Métodos contracetivos: vantagens e desvantagens
Os métodos contracetivos permitem controlar a reprodução, mas não só. No caso do preservativo essa ação é mais abrangente: é o método mais eficaz para proteger de doenças sexualmente transmissíveis, como, por exemplo, a Sida, a hepatite B, o vírus do papiloma humano ou o herpes genital. Também não se pode falar num método ideal, pois depende das pessoas a que se destina, como defende Paula Ramôa, ginecologista obstetra do Hospital Lusíadas Porto. A fácil adesão, o não esquecimento e a não desistência são fatores interpessoais a considerar. Neste artigo, a especialista explica as vantagens e desvantagens dos métodos contracetivos mais comuns.
Métodos contracetivos de barreira
Como a própria definição indica, estes métodos contracetivos formam uma barreira que impede que o espermatozoide e o óvulo se encontrem e haja fecundação.
1. Preservativo masculino
Impede que o esperma entre na vagina, ao revestir o pénis. Além de funcionar como barreira, está normalmente coberto por uma substância que tem uma ação espermicida (neutraliza os espermatozoides) e funciona como lubrificante. A eficácia depende dos cuidados na sua utilização. O preservativo deve ser colocado sobre o pénis em ereção antes de qualquer contacto entre o pénis e a entrada da vagina. É importante segurar o preservativo pela base, quando se retira o pénis da vagina, de modo a evitar que o esperma saia. Não pode ser usado em combinação com o preservativo feminino.
Vantagens
- Protege de doenças sexualmente transmissíveis;
- Fácil de comprar e de ter sempre no bolso ou na carteira;
- Existem diversos modelos adequados aos gostos e às necessidades individuais;
- Indicado em relações esporádicas.
Desvantagens
- Há o risco, ainda que baixo, de se romper;
- Retira alguma sensibilidade, embora a lubrificação dos próprios preservativos ajude a atenuar este efeito; alguns modelos têm rugosidades que reforçam as sensações;
- No entanto, pode diminuir a espontaneidade da relação sexual e causar desconforto quando se gera atrito, num coito prolongado.
2. Preservativo feminino
É um método contracetivo muito pouco utilizado. Consiste numa bolsa afunilada e encerrada numa das extremidades, que se adapta à vagina e recobre o colo do útero impedindo que o esperma contacte com estas duas estruturas. A eficácia depende da sua boa colocação e pode ser introduzido 8 horas antes das relações sexuais e persistir mais tempo na vagina do que o preservativo masculino.
Vantagens
- Protege de doenças sexualmente transmissíveis;
- Especialmente aconselhado para mulheres que pratiquem sexo com frequência e com múltiplos parceiros;
- A probabilidade de rotura é inferior à do preservativo masculino e garante proteção vulvar adicional.
Desvantagens
- É difícil aprender a pô-lo corretamente.
- Além de ser mais caro do que o preservativo masculino, é mais difícil encontrá-lo à venda.
3. Diafragma
Existem dois tipos de diafragma: o vaginal e o cervical. Ambos exigem aprendizagem na primeira aplicação. Consistem num dispositivo de borracha de formato circular. O diafragma cervical é mais pequeno, com uma forma côncava que se encaixa no colo do útero e impede que o esperma entre.
É importante que seja usado em combinação com um espermicida, para reforçar a sua eficácia, no caso de se deslocar durante a penetração. Tem vários tamanhos, para se poder adaptar ao útero. Só é aconselhado a mulheres que já tenham tido relações sexuais e que não tenham infeções urinárias ou da vagina, ou outros problemas no colo do útero.
Deve ser colocado antes da penetração e só deve ser retirado entre as 8 e as 24 horas seguintes. Deve ser bem limpo depois de cada utilização.
Vantagens
- É fácil de usar;
- A mulher não o sente e raramente é sentido pelo homem;
- É reutilizável, podendo durar até 2 anos.
Desvantagens
- Não protege contra a maioria das doenças sexualmente transmissíveis;
- Pode provocar irritação vaginal;
- É desaconselhável a mulheres que têm infeções urinárias, do colo do útero ou da vagina.
Métodos contracetivos hormonais
São métodos contracetivos que funcionam através da utilização de hormonas que inibem a ovulação, impedindo assim que haja fecundação. O efeito de proteção é reforçado pelo aumento da espessura do muco cervical, o que dificulta a progressão dos espermatozoides, além de alterações no revestimento do útero, impedindo que o óvulo se consiga implantar. Ainda que pouco divulgados, estão documentados efeitos na libido da mulher, associados aos métodos hormonais.
A contraceção hormonal depende da manipulação de dois princípios biológicos: estrogénio e progesterona. Existem diversas formulações que diferem tanto no tipo de hormona como na dosagem, algumas com indicações terapêuticas. Por este motivo a pílula não deve ser tomada sem supervisão médica. Os métodos hormonais estão contraindicados na grande maioria dos casos, em doentes com cancro da mama.
