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Aleitamento Materno: os desafios da amamentação

Colaboração
“O que foi sonhado como sendo algo único e prazeroso começa a criar dor e a causar lágrimas; em vez de ser um momento de ternura e ligação com o bebé, passa a ser uma espécie de luta que prejudica a relação com o bebé.”

A Dra. Alexandra Rosa, Psicóloga no Hospital Lusíadas Lisboa, com experiência no acompanhamento de grávidas e mães depois do parto, partilha o seu testemunho e alguns conselhos para esta fase da vida da mulher, promovendo a importância do suporte profissional e familiar, demonstrando como esses elementos podem impactar positivamente a experiência da amamentação e o bem-estar da mãe e do bebé. 

Como lidar com as dificuldades da amamentação: um caso clínico 

“Há alguns anos foi solicitado o meu apoio num quarto da obstetrícia, onde estava uma puérpera e o seu filho recém-nascido. Quando entrei naquele quarto encontrei uma jovem mãe a chorar em pranto, com a sua mãe e a sua sogra também a chorar. O clima emocional naquele quarto era de luto, de perda. Contudo o parto tinha decorrido com normalidade e, tanto a mãe como o bebé estavam saudáveis”, recorda a Dra. Alexandra Rosa.  

“Ao abordar esta mulher, na tentativa de perceber o que estava a causar a sua angústia, explica-me que apesar de intensos esforços ainda não tinha conseguido amamentar. Esta mulher tinha acabado de ser mãe, tinha ali o seu filho, um bebé saudável, e em vez de estar a viver o momento de forma positiva, já estava desiludida e derrotada com a maternidade. Já nem olhava para o bebé, porque já tinha falhado como mãe. E esta sensação era reforçada pelas lágrimas das mulheres da família” conta a psicóloga. 

Para lidar com todos estes desafios, contou felizmente com apoio psicológico e ajuda da equipa de enfermagem especializada.

“A jovem mãe conseguiu amamentar e desenvolver vínculos com o seu bebé”, explica. “Foi importante focar no bebé, na relação mãe-filho, desmistificar ideias pré-concebidas e assegurar que tudo estava bem, e que ela era a melhor mãe do mundo para o seu bebé.” 

Depois deste processo, conseguiu encarar com mais tranquilidade a amamentação, entendendo melhor os obstáculos, sendo apenas necessário um acompanhamento até às rotinas estarem adquiridas e estabilizadas.  

Quais as principais dificuldades e desafios da amamentação? 

Muitas mulheres idealizam esta experiência e acreditam que amamentar o seu bebé vai ser um processo fácil e intuitivo. Pode até ser assim para algumas mães, mas para muitas outras os desafios da amamentação surgem como uma surpresa, causando um misto de emoções.  

Uma “subida de leite” mais demorada, dor, dificuldades na “pega”, o recém-nascido a chorar, os conselhos e palpites de amigos e familiares, são tudo fatores que podem contribuir para uma pequena ou grande tempestade emocional.  

Hoje em dia existe uma forte expectativa social em torno da amamentação e a ideia mais ou menos velada de que uma boa mãe é a mulher que amamenta. Contudo uma mulher a amamentar o seu filho num restaurante, num convívio, na praia ou num jardim pode receber olhares e comentários reprovadores. Espera-se que as mães amamentem, mas de forma privada e isolada. 

Como podemos ajudar as mães a lidar melhor com esses desafios?  

É na gravidez que se deve abordar o tema da amamentação, e a primeira pergunta deverá ser se deseja ou não amamentar o seu bebé. Se a grávida o pretender, essa é a altura indicada para começar a tirar dúvidas e ajustar expectativas com enfermeiros e conselheiras de amamentação. 

Quando o bebé nasce é importante perceber como a mãe se sente e como a podemos ajudar, sem nenhuma crítica e com muita compreensão pelo que está a vivenciar. 

O apoio psicológico pode ser muito importante nesta fase para auxiliar a processar as emoções e para ajudar a focar no essencial: o bem-estar da mãe, uma vez que o seu equilíbrio psicológico refletir-se-á também no bem-estar do bebé. 

Quais os mitos e ideias pré-concebidas da amamentação? 

