Paciente: a importância de ser proativo
Foi precisamente sobre esta dinâmica médico/paciente (inteligente) que Nazaré Tocha, antiga diretora da revista "Prevenir", a revista de saúde mais vendida em Portugal, refletiu no contexto do primeiro Congresso Lusíadas – Novos Caminhos. Para esta jornalista o tema é urgente, já que "a competência do médico é também reflexo da nossa própria competência, expressa por exemplo na forma como somos capazes de passar informação essencial para que o profissional de saúde possa fazer um diagnóstico acertado e definir a melhor terapêutica para o nosso caso".
Proatividade e prevenção
Há uma perceção crescente de que somos os principais responsáveis pela nossa saúde. Nazaré Tocha acredita que, se, por um lado "já interiorizámos que os avanços da ciência, como as vacinas, os fármacos, métodos de diagnóstico e tecnologias biomédicas, vieram permitir o prolongamento da esperança de vida", por outro sabemos que não nos basta viver mais anos. "Queremos vivê-los de forma saudável e autónoma e há cada vez mais pessoas a perceber que isso depende sobretudo do papel proativo que estivermos decididos a assumir ao nível da nossa saúde e que passa pela integração nas nossas vidas de um conceito basilar: a prevenção". Segundo Nazaré Tocha, embora em Portugal ainda não estejamos ao nível de países como os Estados Unidos, já adotamos estilos de vida muito saudáveis. "Por exemplo, nunca antes se viu tanta gente a praticar jogging, pessoas focadas em perder peso ou interessadas em alimentação saudável, e creio que não se resume a uma moda que irá passar".
Saúde: mais informação é melhor?
Nazaré Tocha acredita que está a consolidar-se esta nova geração de pacientes mais informada e interventiva - smart patient - que já não delega ao médico a total responsabilidade da manutenção ou melhoria da sua saúde, mas que a partilha. De qualquer forma, ao ter acesso a mais e melhor informação sobre saúde, o paciente torna-se não só mais exigente, como mais participativo, com noção de que "a competência do médico é também reflexo da sua própria competência, expressa por exemplo na forma como é capaz de passar informação essencial para que o profissional de saúde possa fazer um diagnóstico acertado e definir a melhor terapêutica para o seu caso". Nazaré Tocha partilha ainda alguns dados esclarecedores, que revelam que doentes que consideram ter uma boa comunicação com o seu médico têm maior probabilidade de:
- Se sentirem satisfeitos com os cuidados de saúde a que são sujeitos;
- Partilharem informação relevante e mais completa para um diagnóstico preciso;
- Seguirem os conselhos do médico e aderir ao tratamento;
- Apresentarem melhores resultados nos tratamentos.
O que é que o futuro nos reserva?
"O futuro da relação/comunicação entre médico e paciente estará condicionado pelo acesso rápido, fácil e universal a informação sobre saúde, possibilitado pelas aplicações tecnológicas neste universo (existem atualmente 97 mil apps, 70% das quais para consumidores e na área do fitness, 30% para profissionais da saúde), blogues, plataformas de doentes (onde se partilham experiências, tratamentos, opiniões sobre médicos…), sites de clínicas, de revistas, de organismos oficiais, com milhões de visitas mensais, e as incontornáveis redes sociais", afirma Nazaré Tocha. É evidente que "a massificação da informação de um tema tão sensível como a saúde envolve benefícios fantásticos (maior literacia na saúde, maior envolvimento do doente e, calcula-se, a poupança potencial de 30% do tempo dos profissionais de saúde que é gasto a analisar e a aceder a dados)", revela. No entanto, alerta que "também acarreta riscos (autodiagnóstico, automedicação e hipocondria digital)" e esse é o maior desafio dos profissionais de saúde. Mas também, acrescenta ainda, "um estímulo para que os jornalistas que trabalham neste universo assegurem permanentemente a excelência do seu trabalho para garantir aos leitores o acesso a informação rigorosa e credível".