Helicobacter Pylori: tudo o que precisa de saber
Embora o nome Helicobacter Pylori possa soar complexo ou associado a uma condição rara, é provável que já tenha ouvido falar desta bactéria, tenha sido afetado por ela ou conheça alguém que a contraiu.
A nível mundial, esta infeção atinge cerca de uma em cada duas pessoas, o que reflete a sua prevalência alarmante. Em Portugal, somos um dos países da Europa Ocidental com maior incidência, estimando-se que entre 60% a 70% da população adulta esteja infetada, sendo que, em grande parte dos casos, a infeção é adquirida na infância. Entre as crianças, a prevalência atinge cerca de 40%.
Ainda que a presença desta bactéria seja comum e, na maioria dos casos, assintomática, algumas pessoas podem vir a desenvolver doenças gastroduodenais, como úlceras ou gastrite crónica.
Se afeta uma grande parte da população, pode permanecer silenciosa durante anos e, muitas vezes, só é descoberta quando começa a impactar a qualidade de vida, por que motivo sabemos tão pouco sobre ela? Neste artigo, vamos esclarecer as dúvidas e questões mais comuns sobre o assunto.
Helicobacter Pylori: o que é?
A Helicobacter pylori, ou simplesmente H. pylori, é uma bactéria que provoca infeções no estômago ou no duodeno (a primeira parte do intestino delgado) e é considerada a infeção bacteriana crónica mais comum a nível mundial.
A H. pylori pode estar presente na saliva, na placa bacteriana (dentes) e nas fezes. A transmissão ocorre principalmente através do contacto com a saliva ou com as mãos de pessoas infetadas que não realizam uma adequada higienização após usarem a casa de banho. Além disso, estudos indicam que a contaminação pode também ocorrer pela ingestão de água ou alimentos contaminados.
Uma vez no organismo, a bactéria vai atacar o revestimento protetor do estômago e que é o responsável por produzir uma enzima chamada urease, que ajuda a reduzir a acidez gástrica. Deste modo, a bactéria ao impactar negativamente a capacidade do estômago de se proteger contra o ácido produzido, aumenta a sua vulnerabilidade a lesões e infeções.
Quais os sintomas?
Apesar de afetar uma parte significativa da população, a manifestação clínica ocorre apenas numa pequena porção dos casos, cerca de 20%, passando despercebida. No entanto, quando os sintomas estão presentes, eles surgem como resultado da gastrite ou da úlcera péptica decorrente da infeção. Estes sintomas podem incluir:
• Dor abdominal:
- Que não desaparece;
- Que surge duas a três horas após a refeição e, particularmente, quando o estômago está vazio;
- Que vai e volta, e que pode durar vários dias ou semanas;
- Que surge a meio da noite;
- Que desaparece após comer ou à toma de medicamentos que reduzem o nível de ácido no estômago.
• Anemia;
• Perda de peso inexplicável;
• Inchaço abdominal;
• Náuseas e vómitos, que pode conter sangue;
• Indigestão;
• Eructação;
• Perda de apetite;
• Fezes mais escuras, devido à presença de sangue.
Fatores de risco
Embora a alta taxa de incidência da infeção sugira que esta pode afetar qualquer pessoa sem discriminação, existem, de facto, alguns fatores de risco a considerar:
• Viver ou visitar frequentemente países em desenvolvimento;
• Viver em condições de sobrelotação ou de grande concentração populacional;
• Falta de acesso a fontes de água limpa;
• Consumir alimentos mal lavados, crus ou cozinhados em locais com poucas condições de higiene;
• Historial familiar de cancro no estômago;
• Ter idade superior a 50 anos.
Embora estes sejam fatores de risco para a infeção por H. pylori, isso não significa que todos os casos sejam sintomáticos, o que torna a deteção precoce um desafio. Contudo, o conhecimento desses fatores pode ser importante para a prevenção, identificação e tratamento da infeção.
Prognóstico e complicações
O prognóstico é, em geral, bastante positivo se a infeção for diagnosticada e tratada adequadamente. No entanto, se a infeção não for tratada — especialmente em casos onde existem sintomas mais graves e persistentes — pode resultar em várias doenças e complicações, incluindo:
• Úlceras Pépticas: feridas abertas que se desenvolvem no revestimento do estômago ou duodeno.
