Perigos da queda no idoso
A queda no idoso é o acidente doméstico mais frequente e a principal causa de morte acidental na população com idade superior a 65 anos, o que faz deste um tema de grande atualidade, representando um desafio importante na medicina dos nossos tempos. Conceição Monteiro, otorrinolaringologista do Hospital Lusíadas Lisboa, ajuda a perceber os riscos e como podemos evitá-los.
Com o envelhecimento, o controlo postural é posto em causa levando a alterações que podem ir desde a instabilidade até às quedas, as quais constituem um problema de saúde pública, de grande impacto social, enfrentado por todos os países em que ocorre um expressivo envelhecimento populacional.
Quedas: definição e consequências
A definição de queda não é consensual, variando de acordo com os diferentes autores. A mais abrangente define queda como "deslocamento não intencional do corpo para um nível inferior à posição inicial, com incapacidade de correção em tempo útil e determinado por circunstâncias multifatoriais que comprometem a estabilidade".
Segundo Tinetti mais de um terço dos idosos caem todos os anos e, em 50% destes casos, as quedas são recorrentes. Ainda segundo o mesmo autor, as quedas representam 10% das idas ao Serviço de Urgência e destas, 6% são motivo de internamento. Alguns estudos evidenciam que entre 40 a 60% das quedas provocam algum tipo de lesão, sendo 30 a 50% de gravidade minor, 5 a 6% de gravidade major e ainda 5 % de fraturas.
Quem sofre uma queda apresenta um maior risco para voltar a cair no ano seguinte de 60 a 70%. Além disso, uma percentagem elevada dos idosos que caem e que sofrem lesões apresentará redução da mobilidade, da independência e aumento do risco de morte.
Fatores de risco da queda no idoso
Predispõem à queda diversos fatores de risco. Podem ser intrínsecos (próprios da idade), extrínsecos (ambientais), comportamentais e ter um efeito cumulativo.
Fatores de risco relacionados com a idade:
- Género: o sexo feminino tem um maior risco de queda;
- História prévia de quedas;
- Polimedicação (uso de 4 ou mais fármacos em simultâneo);
- Alteração da marcha e do equilíbrio;
- Sedentarismo;
- Défice cognitivo;
- Alterações da visão;
- Alterações ortopédicas;
- Estado psicológico;
- Estado funcional (grau de dependência).
Fatores de risco ambientais:
- Iluminação deficiente;
- Piso irregular e/ou escorregadio;
- Degraus altos e estreitos;
- Ausência de corrimão (casa de banho e escadas);
- Tapetes soltos;
- Obstáculos (mobiliário);
- Roupa e sapatos inadequados.
Fatores comportamentais:
- Grau de exposição ao risco - os dois grupos extremos em termos de atividade (mais inativos e mais ativos) são os que têm maior risco de queda.
O que fazer
Perante um doente com esta patologia o médico não pode ter uma atitude passiva, mas antes iniciar uma abordagem diagnóstica e terapêutica agressiva e multidisciplinar onde serão identificados os fatores de risco de queda de maneira a promover a qualidade de vida do idoso.
Na consulta de otoneurologia, após uma história clínica específica e um exame objetivo orientado para os problemas do equilíbrio, devem ser realizados exames complementares (posturografia dinâmica computorizada) para analisar as diferentes informações que o doente utiliza para manter o equilíbrio em situações de conflitos sensoriais da vida diária, de forma a obter um diagnóstico o mais preciso possível.
- Posturografia dinâmica computorizada
Este exame permite identificar os candidatos a um programa de prevenção de queda no idoso através de reabilitação vestibular e monitorizar a resposta à terapêutica.
- Reabilitação vestibular
Consiste num conjunto de exercícios que permitem à pessoa, após uma alteração do equilíbrio, obter uma regulação ótima das redes neuronais intactas. Tem por finalidade estimular as faculdades de adaptação inerentes ao sistema global do equilíbrio e baseia-se na plasticidade e capacidade de adaptação do sistema vestibular.
Prevenção
Os programas de prevenção de queda no idoso devem focar-se numa abordagem multidisciplinar, atuando ao nível dos fatores de risco intrínsecos e extrínsecos, definindo objetivos que devem ser atingidos a curto, médio e longo prazo, evitando assim quadros de isolamento, solidão e depressão que são comuns neste grupo etário com esta patologia.