Os soluços passam mesmo se se pregar um susto?
Entre 1928 e 1990, ao longo de 68 anos, o norte-americano Charles Osborne (1894-1991) viveu com soluços ininterruptamente. Este é o caso conhecido mais extremo de uma situação relativamente comum que, normalmente, passa sem ter de se fazer nada. Mas há muitos conselhos caseiros para se parar com os soluços.
Há quem diga que pregar um susto ou beber água de cabeça para baixo acabam com a situação. Será mesmo assim?
O que acontece durante um soluço?
O soluço é uma ação involuntária que começa com um espasmo do diafragma – o tecido muscular que separa a cavidade onde estão os pulmões da cavidade abdominal e que permite respirarmos sem pensar. Por algum motivo, dá-se uma contração convulsiva e involuntária deste músculo que obriga a uma entrada rápida de ar nos pulmões.
Mas esta inspiração, normalmente feita pela boca, é imediatamente travada pelo fechamento rápido da glote, uma espécie de “porta” situada no início da laringe, a parte inicial das vias respiratórias propriamente ditas, junto às cordas vocais, que se pode fechar. É quando a glote se fecha que se produz o som tão tipicamente associado aos soluços: o famoso “hic”.
A frequência dos soluços pode variar entre as 4 e as 60 vezes por minuto. Charles Osborne começou por ter 40 soluços por minuto e foi diminuindo até aos 20 por minuto já mais para o fim da sua vida. Um ano antes de morrer, os soluços pararam subitamente, sem se explicar porquê. Mas por essa altura ele já tinha soluçado 430 milhões de vezes, o que lhe valeu um recorde no Guinness.
Apesar deste caso invulgar, os soluços costumam passar ao fim de minutos, mas podem continuar durante dias ou semanas. Os soluços chamam-se persistentes quando duram entre 48 horas e um mês e intratáveis se duram mais do que um mês. Tal como o norte-americano, há alguns casos raros que se prolongam anos.
As muitas causas do soluçar
Uma crise de soluços pode iniciar-se quando se está a rir intensamente. Às vezes, as gargalhadas obrigam à inalação de uma grande quantidade de ar que ao passar pela epiglote estimula os nervos do diafragma. A gravidez é outra situação que pode provocar soluços. À medida que cresce, o feto vai pressionando o diafragma, originando os espasmos. Mas há muitos outros fenómenos que desencadeiam os soluços.
Desde problemas de saúde como irritações gástricas, doenças no esófago e na laringe, aneurismas, passando por infeções como a tuberculose, infeções cerebrais e a gripe, até químicos como os fármacos que afetam o sistema nervoso central.
O caso de Charles Osborne foi mais esdrúxulo. Ao levantar um porco que pesava 160 quilos, o esforço feito pelo norte-americano fez rebentar um pequeno vaso sanguíneo no cérebro que afetou para sempre a região cerebral que regula os processos que estão na base dos soluços.
Como controlar os soluços
Apesar de ser uma situação benigna, a aflição de se estar sempre a soluçar faz com que as pessoas procurem soluções. Os vários conselhos caseiros para isso, como dar um susto a quem está a soluçar ou beber água de cabeça para baixo, são formas de tentar interromper o ritmo dos espasmos do diafragma.
Mas segundo a enciclopédia Britannica, o meio mais comum e eficiente para terminar a sucessão de espasmos é suster a respiração durante o máximo de tempo que se conseguir, ou pôr os joelhos ao peito ou ainda estimular ou respirar num saco pequeno. Para casos mais graves e prolongados, onde nem os fármacos tiveram efeito, os médicos podem operar os nervos que estimulam o diafragma a dar os espasmos.
Charles Osborne, que não se livrou dos soluços tão cedo, teve que aprender a controlar a respiração, evitando assim dar os sonoros “hics”.
Em suma
Há várias razões para alguém iniciar uma crise de soluços, que normalmente passa em alguns minutos. Mas para quem quiser parar de soluçar o quanto antes, aconselha-se suster a respiração o máximo de tempo possível. Apanhar um susto ou beber água com a cabeça ao contrário não são as soluções mais eficazes.