a disfunção ovulatória e infertilidade. Além disso, as mulheres com obesidade têm um risco 3 vezes maior de infertilidade de causa anovulatória (sem que ocorra ovulação) comparativamente às mulheres com peso saudável.

A obesidade também pode estar associada à síndrome do ovário micropoliquístico (SOP), que também se acompanha de irregularidades do ciclo menstrual

Para além do impacto na gravidez espontânea, a obesidade também se associa a menor taxa de sucesso nas técnicas de procriação medicamente assistida, como a fertilização in vitro (FIV), devido à menor qualidade dos ovócitos e ao impacto negativo na implantação embrionária.

Obesidade e fertilidade masculina

A obesidade também afeta a fertilidade masculina, provocando um desequilíbrio hormonal, com o aumento dos níveis de estrogénios e com redução da testosterona, associando-se a uma diminuição da concentração e mobilidade dos espermatozoides.

Os homens com obesidade apresentam um maior índice de fragmentação do DNA espermático, o que compromete a sua viabilidade e aumenta o risco de mau desenvolvimento embrionário. Isso explica que tenham uma redução de 20% na probabilidade de gravidez.

Outro fator relevante é o aumento da temperatura testicular devido à acumulação de gordura, o que pode afetar a espermatogénese e diminuir a qualidade e motilidade dos espermatozoides.

Impacto da obesidade na gravidez e no desenvolvimento fetal

Mesmo quando a fertilização ocorre com sucesso, a obesidade materna está associada a um maior risco de complicações durante a gravidez, como a diabetes gestacional, hipertensão arterial e pré-eclampsia. Além destes problemas, o excesso de peso pode aumentar a probabilidade de parto prematuro e de complicações no parto.

A obesidade paterna também pode influenciar a saúde da descendência, uma vez que a qualidade do DNA espermático tem impacto no desenvolvimento embrionário e na saúde da criança.

Estratégias para melhorar a fertilidade

A boa notícia é que a perda de peso, mesmo que moderada, pode melhorar significativamente a fertilidade. A redução de 5 a 10% do peso corporal pode restaurar a ovulação em mulheres com obesidade e melhorar a qualidade dos espermatozoides nos homens.

A implementação de um estilo de vida saudável, incluindo uma alimentação equilibrada e exercício físico regular, é essencial para otimizar a função reprodutiva. Em alguns casos, pode ser necessário acompanhamento médico especializado, envolvendo nutricionistas e especialistas em fertilidade, para ajudar na perda de peso e na melhoria do equilíbrio hormonal.

A obesidade tem um impacto substancial na fertilidade, reduzindo as probabilidades de conceção natural e aumentando os riscos durante a gravidez. No entanto, a perda de peso e a adoção de hábitos saudáveis podem reverter muitos dos efeitos negativos do excesso de peso, melhorando a saúde reprodutiva e aumentando as hipóteses de uma gravidez bem-sucedida. Assim, o controlo do peso deve ser encarado como um fator essencial na promoção da fertilidade e do bem-estar geral.
 

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Revisão Científica

Dr. Luís Vicente

Dr. Luís Vicente

Coordenador da Unidade de Procriação Medicamente Assistida

PT