Miomas uterinos: como e quando tratar
Neste artigo, Fátima Faustino, responsável do Centro Especializado em Endometriose do Hospital Lusíadas Lisboa e coordenadora da Unidade de Ginecologia e Obstetrícia, explica como e quando tratar os miomas uterinos.
O que são?
Os miomas uterinos são tumores benignos que se desenvolvem a partir da camada muscular do útero (miométrio) e conforme a sua localização classificam-se em submucosos, intramurais e subserosos. A sua etiologia é desconhecida, mas há fatores que podem influenciar o seu crescimento: genéticos, hormonais, vasculares e ambienciais.
Grupos de risco
A incidência dos miomas uterinos aumenta a partir dos 35 anos, altura em que na sociedade atual muitas mulheres programam a primeira gravidez, devido ao facto de atingirem a sua estabilidade profissional e familiar tardiamente.
As mulheres de raça negra têm um risco acrescido em relação às caucasianas (10 a 20%) e as mulheres que apresentam excesso de peso também têm maior probabilidade de desenvolver este tipo de tumores.
Sintomas e consequências
A sintomatologia mais frequente inclui:
- Hemorragia;
- Dor;
- Problemas reprodutivos.
Dependendo do tamanho e da localização, os miomas uterinos podem interferir com a capacidade reprodutiva da mulher, condicionando hemorragias na gravidez, abortos de repetição e problemas no parto.
Os miomas submucosos e os intramurais mais volumosos parecem ser responsáveis por estas alterações, comprovando-se em vários estudos realizados que após a sua remoção as taxas de aborto diminuem e as taxas de gravidez aumentam de forma significativa.
Tratamento dos miomas uterinos
Cabe ao ginecologista informar estas mulheres que, devido aos avanços da tecnologia e investigação, é possível tratar os miomas conservando o útero.
Tratamento cirúrgico
O “gold standard” no tratamento dos miomas submucosos é a miomectomia histeroscópica, técnica de videocirurgia considerada como um dos maiores avanços no tratamento deste tipo de patologia. Pode ser realizada em ambulatório, com rápida recuperação da doente e baixa morbilidade, sendo raras as complicações desde que realizada por um cirurgião experiente nesta técnica cirúrgica.
Para o tratamento dos miomas intramurais (e subserosos) a técnica de eleição será a miomectomia laparoscópica, reservando-se a clássica via aberta (laparotomia) para casos muito graves com miomas muito volumosos e/ou em grande número. Consideradas técnicas minimamente invasivas implicam uma diminuição da dor no pós-operatório, menor tempo de internamento/convalescença e melhores resultados cosméticos.
Tratamentos não cirúrgicos
Como alternativa ao tratamento cirúrgico surgiu a embolização da artéria uterina, técnica baseada na interferência com a vascularização dos miomas através da obliteração da artéria uterina. Porém, esta técnica apenas permite uma redução parcial dos miomas uterinos, e pode interferir com a vascularização do ovário, provocando uma menopausa precoce, e não é isenta de riscos como a necrose uterina e a doença inflamatória pélvica.
Os resultados parecem-nos insuficientes em relação a fertilidade futura e as complicações na gravidez. Até ao momento, as únicas opções dadas às mulheres para tratar esta doença implicavam cirurgia ou técnicas invasivas. Isto porque, as opções de tratamento médico dos miomas, particularmente, o dispositivo intra-uterino com levonorgestrel e as pílulas contracetivas, demonstraram algum benefício no controlo as hemorragias, sem, contudo, revelarem uma eficácia significativa na redução destes tumores uterinos.