5 min

Coronavírus: como abordar o tema com as crianças

Validação Científica
Estratégias para ajudar, de forma tranquilizadora, o seu filho a lidar com o surto de coronavírus.

Numa altura de incerteza em que as notícias e as conversas que as crianças ouvem estão centradas na propagação do novo coronavírus, é importante adotar uma postura que as ajude a digerir e a enquadrar essa informação. “As crianças podem sentir dificuldade em perceber o que estão a ver online ou na televisão – ou mesmo o que estão a ouvir de outras pessoas – por isso, elas podem estar particularmente vulneráveis a sentimentos de ansiedade, stresse e tristeza”, assinala a UNICEF, num artigo dirigido aos adultos.

Foi por essa razão que a agência da Organização das Nações Unidas (ONU) para a infância compilou um conjunto de conselhos para que os pais possam ajudar as crianças neste momento. Uma das mensagens principais refere-se à importância de promover a abertura e transparência: “Ter uma conversa franca e tranquilizadora com as crianças pode ajudá-las a perceber, a lidar e até a ajudar outros a lidarem de forma positiva com esta situação.”

1. Faça perguntas abertas e oiça

Comece por incentivar a criança a falar sobre o assunto. Desta forma, saberá o que ela já sabe. Se as crianças forem muito pequenas e ainda não tiverem ouvido falar do surto, poderá não haver necessidade de levantar a questão – aproveite apenas para as lembrar de que devem manter boas práticas de higiene sem lhes incutir novos medos.

Quando conversar com o seu filho, certifique-se de que está num ambiente confortável para ele e deixe-o à-vontade para falar. Desenhos, histórias e outras atividades podem ajudar a lançar o tema de conversa. Mais importante que tudo: não minimize ou tente contornar as preocupações das crianças. Esteja atento aos sentimentos manifestados pela criança e garanta-lhe que é natural sentir medo. Demonstre que está a ouvi-la, dando-lhe, para isso, toda a atenção e certifique-se de que a criança percebe que está disponível para falar com ela sempre que sentir necessidade.

2. Seja honesto: explique a verdade, mas de forma adequada à criança

As crianças têm o direito de receber informação verdadeira sobre o que está a acontecer, mas os adultos têm a responsabilidade de as manter protegidas dos problemas. Use uma linguagem apropriada à idade da criança, esteja atento às suas reações e seja sensível ao seu nível de ansiedade. Se não conseguir responder a todas as perguntas, tente não dar palpites.

Aproveite essa oportunidade para, juntos, tentarem encontrar respostas. Para tal, poderá recorrer a sites de organizações internacionais como a UNICEF ou a Organização Mundial da Saúde (OMS) que são fontes de informação fidedignas. Explique à criança que há informações publicadas na internet que não são rigorosas e que é melhor confiar nos especialistas.

Como explicar o coronavírus às crianças? Os conselhos do pediatra

 

3. Mostre-lhes como se podem proteger a elas e aos seus amigos

Uma das melhores formas de manter as crianças protegidas do coronavírus e de outras doenças é, simplesmente, encorajá-las a lavar as mãos regularmente. Não é preciso ter uma conversa que lhes incuta medo.

Poderá ensiná-las a lavar as mãos enquanto canta uma música (por exemplo, entoar o “Parabéns a Você” duas vezes) ou segue uma coreografia. Também pode mostrar como é que devem tossir e espirrar para a face anterior do cotovelo e explicar-lhes que é melhor não se aproximarem muito de pessoas que manifestam esses sintomas. Peça-lhes ainda para lhe dizerem se se começarem a sentir com febre, tosse ou dificuldade em respirar.

4. Transmita-lhes segurança

Ao ver imagens perturbadoras na televisão ou na internet, pode ficar-se com a sensação de que estamos submersos pela crise. As crianças podem não conseguir distinguir as imagens que veem nos ecrãs da sua realidade pessoal, e podem acreditar que há um perigo iminente.

Se for esse o caso, ajude-as a lidar com esse stresse criando oportunidades para que elas brinquem e relaxem. É ainda importante manter as rotinas e os horários tanto quanto possível, sobretudo nas horas que antecedem a ida para a cama. Se há um surto na sua zona de residência, lembre as crianças de que não é provável que elas sejam afetadas e que a maior parte das pessoas que desenvolvem a doença não ficam muito doentes.

Transmita-lhes a ideia de que há muitos adultos a trabalhar arduamente para manter as famílias a salvo – a deles e a das outras pessoas. Se as crianças não se sentirem bem, explique-lhes que têm de ficar em casa/no hospital porque é mais seguro para elas e para os seus amigos. Tranquilize-as dizendo-lhes que sabe que é difícil (talvez até assustador e, por vezes, aborrecido), mas que seguir as regras ajudará a que todos se mantenham bem e seguros.

5. Verifique se as crianças estão a espalhar ou a ser vítima de estigmas

O surto de coronavírus trouxe consigo numerosas situações de discriminação racial em todo o mundo, por isso é importante que as crianças não sejam vítimas ou contribuam para o bullying. Explique-lhes que o coronavírus não tem nada que ver com o aspeto das pessoas, com o local de onde vêm ou com a língua que falam.

Se as crianças foram alvo de bullying na escola, elas devem sentir-se à-vontade para dizer a um adulto em quem confiam. Recorde-as de que todos merecem sentir-se seguros na escola, de que o bullying é sempre errado e de que elas devem fazer a sua parte, ajudando e sendo gentis para os outros.

6. Mostre-lhes aqueles que estão a ajudar

É importante que as crianças saibam que as pessoas estão a ajudar-se através de atos de gentileza e de generosidade. Partilhe histórias de profissionais da área da saúde, cientistas e jovens que, tal como outros, estão a trabalhar para colocar um fim ao surto e assim proteger as comunidades. Pode ser um grande conforto para elas saber que há pessoas que estão ativamente empenhadas em ajudar.

7. Cuide de si

Será capaz de ajudar melhor as crianças se estiver também a lidar bem com a situação. As crianças vão aperceber-se da sua reação às notícias, por isso, se se mantiver calmo e controlado, vai ajudá-las também. Se estiver a sentir-se ansioso e triste, reserve um tempo só para si e peça ajuda a familiares, amigos e pessoas próximas. Tire algum tempo para seguir atividades que o ajudem a relaxar e a recuperar.

8. Termine as conversas com cuidado

É importante certificar-se de que, depois da conversa, as crianças não ficam ansiosas. À medida que a conversa termina, tente avaliar o nível de ansiedade da criança observando a sua linguagem corporal e verificando se ela mantém o tom de voz e o ritmo de respiração normais. Lembre os seus filhos de que podem conversar consigo em qualquer momento, de que se preocupa com eles, os ouve e de que está disponível sempre que se sentirem preocupados.

Fonte: UNICEF

Ler mais sobre

Coronavírus

Este artigo foi útil?

Revisão Científica

Dr. João Bismarck Pereira

Dr. João Bismarck Pereira

Coordenador da Unidade de Pediatria

Hospital Lusíadas Lisboa

Especialidades em foco neste artigo

Especialidades em foco neste artigo

PT