O que é a dor de burro?
O que é?
A origem da expressão dor de burro não é de todo conhecida. Talvez a ideia fosse identificar uma dor sem causa específica, tal como se sugere a indeterminação na cor quando se diz “cor de burro quando foge”, ou apenas sublinhar a intensidade da dor, com um exacerbado “p’ra burro/como burro”, sugere o site Ciberdúvidas da Língua Portuguesa.
Certo é que, clinicamente, a dor de burro existe mesmo e sensações de “facada” ou “cãibra” na zona lateral da barriga são até um problema comum em muitas atividades desportivas. Chama-se “dor abdominal transitória relacionada com o exercício (Exercise Related Transient Abdominal Pain (ETAP)) e é especialmente prevalente em atividades que envolvem o movimento repetitivo do tronco com o mesmo numa posição vertical, como na corrida e na equitação”, explica João Torres, médico especialista em Ortopedia e Traumatologia do Hospital Lusíadas Porto, com formação nos EUA em Sports Medicine.
Trata-se de “uma dor localizada, que é mais comum nas regiões laterais médias do abdómen, ao longo do rebordo costal, embora possa ocorrer em qualquer região do abdómen. E pode também estar associada a dor no ombro, região inervada pelo nervo frénico”, acrescenta o especialista.
Causas possíveis da dor de burro
Aproximadamente 70% dos corredores relata ter tido dor de burro pelo menos uma vez ao longo de um ano de atividade desportiva e cerca de um em cada cinco participantes de eventos de corrida podem sofrer deste problema, informa o médico. Apesar de não haver certezas sobre a origem da ETAP, várias teorias têm sido apresentadas para explicar o mecanismo responsável pela dor de burro, incluindo:
- Isquemia do diafragma, ou seja, má irrigação sanguínea do músculo que divide a cavidade torácica da região abdominal;
- Stresse sobre os ligamentos viscerais de suporte que prendem os órgãos abdominais ao diafragma;
- Isquemia gastrointestinal;
- Cólicas da musculatura abdominal;
- Dor isquémica resultante da compressão da artéria celíaca - da qual saem as artérias responsáveis pela vascularização dos grandes órgãos abdominais, estômago, fígado, duodeno, baço e pâncreas - pelo ligamento arqueado mediano do diafragma.
- Irritação dos nervos espinhais, que ligam a medula espinhal aos músculos esqueléticos do tronco;
- Irritação do peritoneu parietal, membrana serosa que cobre as paredes anteriores e laterais do abdómen e que, em conjunto com peritoneu visceral, protege toda a cavidade abdominal.
“Destas teorias, a irritação do peritoneu parietal é a que melhor explica as características da dor abdominal transitória relacionada com o exercício”, comenta João Torres. “No entanto, é necessária mais investigação nesta área para melhor definir a sua causa”, alerta.
Prevenção da dor de burro
A dor abdominal transitória relacionada com o exercício é “descrita como uma sensação de “facada” e/ou cólicas quando mais intensa, ou tipo ‘cãibras’ quando menos intensa”, descreve o ortopedista. Parar, massajar a zona, dobrar o tronco para a frente de modo a permitir o alongamento do diafragma, entre outras, são alguns dos conselhos habitualmente dados para o alívio da dor, mas segundo o especialista, todas “as estratégias são pouco credíveis, especialmente porque a etiologia da dor continua a não estar totalmente elucidada”. Mais confiáveis são os conselhos de prevenção.
Sabe-se que sintomas da dor de burro “são exacerbados pelo estado pós-prandial”, ou seja, tendem a piorar após as refeições, e também que “as bebidas hipertónicas são particularmente provocadoras dos sintomas”.
Assim, deve-se:
- Evitar ingerir grandes volumes de alimentos e de bebidas durante pelo menos duas horas antes do exercício, especialmente compostos hipertónicos;
- Melhorar a postura, especialmente na região torácica;
- Aumentar o apoio dos órgãos abdominais, melhorando a força do “core” ou usando uma cinta larga de suporte.