Jovens: como lidar com eles?
Jovens e verdes anos
Se a adolescência é uma fase complicada, Vanda Miranda, locutora de rádio com 43 anos, não parece ter dado por isso. Numa animada conversa a duas vozes, Vanda Miranda e a filha Sofia, com 20 anos, falam de um período que é frequentemente temido pelos pais e muito sofrido pelos filhos. "Há livros que nos dão indicações, mas a vida nem sempre se faz pelos livros. Talvez por ter sido mãe muito cedo, fui fazendo as coisas por tentativa e erro", justifica. Começa por dizer que a filha não lhe "complicou muito a vida na adolescência. Há coisas em que não concordamos, mas sempre tivemos uma relação muito próxima".
Um irmão bebé na adolescência
Ambas avançam que a fase menos fácil terá sido aos 14 anos, por altura do nascimento do irmão. "Senti que ela gostava muito dele, mas estava muito ligada a mim. Entre o querer e o ter um irmão há uma diferença. Notei-lhe algum distanciamento." Sofia confirma: "Foi uma fase mais complicada, não por ter ciúmes mas porque precisava do meu espaço. Aos 14 anos queremos estar sozinhos e que não nos chateiem. Mas não podia fazer o que queria, tinha de estar limitada aos horários de uma criança. Além disso, passámos a demorar três horas para sair de casa e, nessa idade, há menos paciência." Por outro lado, a mãe acrescenta que quando há dois filhos as atenções dividem-se e Sofia concorda: "Acabou por ser benéfico. Quando era filha única era o centro das atenções, no bom e no mau sentido. Com o nascimento do Tiago acabei por ganhar alguma liberdade." Foi nessa altura que pediu para ir para um campo de férias. "Estava com o coração apertado, mas senti que tinha de a deixar ir. Não se trata de cedências, é aprender que ganham asas."
"Mãe, não me estragues o cenário"
A geração de Sofia nasceu com mais acesso às novas tecnologias, o que também determina as formas de controlo e de comunicação. "A partir do momento em que teve um telemóvel, passou a ser quase regra enviar uma mensagem assim que chega aos sítios, a dizer que está tudo bem, para eu ficar descansada. Mas não a vou envergonhar ao pé dos colegas", assegura a mãe. "Nós também já fomos adolescentes e, por isso, devemos lembrar-nos do que resultou connosco e do que nos incomodou. Um dia, quando lhe ia dar um beijinho à porta da escola, ela disse-me: 'Vá lá, mãe, não me estragues o cenário.' Em vez de ficar zangada, achei piada porque percebi. Daqui a uns tempos se calhar é ela que se zanga porque não lhe dei um beijinho."
Ter "a conversa"
"Nunca tivemos uma conversa direta sobre sexo. Sempre a deixei à vontade para me perguntar qualquer coisa, mas não impus qualquer obrigação", diz Vanda. "Até porque seria uma conversa muito constrangedora", acrescenta Sofia entre risos. Para encontrar as respostas às suas dúvidas, a filha pôde contar com a médica ginecologista da mãe. "Marquei a consulta, mas não estive presente. Acho que ela só tem de partilhar comigo o que entender."
Definir limites
Na adolescência, talvez o que a mãe mais temesse fossem as saídas à noite. Mas, mais uma vez, Sofia não lhe deu trabalho de maior. "No início, por vezes íamos nós buscá-la, outras vezes combinávamos com outros pais." A construção de uma relação sólida, baseada na comunicação e na confiança, ajudou a estabelecer limites adequados. "Acredito que quanto mais proibimos e controlamos, mais eles se podem rebelar e fazer asneiras. Eu também fui educada assim: o meu pai não marcava horas, mas pedia-me que não chegasse tarde. Tentei educar a Sofia da mesma forma, não impondo limites mas explicando as coisas, referindo os riscos. Desde cedo falei-lhe do álcool e das drogas." Vanda afirma que sempre quis "ser honesta com os perigos do mundo, mas sem dramatizar em demasia, como 'tem atenção ao teu copo na discoteca, põe o cinto, cuidado com as boleias… Fui muito chata, não fui?", pergunta à filha, que confirma: "Ainda hoje, se for no carro com alguém, ela diz-me 'põe o cinto'…. Mas eu ponho sempre o cinto, não é preciso dizer!", assegura Sofia. No entanto, Vanda acredita que "nunca são demasiado velhos para estes avisos". Ainda assim, procura saber: "Vá, diz lá… fui castradora?" Sofia descansa-a: "O facto de não ter limites demasiado exagerados fez com que não tivesse necessidade de desafiar a autoridade. Fui tendo autonomia e responsabilidade. Sempre tive muito respeito pelo que me diziam, tanto que às vezes nem pedia porque não queria chatear e tinha medo de desiludir."
Nem tudo são rosas
Apesar de um caminho com poucos sobressaltos, houve espaço para a natural insatisfação. "Ela também teve os seus momentos de 'drama queen', de desatar a chorar e dizer 'a minha vida é muito complicada! Eu não sei o que fazer!' Confesso que nem sempre aceitei esses momentos com grande diplomacia. Mas havia alturas em que me sentava e conversava", recorda Vanda Miranda. Ao longo da entrevista deu para entender que o amor e respeito mútuo permitiram que esta viagem tenha seguido sem problemas de maior. "Nunca fiz grandes projeções, foi sempre tudo muito natural e o feedback que tínhamos das outras pessoas também ajudou. Todos falam da nossa relação como uma coisa perfeita. Isso não é verdade, é algo que não existe, e nós também nos chateamos. Mas nunca tivemos medo de pedir desculpa." Se há segredos este é, sem dúvida, um deles. Publicado em maio de 2015