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Microbiota Intestinal e Alimentação na Doença de Parkinson

Colaboração
Descubra a relação entre a microbiota intestinal e a alimentação na doença de Parkinson, a segunda doença neurodegenerativa mais comum do mundo.

A doença de Parkinson caracteriza-se pela perda de células cerebrais (neurónios) dos gânglios basais, que auxiliam na coordenação do movimento. Esta degeneração celular e a consequente diminuição da produção de dopamina podem provocar tremor, rigidez muscular, lentidão de movimentos e instabilidade postural.

É uma patologia complexa com uma etiologia desconhecida, na qual tanto fatores ambientais como genéticos podem estar na sua origem. Os sintomas gastrointestinais têm recebido uma atenção crescente, existindo evidências que sugerem que a fisiopatologia da doença de Parkinson poderá também começar no intestino.

Microbiota intestinal

A microbiota gastrointestinal pode desempenhar um papel importante no desenvolvimento da Doença de Parkinson, tendo em conta que a ligação entre a microbiota intestinal, o neurodesenvolvimento e as doenças neurológicas é cada vez mais reconhecida.

Além disso, a literatura indica que alterações na microbiota podem ser uma causa da Doença de Parkinson, uma vez que a composição da mesma se encontra alterada em indivíduos que sofrem desta patologia. No entanto, ainda não é consensual dentro da comunidade científica se as alterações na microbiota intestinal são uma causa ou uma consequência da doença.

Uma vez que a dieta tem um papel importante na composição microbiana intestinal, vários estudos demonstram que esta pode estar associada ao desenvolvimento da Doença de Parkinson.

A Alimentação como prevenção da Doença de Parkinson

A alimentação tem vindo a ser cada vez mais associada à saúde do sistema nervoso central, podendo afetar tanto negativamente como positivamente o risco de desenvolvimento de doenças neurodegenerativas, nomeadamente da Doença de Parkinson. Neste sentido, determinados padrões alimentares podem ter um impacto negativo no stress oxidativo e na inflamação, podendo aumentar o risco de desenvolvimento desta patologia.

A Dieta Ocidental é um dos maiores fatores de risco da doença de Parkinson, uma vez que pode levar a consequências negativas no eixo intestino-cérebro. Esta dieta é, geralmente, caracterizada por uma elevada ingestão de alimentos com alta densidade energética, um elevado teor de gordura saturada, açúcar e sal, e por uma baixa ingestão de ácidos gordos ómega-3, frutas e vegetais.

Ao contrário deste padrão alimentar, a Dieta Mediterrânica tem sido associada a efeitos positivos na microbiota intestinal, contribuindo para a redução do risco de desenvolvimento de doenças crónicas e neurodegenerativas, bem como para a diminuição da sua progressão.

A Dieta Mediterrânica é rica em micronutrientes importantes para a função do sistema nervoso central, nomeadamente vitamina D, vitaminas do complexo B e vitaminas antioxidantes, como C, E e A, fibra, flavonoides e ácidos gordos monoinsaturados e polinsaturados. É, assim, caracterizada por uma alimentação rica em hortícolas, leguminosas, frutas, nozes, sementes, pescado, azeite e grãos integrais.

A Alimentação na Doença de Parkinson

Na fase premotora da Doença de Parkinson, o indivíduo pode não apresentar sintomas motores, no entanto, pode apresentar sintomatologia depressiva, hiposmia (diminuição do olfato) e sintomas gastrointestinais, tais como obstipação, diarreia, náuseas e anorexia (diminuição do apetite). Em estadios mais avançados da doença, podem desenvolver-se outros sintomas gastrointestinais como sintomas como disfagia (dificuldade em deglutir alimentos sólidos e/ou líquidos) e xerostomia (secura da boca).
Esta sintomatologia pode influenciar a ingestão alimentar e as escolhas alimentares, afetando o estado nutricional do indivíduo.

A Relação entre a Proteína na Alimentação e a Terapêutica Farmacológica

Um dos fármacos mais utilizados no tratamento da Doença de Parkinson é a Levodopa. Trata-se de um fármaco administrado por via oral e um precursor da dopamina, sendo considerado o tratamento farmacológico gold-standard para a Doença de Parkinson.

Embora eficaz, a sua absorção pode ser prejudicada quando a toma de levodopa é feita ao mesmo tempo ou logo após uma refeição rica em proteína. Durante a digestão da proteína ingerida, esta é decomposta em moléculas mais pequenas, denominadas aminoácidos, e absorvida no trato gastrointestinal para a corrente sanguínea através de transportadores específicos. No entanto, determinados aminoácidos utilizam o mesmo transportador que a levodopa para ser absorvida. Como consequência, a levodopa e os aminoácidos competem na sua absorção, podendo existir menor absorção de levodopa, levando a uma diminuição da sua ação.

De forma a minimizar a ação da ingestão de proteína na absorção do fármaco, é aconselhada a diminuição da ingestão de proteína na alimentação e a toma de levodopa em refeições com menor aporte proteico ou 30 minutos antes da refeição. Nestas situações, o aconselhamento com um nutricionista é fundamental para garantir um adequado estado nutricional, sem prejudicar a terapêutica farmacológica.

Desta forma, a intervenção nutricional é crucial em toda a história natural da Doença de Parkinson, desde a fase inicial até aos estadios mais avançados da mesma, não só para otimização do estado nutricional, como também para melhoria da gravidade dos sintomas.
 

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Revisão Científica

Dra. Inês Chambel

Dra. Inês Chambel

Hospital Lusíadas Amadora
PT