4. Pílula combinada
Quando se fala de pílula, na maior parte dos casos está a falar-se de pílula combinada. Tem esta designação por combinar o estrogénio e a progesterona em pequenas quantidades. Geralmente é tomada durante 3 semanas, seguidas de uma semana de intervalo, durante a qual se dá a menstruação. Já existem pílulas cuja embalagem permite uma toma contínua de forma e diminuir os enganos no dia de recomeçar. Recomenda-se que seja tomada sempre à mesma hora, ainda que atrasos até 12 horas não afetem a sua eficácia. Quando os atrasos são maiores, é importante recorrer temporariamente a outro contracetivo, nomeadamente ao preservativo.
Vantagens
- 99,9% eficaz se tomada corretamente;
- Regula os ciclos e diminui a intensidade do fluxo menstrual;
- Diminui ou mesmo elimina as dores menstruais.
Desvantagens
- É desaconselhável a fumadoras com mais de 35 anos;
- Formalmente contraindicada em doentes hepáticas graves, em mulheres com elevado risco cardiovascular (hipertensas não controladas, diabéticas) e com risco tromboembólico aumentado;
- Perde eficácia quando há problemas gastrointestinais;
- Pode causar hemorragias entre as menstruações.
5. Pílula sem estrogénio
Contém apenas uma pequena quantidade de um progestagénio. É recomendada a mulheres em fase de aleitamento ou que sofram de efeitos secundários associados ao estrogénio. É tomada todos os dias, sem interrupções, o que ajuda a evitar esquecimentos. Recomenda-se que seja tomada sempre à mesma hora de forma a garantir a sua eficácia e a minimizar as irregularidades do ciclo.
Vantagens
- 99,5% eficaz se tomada corretamente;
- Diminui a intensidade do fluxo menstrual.
Desvantagens
- É desaconselhável em mulheres com doenças hepáticas graves, em casos de doença cardíaca isquémica, acidentes vasculares cerebrais (AVC), e episódio agudo de tromboembolismo;
- Perde eficácia quando existem problemas gastrointestinais;
- Pode causar hemorragias entre as menstruações, retenção hídrica e acne.
6. Adesivo
É colado à pele e liberta estrogénio e progestativo, que passam através da pele e são absorvidos pela corrente sanguínea. Funciona de modo semelhante à pílula combinada. O adesivo deve ser posto sobre a pela limpa e seca da barriga, das nádegas ou da parte superior do corpo com exceção das mamas. Todos os dias se deve verificar se as extremidades continuam bem coladas. O adesivo substitui-se de 7 em 7 dias, usando-se durante 3 semanas, seguidas de uma semana de intervalo, durante a qual ocorre a menstruação.
Vantagens
- 99,9% eficaz;
- Tem todas as vantagens associadas aos contracetivos orais;
- Não perde eficácia quando há problemas gastrointestinais nem altera a eficácia de outros fármacos como os antiepiléticos;
- Funciona bem em pessoas com síndromas de má absorção intestinal;
- Vantajoso para pessoas menos disciplinadas.
Desvantagens
- O adesivo é visível;
- Está desaconselhado em todos os casos acima descritos em que a contraceção hormonal não deve ser utilizada;
- Pode provocar irritações na pele;
- Menos eficaz em mulheres com mais de 90 kg.
7. Anel
Trata-se de um anel flexível e macio, de pouco mais de 5 cm de diâmetro, que é introduzido na vagina e liberta hormonas. As hormonas são absorvidas diretamente através das paredes da vagina, o que permite que as doses hormonais sejam mais baixas que as da pílula ou do adesivo. É introduzido como um tampão e deve ser retirado depois de três semanas. Um novo anel deve ser introduzido exatamente uma semana mais tarde. Na semana de intervalo ocorre a menstruação.
Vantagens
- 99,9% eficaz;
- É fácil de usar;
- Só se põe uma vez por mês;
- Baixa dose de hormonas;
- As vantagens são em tudo idênticas às do adesivo.
Desvantagens
- Está desaconselhado em todos os casos acima descritos em que a contraceção hormonal não deve ser utilizada;
- Muito raramente há a sensação da presença de um corpo estranho.
8. Injeção
Consiste numa dose de progestativo bastante alta que é injetada num músculo, geralmente na nádega. A injeção deve ser repetida de 3 em 3 meses.
Vantagens
- 99,7% eficaz;
- É recomendado a mulheres que não podem tomar estrogénios;
- Pode ser usado durante a amamentação;
- Não perde eficácia quando existem problemas gastrointestinais.
Especialmente indicado em mulheres com alterações comportamentais ou debilidade mental em que a gravidez não é recomendada ou desejada e em que a Lei não permite realizar uma laqueação tubar.
