Fratura do colo do fémur: o que é e qual o tratamento
O processo de envelhecimento do corpo humano predispõe as pessoas mais idosas ao aparecimento de várias patologias. É nesse contexto que surge a fratura do colo do fémur, um acidente frequente em pessoas de idade avançada (média de 80 anos) e que tem elevados índices de mortalidade e de morbilidade associados. Tal deve-se não apenas à fratura, mas também às consequências que esta tem na vida destas pessoas que, muitas vezes, se encontram já debilitadas.
Entre os fatores de risco que aumentam a probabilidade de morte na sequência de uma fatura do colo do fémur, o mais importante e passível de ser modificado é o tempo que decorre entre a fratura e a cirurgia, o tratamento preferencial nestes casos. Quanto mais tempo a pessoa demorar a ser operada maior a probabilidade de morte.
Foi para dar resposta a estes doentes num aspeto considerado fulcral para a sua recuperação e qualidade de vida que o Hospital Lusíadas Lisboa desenvolveu a Via Verde Colo do Fémur: “Este projeto permite a realização das cirurgias no prazo máximo de 48 horas, tendo como vantagens a otimização da recuperação funcional e da qualidade de vida e a redução, muito significativa, da mobilidade e mortalidade perioperatórias”, explica o ortopedista António Sêco, responsável pelo Centro Multidisciplinar de Ortogeriatria do Hospital Lusíadas Lisboa.
O que é a fratura do colo do fémur?
O fémur é o osso que constitui o esqueleto da coxa, sendo o mais longo e resistente do corpo humano.
O colo do fémur situa-se na região proximal do osso, fazendo parte da articulação da anca, junto à bacia. A região da extremidade proximal do fémur inclui a cabeça do fémur, que se parece com uma bola, o colo do fémur, que é uma parte mais estreita e faz lembrar o pescoço, e os trocânter maior e menor, que são tuberosidades.
São consideradas fraturas do colo do fémur todas aquelas que sejam respeitantes ao segmento ósseo demarcado pela cabeça do fémur e a região pertrocantérica (ou seja, entre o pequeno e o grande trocânter).
Fatores de risco e causas
A fratura do colo do fémur ocorre na maioria das vezes na população com mais de 65 anos, havendo um pico médio de incidência nos 80 anos. O sexo feminino é mais atingido do que o masculino, numa relação de 3 mulheres para cada homem.
Neste grupo etário, as fraturas acontecem na sequência de um traumatismo mínimo ou moderado sobre um osso enfraquecido devido à osteoporose, sendo que na maioria das vezes são consequência de uma queda da própria altura (em que a pessoa cai no próprio nível em que se encontra).
As quedas são muito comuns nestas faixas etárias. Com o envelhecimento, muitas das funções que controlam a marcha passam a apresentar algum grau de declínio e a toma de medicamentos que provocam sonolência ou tonturas, ou a presença de doenças que causem sintomas como estes, favorecem a ocorrência de quedas. Já nas mulheres, a menopausa abre caminho à osteoporose, deixando os ossos mais frágeis e, logo, mais propensos às fraturas.
Além das quedas, em alguns casos, quando o osso é muito frágil, a fratura do colo do fémur pode também acontecer devido a uma torção durante uma caminhada ou até espontaneamente.
Sintomas da fratura do colo do fémur
O sintoma mais frequente e relevante é a dor na anca, que pode ser bem definida e localizada à anca (virilha ou região glútea e lateral da coxa) ou difusa e irradiada à bacia ou coxa do lado afetado.
A imobilização e incapacidade em realizar marcha são também sintomas muito importantes.
Com frequência verifica-se uma deformidade do membro afetado, com encurtamento significativo e rotação com assimetria comparando com outro membro.
Tratamento e prognóstico
Em regra, os doentes com fratura do colo do fémur devem ser submetidos a cirurgia urgente. Os resultados de vários estudos sugerem que o tratamento cirúrgico precoce (dentro das primeiras 24 a 48 horas) está associado a uma redução da mortalidade destes doentes no primeiro ano.
Excecionalmente, se os doentes não forem considerados aptos na avaliação de urgência, a cirurgia pode ser diferida (>48h).
Em situações muito raras pode optar-se por um tratamento conservador, aplicável nos casos em que exista contraindicação por patologia médica muito grave.
O principal objetivo do tratamento destas fraturas é o rápido retorno do doente ao seu nível de funcionalidade anterior, uma vez que numa idade avançada a falta de movimento acelera o enfraquecimento dos músculos e piora a saúde geral da pessoa. Assim, quanto mais tempo o doente passar sem tratamento, maior dificuldade terá em restabelecer a mobilidade e viver uma vida autónoma.
Cirurgia
As soluções cirúrgicas são diferentes dependendo do tipo de fratura do colo do fémur. Podem passar por alinhamento da fratura e fixação (osteossíntese) com cavilhas, placas e parafusos ou a colocação de próteses da anca (parciais ou totais).
Independentemente da técnica utilizada, o objetivo primário é permitir a redução / tratamento da dor e garantir a estabilidade da anca permitindo o levante do doente e o início de marcha imediatamente após a cirurgia, sem restrições de carga (colocação de todo o peso do corpo) no membro operado.
Como objetivo secundário, temos o retomar da marcha com ou sem auxiliares e como objetivo terciário o retomar do nível de função e da independência prévias à fratura.
Via Verde Colo do Fémur
Para acelerar o tratamento da fratura do colo do fémur, o Hospital Lusíadas Lisboa estabeleceu um protocolo chamado Via Verde Colo do Fémur, que sinaliza rapidamente os doentes com este traumatismo.
A Via Verde começa a atuar logo que se identifique um doente que apresente sinais de fratura do colo do fémur, tais como a ocorrência de queda com trauma dos membros inferiores, anca ou bacia e impossibilidade de andar. Se existir uma suspeita de fratura, as equipas — seja no Atendimento Urgente, consulta externa ou Internamento — estarão prontas a acionar uma série de procedimentos internos que aceleram o percurso entre a triagem e o tratamento, por norma, cirúrgico.
A Via Verde Colo do Fémur permite assim fazer-se um diagnóstico e tratamento célere da fratura do colo do fémur (idealmente até 48 horas após a fratura).
As especialidades envolvidas neste processo assistencial são a Ortopedia, Medicina Interna-Geriatria, Anestesiologia e Medicina Física e Reabilitação. No entanto, todos os outros elementos envolvidos no cuidado e circuito hospitalares são parte integrante e essencial do processo, como enfermeiros, fisioterapeutas, auxiliares, técnicos de exames complementares de diagnóstico, farmácia hospitalar, administrativos.
Centro de Ortogeriatria
A Via Verde Colo do Fémur foi o projeto inicial do Centro de Ortogeriatria do Hospital Lusíadas Lisboa que tem como objetivo principal a abordagem do doente idoso, com múltiplas patologias e polimedicado, no contexto perioperatório.
Pretende-se a identificação precoce de possíveis problemas e complicações, a estabilização, controlo e otimização perioperatórias das comorbilidades existentes, com o objetivo de diminuir a morbilidade e mortalidade cirúrgicas.
Destina-se aos doentes mais idosos e frágeis, com multimorbilidade e síndromes geriátricos que estão mais predispostos a complicações perioperatórias, médicas e cirúrgicas, com impacto negativo no seu prognóstico.
Em termos tecnológicos salienta-se, essencialmente, o material cirúrgico ortopédico e de anestesia de última geração que permite a realização de cirurgias rápidas e seguras, respeitando as indicações nacionais e internacionais mais recentes.