Para além da ideia de que “amamentar é fácil e intuitivo para todas as mulheres”, existe outro mito pouco falado, porque também é tabu: a ideia de que todas as mulheres gostam de amamentar.  

“Já conheci muitas mulheres que se sentiram muito desconfortáveis na amamentação: psicologicamente, amamentar os filhos não foi positivo. Algumas, decidem mesmo não o fazer. E está tudo bem, é preciso respeitar estas mães que não deixam de ser boas mães por não conseguirem amamentar”, aponta a psicóloga. 

Porque é que a amamentação pode causar frustração e ansiedade?  

“Quando as expectativas iniciais são goradas pode-se entrar numa espiral de desespero e negatividade, em que a mulher se sente incapaz, ansiosa e até com medo de amamentar”, e  “o que foi sonhado como sendo algo único e prazeroso começa a criar dor e a causar lágrimas; em vez de ser um momento de ternura e ligação com o bebé, passa a ser uma espécie de luta que prejudica a relação com o bebé” explica a psicóloga. 

Um bom aconselhamento na área da amamentação aliado a um apoio psicológico especializado pode fazer a diferença.  

Quais os principais desafios da amamentação no regresso ao trabalho?  

No regresso ao trabalho, os ritmos e rotinas da mãe e do bebé, tão duramente conquistados, são novamente alterados.  

A mãe sente muita pressão: os horários laborais reduzidos para garantir a amamentação nem sempre são bem compreendidos e aceites, e extrair o leite, manualmente ou com auxílio de bombas no ambiente de trabalho, são questões que ainda causam ansiedade e desconforto à mulher.  

Para além disso, física e psicologicamente, existem outros fatores como seios doridos, ansiedade e saudades do bebé. Tudo isto junto é mais do que suficiente para conduzir muitas mulheres ao fim da amamentação. 

O que se pode fazer para apoiar as mães no regresso ao trabalho?  

Num mundo laboral moderno, compreensivo e colaborante com as mulheres que tentam equilibrar os seus diferentes papéis e o seu desejo de continuar a amamentar para além da licença parental, deveriam existir espaços dedicados e protegidos que permitam, de forma confortável, extrair e conservar o leite ou mesmo amamentar sem qualquer crítica, pressão ou prejuízo sobre as horas de amamentação. 

A OMS, reconhecendo as dificuldades das mães no regresso à vida ativa, tem vindo a comunicar cada vez mais a necessidade de se criarem condições e políticas inclusivas sobre o tema do aleitamento materno. A organização internacional relembra que estas iniciativas podem gerar retorno económico ao reduzir o absentismo relacionado com a maternidade, aumentando também a taxa de retenção de trabalhadoras, o que poderá ter vantagens na redução de custos de contratação e formação de novos colaboradores.  

Como é que os parceiros podem ajudar no processo de amamentação? 

Com apoio e muita empatia, estando ao lado da companheira nas decisões e compreendendo as suas emoções. A comunicação aberta entre o casal é fundamental e os companheiros devem questionar diretamente as suas companheiras sobre a melhor forma de ultrapassarem em conjunto as adaptações necessárias num processo de amamentação.  

Em suma, a boa comunicação entre as partes é essencial durante a amamentação. 

Qual é a importância da saúde mental nesta fase?  

A fase do puerpério é exigente do ponto de vista psicológico, pelas mudanças físicas, pelo cansaço, pela privação de sono, pela enorme exigência física e psíquica que cuidar de um bebé pode acarretar.  

Nesta fase, e até cerca de um ano após o parto, é muito importante vigiar e valorizar a saúde mental da mulher. Tanto os familiares próximos como os profissionais de saúde deverão ser observadores e ter a sensibilidade para desencadear os apoios necessários se ocorrerem desequilíbrios psicológicos. 

É essencial o apoio de psicólogos, enfermeiros especializados, obstetras e tantos outros profissionais de saúde durante a gravidez e a amamentação. Na Lusíadas Saúde, sabemos que cada mãe é única, e que todas as mães merecem sentir-se valorizadas e compreendidas durante esta fase tão desafiante e única da vida da mulher. 

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Dra. Alexandra Rosa

Dra. Alexandra Rosa

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