Uma cimeira para abordar as patologias renais
O auditório do Hospital Lusíadas Lisboa recebeu, no passado dia 17 de novembro, a primeira edição do Lusíadas Urology Summit. Promovido pela Lusíadas Knowledge Center, este encontro reuniu urologistas, nefrologistas, radiologistas, oncologistas, bem como especialistas de outras áreas, para juntos partilharem conhecimento e discutir novas abordagens no tratamento das patologias – benignas e malignas – do rim.
Num momento em que o setor da saúde caminha para uma crescente especialização, a Comissão Científica responsável pela organização desta cimeira quis trazer a debate e reflexão uma visão 360º sobre o universo do rim. Desse modo, ao longo do dia foram abordados temas tão abrangentes e diversos como os meios de rastreio usados no diagnóstico das patologias renais, o panorama atual das principais doenças do foro renal – com destaque para a litíase, a doença renal crónica ou o tumor do rim, o desenvolvimento de novas terapêuticas, o retrato dos transplantes renais em Portugal ou os avanços verificados na cirurgia renal – cada vez menos invasiva e de maior precisão.
José Garção Nunes, coordenador de urologia do Cluster Lusíadas Lisboa e membro da Comissão Organizadora do “Lusíadas Urology Summit: Around the Kidney”, destacou a elevada qualidade das apresentações feitas ao longo do dia e que comprovam como “estamos a par de tudo aquilo que é atual e de futuro da urologia a nível mundial”. O evento reflete igualmente uma aposta crescente da Lusíadas Saúde no domínio da investigação e da formação na especialidade de Urologia. “Esperamos que este evento seja a génese de uma vertente mais académica nos nossos hospitais. Temos de gerir e de gerar conhecimento para o futuro. Dada a elevada expertise [dos hospitais privados], é fundamental existir esta partilha de conhecimento”, afirma Rui Lúcio, urologista e membro da Comissão Organizadora do evento.
O objetivo final é inequívoco: “garantir o melhor tratamento a cada doente”, sublinha José Garção Nunes.
Porquê a escolha do Rim como tema central do primeiro Lusíadas Urology Summit?
Dentro da especialidade de Urologia, as patologias relacionadas com a próstata ou a bexiga são, frequentemente, as mais mencionadas e conhecidas junto da população. Contudo, existe um conjunto de patologias ligadas ao rim que afetam a vida de milhões de portugueses e estão a registar uma procura crescente de cuidados de saúde. A litíase renal – comumente conhecida como “pedras nos rins” – espelha essa realidade, sendo este um dos principais motivos que levam os portugueses a recorrer aos serviços de urgência.
“Portugal é um país envelhecido. Segundo a Fundação Francisco Manuel dos Santos, somos o 4.º país mais envelhecido do mundo. O que significa que há um conjunto de patologias renais e prostáticas que são hoje mais relevantes e necessitam da nossa atenção”, afirmou Vasco Antunes Pereira, CEO da Lusíadas Saúde.
Os números confirmam-no. Em Portugal a doença crónica renal (DCR) afeta, pelo menos, 10% da população portuguesa – sendo que alguns estudos, com metodologias diferentes, elevam a taxa de prevalência da DCR até 20% no nosso país. Além disso, Portugal apresenta a 3.ª taxa de incidência mais elevada na Europa de pacientes a fazer terapêutica substitutiva da função renal (diálise). As estatísticas convidam à reflexão, especialmente, quando as projeções mundiais apontam para que em 2040 a DRC possa ser a 5ª maior causa de anos de vida perdidos.
Ciente de que é fundamental aumentar a consciencialização para o problema renal e, em simultâneo, ser crucial uma atuação multidisciplinar para travar a progressão das patologias renais, a Lusíadas Knowledge Center colocou o rim no centro desta primeira edição do Lusíadas Urology Summit.
Inovação e tecnologia no tratamento médico das patologias renais
A inteligência artificial, a realidade aumentada ou a robótica são temas que fazem parte da realidade da medicina em Portugal e a Urologia não é exceção. No Hospital Lusíadas Lisboa, por exemplo, a especialidade de Urologia é responsável por 64% das cirurgias realizadas com recurso a robot. Mas ao longo dos diversos painéis da cimeira foi possível verificar os vários avanços médicos que estão a ser registados nas diversas dimensões da doença renal – desde o rastreio, passando pelo tratamento até à cirurgia.
