7 mitos e factos sobre canhotos
Estima-se que apenas 10% da população mundial seja esquerdina. Mas será que isso tem influência na personalidade, no tempo de vida e no desempenho desportivo e matemático? A ciência ainda tem muito para explicar sobre os canhotos, mas há muitas ideias erradas que os especialistas já desconstruíram.
“Os canhotos passaram de uma situação em que eram vistos como deficientes (o sinistrum do latim tinha até uma conotação moral) para uma situação oposta em que lhes começaram a encontrar muitas virtudes. Nem uma nem outra estão certas”, explica o neurologista José Vale, coordenador da Unidade de Neurologia do Hospital Lusíadas Lisboa.
E acrescenta: “De um ponto de vista neurológico, os canhotos podem enquadrar-se em dois grupos: os que o são porque sofreram uma lesão do hemisfério cerebral esquerdo e têm verdadeiros problemas (pior desempenho escolar e maior risco de problemas cognitivos e psiquiátricos) e os que o são naturalmente por influência genética”. É aos últimos que nos referimos neste artigo. Saiba mais sobre o tema e descubra se afinal os canhotos são melhores a matemática.
1. Os canhotos são mais introvertidos?
Mito. A personalidade dos esquerdinos não é determinada pela mão que usam para desempenhar as principais tarefas do dia a dia. Um inquérito de 2013, feita a alunos neozelandeses, concluiu que não há ligação entre ser canhoto ou destro e características pessoais como a introversão ou extroversão.
2. Os canhotos são melhores a matemática?
Facto. Os esquerdinos — pelo menos os adolescentes do sexo masculino — têm mais facilidade em resolver problemas aritméticos do que os destros. O maior estudo sobre o tema, divulgado pela Universidade de Liverpool, no Reino Unido, em parceria com a Universidade de Milão, em Itália, concluiu que 10% das variações dos resultados em provas matemáticas se deviam à mão usada: os esquerdinos tinham melhor desempenho.
Os especialistas submeteram 2300 estudantes, entre os 6 e os 17 anos, a diversos testes matemáticos, depois de perceberam se eram canhotos, destros ou ambidestros. A pesquisa permitiu ainda concluir que as pessoas situadas nos extremos (muito destras ou muito canhotas) tinham pior desempenho do que os alunos que recorriam às duas mãos.
3. Os canhotos vivem menos tempo?
Mito. Há mais de 20 anos que os cientistas sabem que ser esquerdino não está relacionado com um aumento da mortalidade, como mostrou um estudo britânico de 1994.
4. Os canhotos usam mais o lado direito do cérebro?
Mito. Apesar de a maioria dos destros usar mais o hemisfério esquerdo no processamento da linguagem, não podemos dizer que o mesmo aconteça para os canhotos. Um estudo da Universidade de Wellington, na Nova Zelândia, diz que 70% dos esquerdinos usam mais o lado esquerdo do cérebro do que o direito.
5. Os canhotos usam mais as duas mãos à medida que envelhecem?
Facto. Uma pesquisa, coordenada por Tobias Kalisch da Ruhr-University Bochum, na Alemanha, diz que com o passar do tempo nos tornamos mais aptos a usar as duas mãos de igual forma. Os especialistas compararam o desempenho de dois grupos (um cuja média de idades era de 25 anos e outro de 50) na execução de tarefas manuais, como desenhar uma linha vertical, por exemplo.
6. Ser canhoto é vantajoso em alguns desportos?
Facto. Nas modalidades em que o adversário é enfrentado diretamente, como acontece no ténis ou no boxe, os canhotos têm vantagem. A razão é simples: os esquerdinos estão mais habituados a disputar provas com destros (existem em maior número) do que os destros com canhotos.
O neurocientista francês Guy Azemar, que fez um estudo sobre o tema para o Instituto Nacional Francês do Desporto e da Educação Física, explicou o fenómeno através das ligações cerebrais envolvidas neste processo.
7. Os canhotos tiveram origem nos gémeos?
Mito. Chegou a pensar-se que os canhotos tiveram origem nos gémeos e que um deles seria esquerdino como espelho do outro. Nada disto se comprovou. O que se sabe é que os gémeos têm o dobro da probabilidade de serem canhotos quando comparados à população em geral. Já em 1996 um estudo belga concluiu que 21% dos gémeos (verdadeiros e falsos) eram canhotos.