4 razões para ir ao médico de família
O médico de família — nome geralmente usado para designar o especialista em Medicina Geral e Familiar — é o médico mais indicado para acompanhar as pessoas nas várias fases da vida.
O seu papel no sistema de saúde tem sofrido algumas transformações.“Tradicionalmente, as pessoas iam ao médico de família para resolver uma situação de doença. Desde as últimas décadas do século XX, foi-se percebendo que muitas patologias podiam ser evitadas ou, no mínimo, melhorado o seu prognóstico, se detetadas precocemente”, contextualiza António Balsa, Coordenador de Medicina Geral e Familiar do Hospital Lusíadas Amadora e com experiência em medicina preventiva há mais de 30 anos.
“A esta perceção aliou-se o grande desenvolvimento científico e tecnológico, que nos tem proporcionado meios de diagnóstico progressivamente melhores e que ajudam a fazer o rastreio e/ou a deteção precoce de muitas patologias”, diz. “A evidência científica tem vindo a identificar um conjunto de comportamentos — consultas periódicas, hábitos de vida, exames de diagnóstico — que ajudam a evitar muitos problemas de saúde ou a controlar melhor aqueles que são detetados precocemente.”
O papel do especialista em Medicina Geral e Familiar relaciona-se, assim, cada vez mais com a prática da medicina preventiva, no sentido de reduzir o risco de patologia ou de melhorar o seu prognóstico.
É neste contexto que identificamos os cinco principais motivos para marcar consulta com um especialista em Medicina Geral e Familiar.
1. Prevenção e rastreio de doenças potencialmente evitáveis
“Um dos papéis principais do especialista em Medicina Geral e Familiar é o de rastrear patologias evitáveis e detetá-las o mais precocemente possível. Pode, inclusivamente, ser feito um esquema de orientação para saber que consultas e exames são indicados para os rastreios, consoante idade e sexo”, refere António Balsa, que aponta como principais rastreios os do cancro do colo do útero, cancro da mama e cancro do cólon e recto.
No caso do cancro do colo do útero, o rastreio é feito através da realização da citologia cervico-vaginal (conhecido como exame de “Papanicolau”) anualmente ou a cada dois anos, em pessoas com idades entre os 25 (ou o início da vida sexual) e os 64 anos. O cancro da mama é rastreado através da realização de mamografia e ecografia mamária, a partir dos 50 anos, anualmente ou a cada dois anos, consoante os resultados. Já o cancro do cólon é rastreado através da realização de colonoscopia (ou eventualmente “pesquisa de sangue oculto nas fezes”), a partir dos 50 anos.
Nas competências do médico de família enquadra-se, também, refere o especialista, o diagnóstico e tratamento de patologias comuns como a diabetes, a hipertensão arterial ou a doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC). Por outro lado, consoante a situação clínica e o histórico familiar de cada pessoa, pode ser aconselhada uma vigilância periódica mais dirigida, como acontece, por exemplo, com quem tem histórico familiar de problemas cardíacos, (como enfarte do miocárdio), doenças reumatológicas (como artrite reumatóide, lúpus) ou problemas endócrinos (tiroide, osteoporose, por exemplo).
2. Controlo de doenças crónicas
Diabetes, hipertensão arterial, elevação do colesterol (dislipidemias), determinados problemas cardíacos e a obesidade são algumas das patologias crónicas mais comuns na população portuguesa. O seguimento periódico de pessoas com estes problemas é indispensável, de forma a controlar a evolução do seu estado, tomando atempadamente medidas adequadas, evitando consequências mais graves.
Por exemplo, níveis altos de colesterol podem, muitas vezes, ser controlados apenas através da adoção de bons hábitos alimentares — em fases mais avançadas, pode ser necessário recorrer a medicação. O médico de Medicina Geral e Familiar é o especialista que deverá consultar numa primeira fase, sendo aquele que, em caso de evolução da patologia, poderá encaminhar para a especialidade mais adequada.
3. Situações de doença aguda
Infeções urinárias, respiratórias e digestivas são alguns exemplos de situações agudas que podem conduzir a uma consulta no médico de família, a par de problemas da garganta, ouvidos, tiróide ou gastrointestinais, como úlceras, gastrites ou colites.
Estas e outras situações podem, muitas vezes, ser abordadas na própria consulta, podendo envolver recurso a meios complementares de diagnóstico — exames como raio-X, TAC ou ecografias, análises ao sangue e/ou urina. Podem, neste contexto, ser tratadas com sucesso, sem necessidade de recorrer a outro especialista.
4. Encaminhamento para outras especialidades
Em situações mais complexas, o especialista em Medicina Geral e Familiar pode optar pelo encaminhamento do indivíduo para uma consulta de especialidade. É, por isso, o especialista indicado a consultar sempre que não sabemos exatamente a quem recorrer, uma vez que, em função das queixas, poderá encaminhar para a especialidade mais adequada.
“Por exemplo, para um problema do aparelho músculo-esquelético, a pessoa pode não saber se é melhor ir ao ortopedista, reumatologista ou fisiatra. E, em caso de possível apneia do sono, será melhor recorrer ao pneumologista, otorrinolaringologista ou neurologista? A resposta varia em função das especificidades de cada caso”, explica António Balsa.
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Revisão Científica
Dr. António Balsa
Coordenador da Unidade de Medicina Geral e Familiar