• Gastrite crónica: inflamação do revestimento do estômago, que pode causar dor, náuseas e vómitos.
• Cancro do Estômago: é um fator de risco para o desenvolvimento de neoplasias, especialmente o adenocarcinoma gástrico. A presença da bactéria pode provocar alterações no revestimento do estômago, aumentando, assim, o risco de cancro ao longo do tempo.
• Linfoma MALT Gástrico: a H. pylori também está implicada no desenvolvimento do linfoma MALT gástrico, um tipo raro de linfoma que pode afetar o estômago.
É importante destacar que a maioria das pessoas infetadas não desenvolve complicações graves. No entanto, devido ao risco de problemas a longo prazo, o diagnóstico e tratamento precoces da infeção são fundamentais.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico é realizado através de testes que identificam a presença da bactéria ou sinais da sua atividade no organismo. A escolha do teste mais apropriado depende da situação clínica do doente, da disponibilidade dos métodos de diagnóstico e da suspeita de possíveis complicações.
Os testes mais comuns incluem:
• Testes às fezes:
- Teste de antigénio: visa procurar proteínas (antigénios) nas fezes associadas à infeção. É um teste relativamente simples e amplamente disponível.
- Teste PCR: teste (polymerase chain reaction) em laboratório, extremamente sensível, que deteta material genético da bactéria nas fezes e pode identificar mutações que indiquem resistência a antibióticos.
• Teste respiratório: ingestão de uma solução com ureia marcada com carbono. Se as amostras de ar expirado revelarem a presença de CO2 marcado, indica que existe a presença de H. pylori.
• Endoscopia Digestiva Alta (EDA): procedimento em que um tubo fino e flexível, equipado com uma câmara, que é inserido no esófago, estômago e duodeno. Permite visualizar úlceras e recolher amostras de tecido (biópsias) para análise da presença da bactéria.
• Teste sorológico: exame laboratorial que analisa uma amostra de sangue para identificar a presença de anticorpos contra a bactéria. No entanto, tem uma desvantagem em relação aos demais: não consegue distinguir entre infeções ativas ou que já foram curadas.
O tratamento da infeção tem como principal objetivo eliminar a presença da bactéria e permitir a cicatrização dos tecidos afetados. Normalmente, o tratamento envolve uma combinação de diferentes tipos de medicamentos, incluindo:
• Antibióticos: geralmente, o tratamento passa pela administração de dois ou mais tipos de antibióticos simultaneamente, a fim de prevenir o desenvolvimento de resistência por parte da bactéria.
• Inibidores da bomba de protões (IBP): atuam principalmente como inibidores da produção de ácido no estômago, o que facilita a cicatrização das úlceras.
• Bloqueadores de H-2: bloqueiam a histamina, sendo utilizados para reduzir a quantidade de ácido no estômago que é produzido por esta hormona. Em casos em que não é possível administrar IBP, estes podem ser uma alternativa.
• Protetores da mucosa gástrica (bismuto): ajudam a proteger a mucosa do estômago do ácido e ajudam a eliminar as bactérias.
A combinação dos diferentes medicamentos, assim como a duração do tratamento, varia conforme cada caso e deve ser estabelecida por um médico gastroenterologista. É essencial seguir o tratamento até ao fim, mesmo que os sintomas melhorem, para garantir a erradicação da bactéria.
Se estiver preocupado com a possibilidade de ter infeção por H. pylori, tiver tido contacto direto com um caso positivo ou tiver sintomas sugestivos de gastrite ou úlcera, é importante consultar um médico para efetuar uma avaliação.
Na Lusíadas Saúde, a Gastrenterologia é uma especialidade aberta a técnicas inovadoras, empregando abordagens progressivamente mais seguras, mais eficazes e menos invasivas. É uma Gastrenterologia cada vez mais orientada para a prevenção, dedicada a antecipar as necessidades e preocupações de quem nos procura.
Para saber mais informações ou marcar uma consulta, basta aceder aqui.
Ler mais sobre
Doenças GastrointestinaisEste artigo foi útil?
Revisão Científica
Dr. Gilberto Couto
Coordenador da Unidade de Gastrenterologia