HPV: que tipos existem e como se trata
A infeção pelo vírus do papiloma humano (em inglês, HPV) é a infeção de transmissão sexual mais frequente. Transmite-se facilmente, qualquer pessoa pode ser infetada e não são necessários comportamentos de risco. A infeção é habitualmente assintomática, passando frequentemente despercebida, mesmo quando a doença já está instalada. Na maior parte dos casos, a infeção tem resolução espontânea.
“É uma infeção com que quase toda a gente contacta. Na maior parte das vezes, o sistema imunitário vai eliminar a infeção ou contê-la”, assegura Pedro Vieira Baptista, ginecologista e obstetra do Hospital Lusíadas Porto. No entanto, algumas variantes deste vírus podem ser perigosas, estando na origem de alguns tipos de cancro, salientando-se o do colo do útero.
O que é o HPV?
O HPV é um vírus que se transmite por contato físico entre pessoas. Ao todo, há mais de 120 tipos diferentes de vírus do papiloma humano. Destes, entre 35 a 40 infetam o trato genital e urinário, bem como a região anal; 14 têm o potencial de causar lesões malignas.
O vírus ataca o epitélio do colo uterino, da vagina, da pele da vulva, a região perianal, a mucosa anal, a uretra, o pénis e ainda pode infetar a orofaringe e a laringe. A transmissão dá-se quase sempre por contato sexual. “É possível dar-se o contágio entre mãe e filho, mas é pouco comum”, salienta o médico.
A infeção acontece quando há uma falha na superfície da mucosa ou da pele, que permite ao vírus penetrar e instalar-se nesse tecido, onde infeta as células e se multiplica. Geralmente, não há qualquer sintoma associado, pelo que as pessoas infetadas podem estar a produzir e transmitir o vírus, sem que o saibam.
Na maioria dos casos, perante um sistema imunitário competente, a infeção por HPV é controlada dentro de 1 a 2 anos. Contudo, em alguns casos a infeção não desaparece, podendo causar várias doenças. Pode ainda sofrer reativações, mesmo depois de inicialmente controlada. Assim, um teste de HPV positivo nem sempre representa uma nova infecção.
Além disso, a infeção por HPV é localizada, não passa para a corrente sanguínea, não havendo contato suficiente com o sistema imunitário, o que impede o desenvolvimento de uma imunidade a longo prazo. Ou seja, caso a pessoa não seja vacinada, pode ser infetada pelo mesmo tipo de HPV uma e outra vez.
HPV de baixo risco e de alto risco
De acordo com o potencial de provocarem doença maligna, os diferentes tipos de HPV foram divididos em baixo e alto risco. As verrugas são uma manifestação comum dos tipos de baixo risco — 90% destas são causadas pelo HPV 6 ou 11, que fazem parte deste conjunto. “São lesões benignas, que muitas vezes desaparecem com o tempo”, explica Pedro Vieira Baptista.
No entanto, em pessoas com o vírus da imunodeficiência humana (VIH) ou outras doenças que afetem a imunidade, sublinha o especialista, estas lesões “podem atingir grandes dimensões”. A reação exagerada acontece porque nestes casos o sistema imunitário pode estar muito debilitado, não sendo capaz de controlar a infeção.
São 14 os HPV de alto risco, que podem provocar lesões com o potencial de evoluir para cancro, com o passar do tempo. Além do cancro do colo do útero, têm o potencial de provocar cancro nos outros tecidos que infetam, como na mucosa do ânus, da vagina, na vulva, no pénis ou na garganta.
“Não é raro haver processos de lesão em vários tecidos”, alerta o ginecologista, destacando as populações imunodeprimidas. No entanto, é possível identificar e tratar a tempo: “Há um período longo da doença para tratar e mudar a história natural da lesão”, tranquiliza Pedro Vieira Baptista.
Diagnóstico e tratamento
De todos os tipos de HPV, o 16 e 18 são os mais perigosos, já que são responsáveis por cerca de 75% dos casos de cancro do colo do útero. A fase de infeção, de doença pré-maligna e mesmo os cancros iniciais são geralmente assintomáticos. Por isso, o médico recomenda fazer o rastreio: “Para a mulher em geral, a partir dos 25 anos, com testes de HPV de cinco em cinco anos. O Papanicolaou é hoje considerado insuficiente para rastreio”.
O objetivo da realização regular destes exames é identificar situações de maior risco. “São lesões na fase intraepitelial que queremos encontrar e tratar”, diz o ginecologista. Mas, calma: nem todas as lesões são precursoras do cancro e, geralmente, só essas (as de alto grau) é que têm de ser tratadas: “Não faz sentido tratar todas as lesões. A maior parte das lesões desaparece.”
O tratamento de uma lesão no colo do útero consiste na excisão da região com a lesão, usando anestesia local. “A taxa de sucesso é muito grande”, assegura o especialista.
Vacinação contra o HPV
Não havendo um tratamento para a infeção por HPV, e tendo em conta que o organismo não desenvolve naturalmente imunidade contra o vírus, a melhor solução é mesmo a vacina.
“Neste momento, no Plano Nacional de Saúde, a vacina é recomendada para raparigas e rapazes”, explica o médico. “A vacina que está disponível em Portugal – Gardasil 9 – dá imunidade contra dois tipos de HPV de baixo risco, o 6 e o 11, e contra o 16, 18, 31, 33, 45, 52 e 58, que são de alto risco. Vai dar proteção para mais de 90% dos cancros do colo do útero.”
Desde 2020 que a vacina é dada aos rapazes e raparigas que completam dez anos nesse ano. Até aos 15 anos, a vacina é dada em duas doses, com seis meses de intervalo. A partir dos 15 anos, a vacinação é de três doses, aos zero meses, aos dois meses e aos seis meses.