Pedras no caminho

A Saúde Mental em foco nas Grandes Figuras da nossa História.

“Pedras no Caminho” é o início daquela frase que Pessoa afinal não escreveu, mas que até podia ter escrito. E é também uma iniciativa da Lusíadas Saúde no âmbito do Outubro Verde, mês dedicado à consciencialização das temáticas de Saúde Mental. Trata-se de um percurso virtual na Grande Lisboa, entre personalidades incontornáveis da nossa História e os desafios que também eles enfrentaram ao longo das suas vidas.

8 Grandes Figuras
8 Grandes Figuras

representadas pelas suas estátuas, com a Saúde Mental em foco. 

MARQUÊS DO POMBAL

MARQUÊS DO POMBAL

PRAÇA DO MARQUÊS DO POMBAL (LISBOA)

Estátua de Fernandes de Sá

 

“Agora há que enterrar os mortos, cuidar dos vivos e fechar os portos.”

 

Sebastião José de Carvalho e Melo (1699-1782), Marquês de Pombal, foi um influente estadista português do século XVIII. Como ministro de D. José I, liderou reformas profundas em áreas como a economia, educação e administração pública, promovendo o absolutismo régio. Ficou especialmente conhecido pela sua resposta ao Terramoto de Lisboa de 1755, organizando a reconstrução da cidade.

Embora não haja provas de que o Marquês tenha lidado com questões de saúde mental, alguns historiadores sugerem que o seu comportamento autoritário e suspeitoso pode ser indicativo de instabilidade psicológica. A desconfiança extrema, como a perseguição à família Távora e aos Jesuítas, e a necessidade de controlo absoluto sugerem sinais de paranoia e ansiedade. O peso das suas responsabilidades, especialmente após o Terramoto, e a pressão constante podem ter contribuído para um possível desgaste emocional. No entanto, aos dias de hoje, podemos apenas especular.

 

FERNANDO PESSOA

FERNANDO PESSOA

RUA GARRETT (LISBOA)

Estátua de Lagoa Henriques

 

“A liberdade é a possibilidade do isolamento. Se te é impossível viver só, nasceste escravo.”

 

Fernando António Nogueira Pessoa (1888-1935) foi um dos maiores poetas e escritores portugueses do séc. XX, conhecido pela obra complexa e criação de heterónimos – personalidades literárias distintas, através das quais explorou diferentes visões do mundo. A sua poesia abrange temas como a identidade, a metafísica e a saudade, com um estilo inovador e profundo. 

Ao longo da vida, Pessoa parece ter lidado com questões de saúde mental, embora seja difícil de determinar a natureza das mesmas. Vivia de forma introspetiva e solitária, e a criação de múltiplos heterónimos pode sugerir uma dinâmica interna complexa, ligada a distúrbios dissociativos ou a uma fuga à realidade. Além disso, há indícios de que o poeta sofria de depressão e ansiedade, refletidos na escrita melancólica e na visão pessimista do mundo. O consumo excessivo de álcool que lhe é atribuído, pode ter sido uma forma de lidar com esses estados emocionais. 

 

ANTERO DE QUENTAL

ANTERO DE QUENTAL

JARDIM DA ESTRELA (LISBOA)

Estátua de Salvador Barata Feyo

 

“Hoje sou homem, e na sombra enorme

Vejo, a meus pés, a escada multiforme,

Que desce, em espirais, da imensidade...”

 

Antero Tarquínio de Quental (1842-1891) foi um importante poeta, ensaísta e filósofo português do século XIX, associado ao Realismo e Simbolismo. Destacou-se como figura central da Geração de 70, promovendo ideias de renovação cultural e literária em Portugal. Foi também um pensador ativo, contribuindo para o debate sobre a identidade nacional e as questões sociais da época.

A saúde mental terá sido um desafio constante para o poeta, com episódios de depressão profunda e de crises existenciais. Conhecido pela sua melancolia, esta foi uma luta silenciosa que vemos refletida em muitos dos seus poemas, que abordam a solidão e o sofrimento. Apesar de talento literário e impacto cultural, a instabilidade afetou a sua vida pessoal e criativa, e levou-o mesmo a frequentar instituições como o Hospício de Rilhafoles. Em junho de 1891, cometeu suicídio num banco de jardim, diante de uma parede que continha a palavra “esperança”.

 

ALMEIDA GARRETT

ALMEIDA GARRETT

AVENIDA DA LIBERDADE (LISBOA)

Estátua de Salvador Barata Feyo

 

“Imaginar é sonhar, dorme e repousa a vida no entretanto; 

sentir é viver activamente, cansa-a e consome-a”

 

João Baptista da Silva Leitão de Almeida Garrett, mais tarde 1º Visconde de Almeida Garrett (1799-1854), foi um importante escritor, dramaturgo e político do séc. XIX, pioneiro do Romantismo no nosso país. Foi também uma figura influente na política e cultura, promovendo reformas no teatro e na educação, e contribuindo significativamente para o renascimento literário e artístico em Portugal. 

A sua vida e obra revelam uma grande sensibilidade, característica dos românticos, que muitas vezes exploravam temas ligados à melancolia, à paixão e ao sofrimento. Garrett viveu em tempos conturbados do ponto de vista político, tendo-se exilado durante as guerras liberais, o que poderá ter tido impacto no seu estado emocional. Era também conhecido por estar frequentemente em estados de ansiedade e inquietação, refletindo na sua escrita o conflito entre o idealismo e a realidade, assim como a reflexão sobre o sofrimento humano.

