Perda de audição: saiba mais sobre os implantes osteointegrados
Há certas patologias da audição que não permitem a chegada dos sons ao ouvido interno, impedindo os aparelhos auditivos tradicionais de configurar uma solução para este problema. Foi precisamente para colmatar esta falha, que, na década de 1970, nasceu o aparelho auditivo osteointegrado.
Mas, antes de avançarmos, é importante compreender que o ouvido é formado por três partes: o ouvido externo, o ouvido médio e o ouvido interno, representando cada um destes componentes uma etapa que as ondas sonoras atravessam até atingirem o cérebro e resultarem em som e audição.
O aparelho auditivo osteointegrado é capaz de dar resposta a problemas no ouvido interno e no ouvido médio, servindo-se do osso para enviar os sinais auditivos diretamente até ao ouvido interno, devolvendo, assim, a audição à pessoa.
Estes aparelhos “utilizam um recetor/processador [de som] que estimula o ouvido interno por condução óssea do som, através de uma prótese de titânio”, explica José Tavares, otorrinolaringologista da Clínica Lusíadas Oriente e Hospital Lusíadas Amadora. Neste artigo vamos explicar como funciona este aparelho e a que problemas de audição específicos responde.
A composição dos implantes osteointegrados
Os implantes osteointegrados são compostos por dois componentes:
- Uma prótese de titânio que é inserida no osso temporal do crânio, perto da orelha;
- Um aparelho de processamento sonoro.
A prótese de titânio tem uma estrutura externa que permite ligar o aparelho auditivo à prótese.
O papel do aparelho “é a captação de sinais sonoros e o seu envio para o implante de titânio colocado no osso temporal”, explica José Tavares. Depois, esses sinais sonoros atravessam os ossos do crânio e atingem o ouvido interno, estimulando o nervo auditivo, “que por sua vez comunica com o cérebro que interpreta esses sinais como sons”, diz o médico.
Assim, apesar de o paciente não ouvir as ondas sonoras que chegam pelo ar ao ouvido, consegue através do aparelho auditivo osteointegrado captar sons que chegam pelo implante de titânio e pelo osso.
Para que patologias é indicado?
Nem todas as patologias requerem um aparelho auditivo osteointegrado. Este pode ser recomendado “em todas as perdas de audição cuja principal causa de surdez seja a perda de transmissão do som para o ouvido interno”, sublinha José Tavares. As otites crónicas de difícil controlo são um exemplo.
Este aparelho é indicado também para malformações congénitas do ouvido. Dois exemplos são a microtia, que se traduz no subdesenvolvimento da orelha, resultando num ouvido interno fechado; ou a atresia, que consiste no canal auricular estreito ou não desenvolvido.
Finalmente, a perda de um ouvido decorrente de problemas oncológicos ou de um acidente pode também ter como solução o aparelho auditivo osteointegrado.
E, neste caso, como é que funciona? A prótese é colada no lado que sofreu o trauma, passando o sinal do aparelho para o implante de titânio, e deste para o osso, viajando através dos ossos do crânio até ao ouvido interno do lado oposto, que se mantém funcional.
Deste modo, através do aparelho, a pessoa consegue ter com mais facilidade noção do ambiente sonoro que ocorre do lado da cabeça que sofreu o trauma, o que é importante para muitas tarefas do dia-a-dia.
Da consulta à cirurgia
A possibilidade do uso de um implante auditivo osteointegrado é discutida numa avaliação de Otorrinolaringologia. Em consulta, o médico faz uma “avaliação auditiva por audiograma tonal simples, audiograma vocal e impedanciometria”, que vai avaliar o estado do ouvido, explica o médico.
É a partir destes exames que se faz um diagnóstico e que é possível discutir as várias alternativas da reabilitação auditiva. Se o implante auditivo osteointegrado “for a melhor solução, segue-se um teste de adaptação da prótese por contacto direto na pele, usando uma banda que segura a mesma”, refere José Tavares.
Caso haja uma boa adaptação e o consentimento da pessoa, marca-se a cirurgia. “Nos adultos a cirurgia é realizada com anestesia local e em ambulatório. No caso das crianças e em pessoas com problemas de ansiedade é efetuada sob anestesia geral”, explica o médico.
Os resultados, segundo o médico, são positivos: “Uma audição dentro da normalidade. Por vezes, é necessária uma fase de adaptação ao novo espectro auditivo.”