Desvantagens
- Requer prescrição médica;
- A recuperação da fertilidade inicial pode demorar um ano;
- Hemorragias irregulares e com intervalos imprevisíveis.
9. Implante
O implante, de plástico flexível, tem cerca de 4 cm de comprimento e 2 mm de espessura. É colocado pelo médico debaixo da pele, geralmente do braço, usando um anestésico local. Contém progestativo e é eficaz durante três anos.
Vantagens
- 99,9% eficaz independentemente do perfil da utilizadora. A sua eficácia é comparável à esterilização cirúrgica;
- Só precisa de ser mudado de 3 em 3 anos;
- Pode ser utilizado nos casos em que os estrogénios estão contraindicados;
- Não perde eficácia quando existem problemas gastrointestinais;
- Não se nota.
Desvantagens
- A menstruação tende a ficar mais irregular;
- As contraindicações são sobreponíveis às das pílulas só de estrogénios.
Métodos contracetivos mecânicos e mistos
Nesta categoria de métodos contracetivos está incluído o DIU, como dispositivo mecânico, e o SIU, um dispositivo mecânico associado a uma hormona.
10. Dispositivo intrauterino — DIU
É um método mecânico. É um dispositivo intrauterino, conhecido pela sigla DIU, em forma de T ou de S, que tem uma pequena porção de cobre. É o cobre que desencadeia um efeito inflamatório no útero, impedindo a nidificação. É inserido pelo ginecologista diretamente no útero, utilizando um aplicador específico. Pode usar-se durante 5 a 7 anos, antes de ser retirado também pelo médico. É recomendável em relações monogâmicas — é mais provável haver infeções em caso de múltiplos parceiros.
Vantagens
- 99,2% de eficácia na utilização corrente;
- Garante contraceção durante 5 a 7 anos ou até mais conforme os casos;
- Não é um método hormonal;
- Pode ser usado em qualquer idade;
- Os ciclos menstruais mantêm-se com os intervalos anteriores à colocação;
- Só perde eficácia se se deslocar.
Desvantagens
- Pode haver aumento das dores menstruais e do fluxo sanguíneo durante a menstruação;
- Obriga a exames regulares, para verificar se se mantém na posição correta;
- Desaconselhável no caso de múltiplos parceiros;
- Não pode ser usado por mulheres com alergia ao cobre;
- Não pode ser usado em caso de anomalia da cavidade uterina ou doença inflamatória pélvica.
11. Sistema intrauterino — SIU
É um método mecânico e hormonal. Combina um dispositivo intrauterino, semelhante ao DIU, com uma hormona, o levonorgestrel, que é libertada ao longo do tempo. É inserido pelo ginecologista no corpo uterino, utilizando um aplicador específico. Pode usar-se durante 5 a 7 anos, antes de ser retirado também pelo médico.
Vantagens
- 99,9% de eficácia semelhante ao implante subcutâneo e à laqueação tubar;
- Garante contraceção durante 5 a 7 anos;
- A única contraindicação é um determinado tipo de cancro da mama;
- Pode ser utilizado por todas as mulheres em qualquer idade;
- Os períodos menstruais tornam-se muito curtos ou mesmo ausentes o que traz qualidade de vida.
Desvantagens
- Obriga a exames regulares, para verificar se se mantém na posição correta;
- Desaconselhável no caso de múltiplos parceiros;
- Não pode ser usado em caso de anomalia da cavidade uterina ou doença inflamatória pélvica.
Métodos contracetivos de emergência
Define-se por contraceção de emergência todo o método contracetivo utilizado após uma relação sexual desprotegida para prevenir uma gravidez não planeada. Os termos “contraceção pós-coital” e “pílula do dia seguinte” são utilizados com a mesma conotação.
Os métodos disponíveis para contraceção de emergência podem reduzir globalmente o risco de gravidez entre 75 a 89% e devem ser utilizados nas primeiras 72 horas após a relação. Em Portugal, para uso comum e de venda livre nas farmácias, está disponível a pílula do dia seguinte com levonogestrel. Também é possível utilizar um DIU de cobre sob supervisão médica.
1. Pílula de levonorgestrel
É um único comprimido que deve ser tomado até 72 horas depois da relação desprotegida. É necessário usar preservativo durante os 7 dias seguintes. Funciona bloqueando ou atrasando a ovulação. A eficácia depende da rapidez da toma. É mais alta se for tomada nas primeiras 24 horas após a relação.
- Não tem contraindicações nem desvantagens;
- Não compromete a fertilidade;
- Pode tomar-se mais do que uma vez no mesmo ciclo menstrual.
2. DIU de cobre
- O mecanismo de ação é mediado pela toxicidade do cobre sobre o óvulo e sobre o espermatozoide, sendo inibidor da fertilização;
- Para assegurar a eficácia, deve ser introduzido antes de se dar a implantação, ou seja, deve ser colocado até ao 5º dia após a relação sexual não protegida.