Cancro da mama: os diferentes tipos de reconstrução mamária
"Quando comecei a trabalhar, o diagnóstico de cancro da mama era praticamente uma sentença de morte. Hoje em dia, embora continue a ser uma doença grave, as nossas armas terapêuticas são muito boas e associadas ao diagnostico precoce garantem um muito melhor prognostico", lembra Rui Leitão, coordenador da Unidade de Cirurgia Plástica do Hospital Lusíadas Lisboa.
"Atualmente é uma intercorrência muito desagradável na vida de uma mulher, mas já não tem a conotação de fatalidade obrigatória. Com isso surgiu a necessidade de encarar o tratamento desta doença de uma forma global e incluir nas nossa preocupações a recuperação da imagem, da autoestima e da confiança da mulher nela mesma", continua. "Esta é a área da reconstrução mamária", esclarece o especialista.
A reconstrução mamária é um mundo, existindo dezenas de técnicas cirúrgicas. Estas devem ser escolhidas individualmente para cada caso oferecendo a cada mulher uma solução totalmente personalizada.
Grosso modo, podemos dividir a reconstrução de acordo com o momento em que se realiza e em relação ao "material" usado para reconstruir a mama.
Em relação ao momento:
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Reconstrução mamária imediata
A mulher não chega a sair da sala de operações sem a mama, não sofrendo o trauma da amputação ou a necessidade de usar próteses externas.
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Reconstrução diferida
Faz-se a mastectomia primeiro e a reconstrução depois. Opção tomada ocasionalmente se as condições locais ou sistémicas impedirem a reconstrução mamária ou se esta for a vontade da mulher.
Em relação ao tipo:
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Tecidos da própria doente (método privilegiado pela nossa equipa)
"Estes incluem os métodos mais diferenciados, tecnicamente mais exigentes mas uma vez ultrapassada a fase de reconstrução quase não dá problemas comportando-se as duas mamas ao longo dos anos de forma igual mantendo a simetria. Uma vez passada a fase de reconstrução mamária, está pronta para a vida", afirma o médico.
Deste grupo fazem parte o DIEP (reconstrução usando a pele e gordura abdominal) o TRAM (parecido com o DIEP mas incluindo uma pastilha de músculo abdominal), o lipofilling (preenchimento com gordura lipoaspirada e processada) e outras técnicas mistas.
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Uso de próteses
Neste caso a nova mama é criada colocando uma prótese por debaixo da pele e do músculo subjacente (músculo grande peitoral).
Pode esta prótese ser colocada imediatamente se for possível poupar pele da mama ou então haver necessidade de criar espaço e nova pele através do uso inicial e um expansor (uma espécie de balão vazio) por debaixo da pele e do músculo, que vai enchendo progressivamente com soro no pós-operatório semanalmente ou quinzenalmente na consulta externa e apenas mais tarde proceder à sua substituição por uma prótese.
Neste tipo de reconstrução mamária usamos rotineiramente membranas dérmicas acelulares. Estas são materiais recentes colocados de modo a funcionarem como um acrescento do músculo que recobre a prótese ou o expansor. Permitem a realização da reconstrução com prótese num só tempo, aumentam a segurança da reconstrução e a sua qualidade
Mas nem sempre há necessidade de remover toda a mama. Também nestes casos o recurso às técnicas de cirurgia Plástica permitem que o tumor seja removido com segurança pelo cirurgião oncológico e a mama reconstruída no mesmo tempo.
Equipa multidisciplinar para a reconstrução mamária
Na preparação da cirurgia de reconstrução mamária há um trabalho de equipa que é necessário, onde estão incluídos o oncologista médico e o cirurgião oncológico, bem como o cirurgião plástico. "Temos de identificar o tipo de tumor, a necessidade ou não de fazer radioterapia, a forma da mama e a forma e localização do tumor", explica Rui Leitão. "A estes dados juntamos os desejos da mulher, já que nós apresentamos as diferentes hipóteses mas o último decisor é sempre a paciente, ela é nossa parceira. É esta cooperação que permite fazer uma escolha informada".
O fisioterapeuta é outro dos especialistas chamados para a fase de recuperação. Assim como o psicólogo que é, por vezes, indicado para ajudar em problemas de depressão ou ansiedade antes da operação.
Mastectomia profilática
Em maio de 2013, a atriz norte-americana Angelina Jolie decidiu submeter-se a uma dupla mastectomia, para reduzir as probabilidades de vir a desenvolver cancro da mama de 87% para 5%. Uma decisão polémica mas que veio acender a discussão sobre o tema. "Há indicações muito precisas para a mastectomia preventiva ou profilática.
A questão da Angelina Jolie desmistifica a necessidade de fazer uma mastectomia por risco", refere o especialista. "Mas é algo que separa as mulheres marcadas por histórias familiares – e a probabilidade de terem cancro da mama ou do ovário – das outras, em que o risco é menor".
De acordo com Rui Leitão, o exemplo da atriz norte-americana também fez surgir a vontade de outras mulheres optarem por esta solução, mesmo quando não há necessidade. "Não se tomam estas decisões de ânimo leve. O risco tem de ser gerido". E, para tomar a melhor decisão, é indispensável a consulta aos médicos especialistas. A solução mais adequada sairá sempre da ponderação dos riscos e das vantagens.
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Revisão Científica
Dr. Rui Leitão
Coordenador da Unidade de Cirurgia Plástica e Reconstrutiva