No que diz ao rastreio e ao diagnóstico da patologia renal, Ana Rita Lucas, radiologista no Hospital Lusíadas Lisboa, explicou que 50% das pessoas com mais de 50 anos terão pelo menos uma lesão focal renal na sua vida, sendo na sua maioria quistos simples, sem relevância clínica. Contudo, “a maioria das lesões sólidas documentadas acidentalmente são lesões malignas e é assim que detetamos a maioria dos carcinomas das células renais”. Neste contexto, Ana Rita Lucas explicou os protocolos e as metodologias usadas em imagiologia – através de TAC’s abdominais, ecografias ou ressonâncias – para diferenciar as lesões suspeitas das lesões benignas.
Os avanços médicos nas patologias renais espelham-se também em outras frentes, como na inovação farmacológica. Nesse sentido, Joaquim Calado, nefrologista no Hospital Lusíadas Lisboa, apresentou os novos fármacos que estão a ser desenvolvidos para o tratamento da doença renal crónica (entre eles, os inibidores do SGLT2 e o finerenone). Ainda no âmbito da terapêutica, mas numa outra dimensão, Alina Rosinha, oncologista no IPO Porto, expôs os avanços que têm sido realizados no tratamento adjuvante do cancro do rim em estadio avançado, situações mais raras – salientando os diversos ensaios clínicos que têm sido realizados neste campo, incluindo com o fármaco pembrolizumab.
Ainda no âmbito da inovação, vários outros temas muito relevantes foram endereçados nesta primeira edição do Lusíadas Urology Summit: o desafio de encontrar soluções de tratamento para os tumores não células claras foi abordado por Daniela Macedo, oncologista no Hospital Lusíadas Lisboa, enquanto o urologista do Centro Hospitalar Lisboa Central, Pedro Baltazar, focou um tema menos habitual: o papel do metabolismo no tratamento da litíase. “Era importante investirmos mais do ponto de vista metabólico e, eventualmente, colaborarmos mais diretamente com a nefrologia para termos mais armas terapêuticas”, sublinhou o especialista.
Patologia renal: da cirurgia aberta à cirurgia robótica
Uma área onde se tem registado uma crescente inovação e o desenvolvimento de novas abordagens é na cirurgia renal. Da cirurgia aberta, passámos para a disrupção impulsionada pela cirurgia laparoscópica e, atualmente, assistimos ao advento da cirurgia robótica. Sobre esta evolução, o urologista do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, Pedro Simões, exemplifica o caminho percorrido nas últimas décadas na cirurgia da litíase: “Até ao início dos anos 80, o tratamento cirúrgico da litíase implicava uma cirurgia aberta. Atualmente, a cirurgia passou a ser minimamente invasiva. E hoje estamos a caminhar para um mundo onde a inteligência artificial e a realidade virtual estão a tomar conta do tratamento da litíase renal”. A opinião foi corroborada por Rui Lúcio. Na sua intervenção alusiva ao tema da cirurgia robótica na patologia renal, elemento da Comissão Organizadora do Lusíadas Urology Summit, mencionou as vantagens para a utilização da robótica onde se destacam aspetos como: as menores perdas sanguíneas, os menores períodos de internamento e uma recuperação mais rápida dos doentes. Por seu lado, Rui Borges, urologista no Hospital Lusíadas Porto especializado em cirurgia laparoscópica e cirurgia robótica, abordou as vantagens da retroperitoneoscopia e quais as situações em que este procedimento cirúrgico deve ser privilegiado.
Mas para que as novas técnicas e novas tecnologias possam ser incorporadas no dia a dia da prática clínica é também fundamental a aposta contínua na formação dos médicos especialistas. Por essa razão, o Lusíadas Urology Summit dedicou um painel à gestão do erro médico, salientando não só o contributo das normas de orientação para a diminuição do erro no tumor renal, mas também a importância da formação para minimizar o risco de erro técnico na cirurgia do rim.
Em conclusão
O Lusíadas Urology Summit permitiu a partilha de conhecimento e a discussão de ideias e de novas abordagens às patologias do rim. No final do encontro, ficou patente a ideia de que a Urologia praticada em Portugal acompanha os padrões europeus
quer na capacidade formativa de qualidade, bem como na aplicação de técnicas de diagnóstico e de tratamento de última geração.
No entanto, a complexidade desta especialidade exige, da parte das entidades prestadoras de cuidados de saúde, uma abordagem organizada e multidisciplinar para garantir o melhor tratamento possível a cada doente. Eduarda Reis, presidente do Conselho Médico da Lusíadas Saúde explicou o que está a ser feito dentro do grupo: “A inovação na Urologia depende também da inovação tecnológica e a Lusíadas Saúde tem acompanhado esta evolução, desde logo pela organização da especialidade em cluster, o que nos permitiu criar sinergias e personalizar os centros de respostas apresentados a cada doente independente do local físico onde estão a ser acompanhados”.