 

CAMILO CASTELO BRANCO

CAMILO CASTELO BRANCO

AVENIDA DUQUE DE LOULÉ (LISBOA)

Estátua de António Duarte

 

“A felicidade é parecida com a liberdade, porque toda a gente fala nela e ninguém a goza.”

 

Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco (1825-1890), 1º Visconde de Correia Botelho - título concedido pelo rei D. Luís, foi um dos mais prolíficos e influentes escritores portugueses do séc. XIX. A sua vasta produção literária inclui romances, contos, teatro e ensaios, destacando-o como figura de proa do Romantismo em Portugal. 

Não há dúvida que Camilo sempre lidou com questões de saúde mental, culminando num trágico suicídio em 1890. A sua vida pessoal foi tumultuosa, marcada por paixões intensas, escândalos amorosos, dificuldades financeiras e problemas com a justiça. Nos seus últimos anos, perdeu a visão, o que agravou o seu já frágil equilíbrio psicológico, levando-o a uma melancolia profunda. Há indícios de que sofria de transtornos depressivos e de uma personalidade emocionalmente instável, algo que era amplamente refletido na sua escrita e obra literária.

 

DONA MARIA I

DONA MARIA I

PALÁCIO NACIONAL DE QUELUZ (QUELUZ)

Estátua de João José de Aguiar

 

“Mais devagar! 

Vão pensar que estamos a fugir!”

 

Maria I (nome completo: Maria Francisca Isabel Josefa Antónia Gertrudes Rita Joana de Bragança; 1734–1816), chamada "a Piedosa" e "a Louca", foi a primeira rainha reinante de Portugal, governando de 1777 até 1816. Filha de D. José I, o seu reinado foi marcado por reformas e prosperidade inicial, mas também por grandes desafios, como as Guerras Napoleónicas e a fuga da família real para o Brasil.

D. Maria I enfrentou sérios problemas de saúde mental, especialmente nos derradeiros anos do seu reinado. Após a morte do seu marido, D. Pedro III, e do filho primogénito, D. José, começou a manifestar sinais de depressão profunda, crises de choro incontroláveis e delírios. A gravidade do seu estado levou mesmo à incapacidade de governar a partir de 1792, sendo o poder assumido por D. João VI. As pressões das Guerras Napoleónicas e a necessidade de fuga da família real para o Brasil vieram agravar ainda mais o seu equilíbrio emocional, tendo passado os seus últimos dias isolada e em sofrimento.

 

FLORBELA ESPANCA

FLORBELA ESPANCA

PARQUE DOS POETAS (OEIRAS)

Estátua de Francisco Simões

 

“A vida é sempre a mesma para todos: rede de ilusões e desenganos.

O quadro é único, a moldura é que é diferente.”

 

Florbela Espanca (1894-1930), batizada como Flor Bela Lobo, foi uma importante poetisa portuguesa do início do séc. XX, conhecida pela sua grande expressividade e por abordar temas como o amor, a solidão e a busca pela identidade feminina. Assumiu grande destaque no Movimento Modernista Português, desafiando as normas sociais e literárias da época.

A poetisa sofreu de depressão e graves crises exacerbadas por experiências de vida difíceis, incluindo desilusões amorosas, problemas familiares e a luta pela aceitação na sociedade literária vigente. Muitos dos seus poemas expressam sentimentos de solidão, dor e a busca por um amor ideal, evidenciando a sua luta interna e a melancolia que sempre a acompanhou. A intensidade emocional presente na obra sugere que Florbela não apenas lidou com essas questões, mas também as usou como matéria-prima para sua criação literária. Uma profunda angústia existencial que apenas teve fim de forma trágica, na forma de suicídio.

 

MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO

MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO

PARQUE DOS POETAS (OEIRAS)

Estátua de Francisco Simões

 

“Eu não sou eu nem sou outro

sou qualquer coisa de intermédio.”

 

Mário de Sá-Carneiro (1890-1916) foi um poeta, contista e ficcionista português, associado ao Movimento Modernista e à Geração d’Orpheu. Destacou-se pela sua escrita inovadora e pelo aprofundar de temas como a angústia, o amor e a busca pela identidade. A sua obra mais conhecida, “A Confissão de Lúcio”, reflete suas inquietações existenciais. 

Mário de Sá-Carneiro lidou com questões de saúde mental, evidenciadas por uma intensa luta interior e episódios de depressão e ansiedade. A sua própria correspondência é reveladora da sua angústia existencial e de um profundo sentimento de inadequação. A constante busca por um sentido para a vida e o desejo de fugir à realidade, estão patentes em muitos dos seus textos. A sua vida pessoal foi marcada por relações tumultuosas e uma enorme sensação de desespero, que culminou com o suicídio, aos 25 anos de idade. 

Se está neste momento a lidar com questões de Saúde Mental contacte-nos: 

No Hospital Lusíadas Monsanto, encontrará uma equipa experiente  e empenhada para lhe dar todo o apoio nas várias fases do processo: da prevenção ao diagnóstico, e ao tratamento.

Cuidar da Saúde Mental é normal. E merece dedicação total.