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É verdade que o cérebro também “ouve”? Descubra o que é o Processamento Auditivo

Ao longo dos primeiros anos de vida, o cérebro aprende a entender tudo sobre os sons que “ouve”. No entanto, quando tal não acontece, podemos estar perante uma alteração do Processamento Auditivo.

“Acho que o meu filho não ouve bem, tenho de lhe repetir as coisas diversas vezes e mesmo assim tem dificuldade em perceber. E na escola os professores dizem que ele é distraído!”, estas são algumas das manifestações e preocupações comuns de muitos pais.

O que acontece na maioria dos casos é que as crianças são encaminhadas para fazer uma avaliação auditiva. Contudo, muito frequentemente, o resultado da avaliação auditiva confirma que a audição está dentro da normalidade, e os pais sentem-se frustrados por não terem uma resposta para as queixas dos filhos, visto que estas se mantêm.

A avaliação auditiva tem como objetivo determinar a capacidade mínima de deteção do som. No entanto, a capacidade de ouvir com sucesso em todas as situações do dia-a-dia não depende apenas da ausência da perda de audição, mas também de habilidades auditivas mais complexas que ocorrem no nosso cérebro.

Quando as crianças nascem, o sistema auditivo já está apto a ouvir todos os sons, mas nesta altura o cérebro ainda não sabe o que fazer com os sons que ouve. Sim, é verdade! Para além do ouvido como órgão da audição, o nosso cérebro também faz parte do nosso sistema auditivo.

Ao longo dos primeiros anos de vida, o cérebro vai aprender a entender tudo sobre os sons que escuta. E este fenómeno acontece devido às experiências auditivas que a criança vai tendo ao longo dos anos, através das conversas, das brincadeiras, das histórias e das músicas, por exemplo. O importante é que as experiências auditivas sejam frequentes e enriquecedoras. Quando tal não acontece, podemos estar perante uma alteração do Processamento Auditivo.

O que é o Processamento Auditivo?

O Processamento Auditivo (PA) consiste na eficácia e eficiência que o nosso sistema auditivo tem em detetar, reconhecer, analisar e interpretar corretamente os sons que ouve, representando um conjunto de habilidades auditivas que cada um de nós precisa para compreender o que nos rodeia.

Afinal, o que é a Perturbação do Processamento Auditivo?

A Perturbação do Processamento Auditivo (PPA) refere-se às dificuldades na perceção de sons linguísticos e não linguísticos, com origem no sistema nervoso auditivo central, como por exemplo dificuldades de discriminação auditiva, défice no reconhecimento de padrões sonoros e dificuldade na localização sonora. 

As alterações do PA não são exclusivas da idade pediátrica, também podem aparecer com o avançar da idade, tanto associado à perda de audição, quanto por outros motivos associados ao envelhecimento.

As causas das alterações no PA podem ser diversas e muitas vezes desconhecidas. Contudo as causas mais frequentemente associadas à origem da PPA são as seguintes:  

  • Histórico de otites frequentes;  
  • Atraso na maturação das vias auditivas;  
  • Fatores genéticos/Hereditariedade/Antecedentes familiares;  
  • Alterações neurológicas (como doenças degenerativas ou epilepsia);  
  • Perda de audição;  
  • Prematuridade, baixo peso ao nascimento e permanência na incubadora;  
  • AVC e/ou traumatismo craniano.  

As pessoas com Perturbação do PA podem apresentar um ou vários sinais/sintomas comportamentais, como:  

  • Dificuldade em ouvir num ambiente ruidoso;  
  • Dificuldade em compreender mensagens orais;  
  • Solicitar com frequência a repetição da informação que ouve;  
  • Apresentar dificuldades durante a aquisição da leitura e/ou escrita;  
  • Trocas de sons na fala;  
  • Comportamento distraído/desatento;  
  • Aumentar o volume da televisão;  
  • Dificuldade em seguir instruções;  
  • Dificuldade em memorizar a informação;  
  • Dificuldade em compreender anedotas e/ou mensagens com duplo sentido;
  • Baixa autoestima.  

Quando uma criança ou até mesmo um adulto apresenta queixas como estas, é recomendável que seja encaminhado para uma Avaliação de Processamento Auditivo, para que as habilidades auditivas sejam determinadas. Apesar de qualquer profissional da área da saúde e/ou da educação poder sugerir a Avaliação do PA, é aconselhável que seja realizada uma avaliação prévia pelo médico Otorrinolaringologista.  

Como é que as habilidades do Processamento Auditivo serão avaliadas?

A Avaliação de Processamento Auditivo é uma avaliação aprofundada realizada através de uma bateria de testes comportamentais, cujo objetivo é avaliar os diferentes mecanismos e habilidades auditivas. A maioria dos testes tem como base a simulação de situações desafiadoras exigidas no dia-a-dia.

Caso se verifique a existência de uma Perturbação do Processamento Auditivo no exame, deverá ser feito o encaminhamento para intervenção, designado como Treino Auditivo. 

Na Lusíadas Saúde há profissionais especializados nesta área, que realizam a avaliação e a intervenção nesta perturbação tão comum, mas ainda tão desconhecida da sociedade civil.  
 
Intervenção no Processamento Auditivo 

Dependendo da situação clínica e devido à possibilidade de coexistência com outras perturbações do desenvolvimento, como perturbação de hiperatividade e défice de atenção, perturbação específica da aprendizagem, entre outros, pode vir a ser necessário o envolvimento de outros profissionais, tais como terapeutas da fala, psicólogos, professores, psiquiatras do desenvolvimento e neurologistas, para dar apoio na conclusão do diagnóstico. 

O treino auditivo tem como princípio a capacidade que o nosso cérebro tem em modificar-se quando é sujeito a uma forte estimulação. Isto significa que a realização de exercícios auditivos adequados, numa certa frequência e por um determinado período de tempo, possibilita a modificação das estruturas cerebrais, aumentando e fortalecendo as estruturas responsáveis pelas habilidades auditivas.

A intervenção é feita através de um plano de atividades específicas adaptado a cada paciente, focado nas modificações ambientais, treino auditivo e estratégias compensatórias. No caso das crianças, os familiares são peças fundamentais no plano de treino, uma vez que a sua colaboração é muito importante para a execução das atividades diárias. A melhoria das habilidades auditivas e a consequente melhoria da compreensão da linguagem oral beneficiará o sucesso escolar e a participação na vida social. As dificuldades, quando não tratadas, podem prolongar-se até à idade adulta.

O treino auditivo pode ser realizado por um Audiologista ou por um Terapeuta da Fala e, por vezes, por ambos, dependendo do caso e das dificuldades levantadas durante a avaliação. 

Da prevenção, ao diagnóstico, passando também pelo tratamento – estará em boas mãos em qualquer unidade Lusíadas, onde encontrará profissionais com especializações que se enquadram nas suas necessidades individuais.  

 

Artigo elaborado pela Audiologista Ana Patrícia Silva do Hospital Lusíadas Lisboa

 

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