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Obesidade: por que é fator de risco da diabetes?

Colaboração
Apelidada muitas vezes como “a doença do século XXI”, a obesidade é um dos principais fatores de risco para a diabetes tipo II. Rui Ribeiro, especialista em cirurgia geral e coordenador do Centro Multidisciplinar de Tratamento da Obesidade do Hospital Lusíadas Amadora, explica o porquê desta relação de risco.

Há uma verdade evidente por detrás dos números e estatísticas: a obesidade está estreitamente associada à diabetes tipo II, a forma mais comum de diabetes. A diabetes tipo II atinge 85% dos diabéticos, refere coordenador do Centro Multidisciplinar de Tratamento da Obesidade do Hospital Lusíadas Amadora.

Por outro lado, 20% a 30% dos obesos desenvolvem diabetes tipo II. Ambas as doenças partilham laços comuns e, mais do que isso, o excesso de peso acaba por agravar o risco de diabetes. Adotar hábitos de vida saudáveis é, assim, uma forma de prevenção para ambas as patologias.

Por que é que a obesidade é um fator de risco para a diabetes tipo II?

Como explica o coordenador do Centro Multidisciplinar da Doença Metabólica do Hospital Lusíadas Amadora, “a obesidade é um fator de risco para a diabetes, pois associa-se a um consumo exagerado de hidratos de carbono, e principalmente açúcar, conduzindo a um fenómeno chamado de insulino-resistência, que por sua vez leva a uma hiperprodução compensatória de insulina e a um progressivo desgaste pancreático”.

Ou seja, à medida que o peso se acumula, é necessária mais insulina porque há um corpo maior e, para mais, a sensibilidade dos tecidos aos efeitos da insulina diminui. Como resultado, o pâncreas (órgão que produz insulina) precisa de produzir mais insulina, com maior esforço, de forma a compensar a resistência à insulina. Um pouco como um ciclista que, perante uma subida íngreme, tem de pedalar mais, com maior desgaste das pernas.

Se a subida for muito longa (ou, neste caso, se o peso for demasiado), as pernas podem mesmo ceder e a bicicleta começa a ir para trás. No organismo, atingir este ponto significa que a produção de insulina entra em declínio e que, progressivamente, se chega a um caso de diabetes tipo II.

Por que é que a gordura abdominal acresce este risco?

Qualquer gordura em excesso é um fator de risco para a diabetes e outras doenças metabólicas, como a hipertensão arterial ou a inflamação crónica. No entanto, a gordura abdominal é particularmente grave, pois é mais ativa na produção de moléculas pró-inflamatórias que vão provocar a insulino-resistência, mecanismo primário da diabetes tipo II.

Um abdómen protuso significa acumulação excessiva de gordura nos órgãos interiores. Essa gordura vai produzir substâncias que geram um estado inflamatório crónico e diversas doenças: diabetes tipo 2, hipertensão arterial, dislipidemia e apneia do sono (síndrome metabólico). Estas doenças são as responsáveis pela principal causa de morte no mundo desenvolvido, as doenças cardio e cérebro-vasculares. O risco é significativo quando o perímetro abdominal é superior a 94 cm, no caso dos homens, ou 80 cm, no caso das mulheres, de acordo com a Plataforma Contra a Obesidade, da responsabilidade da Direção-Geral da Saúde.

Que semelhanças existem entre a obesidade e diabetes?

“Quer a obesidade, quer a diabetes são doenças resultantes de uma alteração da regulação do metabolismo – a primeira dos lípidos e a segunda dos hidratos de carbono”, lembra o cirurgião geral, que faz parte da equipa médica do Hospital Lusíadas Amadora e do Hospital Lusíadas Lisboa. Além disso, como sublinha Rui Ribeiro, ambas são “doenças com base genética em que o fator ambiental promove alterações epigenéticas importantes”.

A acumulação de energia sob a forma de gordura – resultante da excessiva ingestão calórica (sobretudo doces, açucarados e gorduras), assim como de um estilo de vida sedentário – pode originar ambas as patologias.

Além disso, “fatores como o tabagismo, o stresse, a ansiedade, a falta de horários regulares ou uma má higiene do sono são potenciadores dos efeitos metabólicos da obesidade e diabetes”, alerta ainda o especialista.

Todos os diabéticos são obesos?

A obesidade é um fator de risco crítico, mas não é o único – até porque a propensão genética é a principal causa para a diabetes. Por isso mesmo, nem todos os diabéticos são obesos. Rui Ribeiro realça que, em cerca de 15% dos casos, a diabetes não está associada à obesidade e que, “de forma geral, estes casos podem até ser mais graves e difíceis de tratar”. Isto porque quando existe uma associação à obesidade é possível melhorar a diabetes com o emagrecimento resultante das mudanças de estilo de vida (primeira etapa do tratamento da diabetes tipo II).

Como prevenir a obesidade e assim reduzir o risco da diabetes?

“A adoção de um regime alimentar dietético correto resulta sempre num benefício claro para um potencial diabético, deixando a instalação da doença mais longe”, explica Rui Ribeiro. Além das mudanças alimentares é também recomendada uma atividade física regular (duas horas por semana). Em paralelo, é importante adotar outras mudanças no estilo de vida:

  • Redução do stresse;
  • Regularidade no horário das refeições;
  • Regularidade dos horários de sono;
  • Abstenção de fumar;
  • Redução do consumo de álcool.

Cada um de nós deve consultar regularmente o seu médico, de forma a poder fazer uma prevenção atempada tanto do excesso de peso e da obesidade, como da diabetes.

O que sucede quando um diabético consegue reduzir o seu peso?

“Um diabético que consiga perder peso de forma significativa, como acontece após as cirurgias de obesidade disponíveis no nosso Centro Multidisciplinar da Doença Metabólica do Hospital Lusíadas Amadora, normalmente controla de forma completa a sua diabetes tipo II e entra no chamado estado de remissão clínica”, esclarece Rui Ribeiro.

No entanto, se ocorrer uma recuperação de peso, a diabetes poderá voltar a manifestar-se, embora com apresentações mais ligeiras e menos sequelas. Por esse motivo, é necessário que o doente continue a frequentar regularmente as consultas da equipa multidisciplinar – a melhor forma de evitar a recuperação de peso e o “reacender” da diabetes.

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Revisão Científica

Dr. Rui Ribeiro

Dr. Rui Ribeiro

Coordenador da Unidade de Cirurgia Geral

Hospital Lusíadas Lisboa
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