Sangue nas fezes: o que pode fazer?
O sangue nas fezes é um sinalizador de hemorragias no tubo digestivo. A cor do sangue pode ajudar a indicar a origem geográfica do problema, mas pouco mais. Só com a observação médica e exames direcionados é possível descobrir qual a doença que está a provocar a hemorragia entre um grande número de problemas possíveis. Alguns desses problemas são graves, alerta José Estevens, coordenador da Unidade de Gastrenterologia do Hospital Lusíadas Albufeira e da Clínica Lusíadas Faro. Para este médico, é sempre importante ir a uma consulta quando se deteta este problema, explica.
O que acontece para haver sangue nas fezes?
O sangue vai parar às fezes porque há uma hemorragia dentro do tubo digestivo que pode ser proveniente de qualquer local no tubo, desde o esófago, o estômago, intestino delgado, intestino grosso ou ânus.
A quantidade de sangue perdida é indicadora do perigo?
Não damos relevância à quantidade. Não é por haver mais sangue que é mais perigoso. Muitas vezes as pessoas menosprezam porque a quantidade é pequena e isso não dá qualquer tipo de bom prognóstico.
Que tipo de cor é que o sangue pode ter?
A cor do sangue é diferente consoante a perda de hemorragia é mais longe ou mais perto do ânus. Se perdermos sangue do estômago ele surge preto nas fezes. Se perdermos sangue já perto do ânus, ele pode ser vermelho vivo. O sangue vivo nas fezes vem geralmente do intestino grosso. Embora nem sempre possa ser assim. Por isso, ele é indicador do sítio onde se está a perder sangue. Mas não tem mais significado do que isso. Hoje em dia, muitas pessoas tomam medicamentos para alterar a coagulação e isto vai baralhar este raciocínio todo. Por outro lado, se tivermos uma hemorragia muito grande no estômago, o sangue pode também aparecer nas fezes como sangue vivo. O importante no meio de tudo isto é o diagnóstico.
Que doenças provocam sangue nas fezes?
Há vários tipos de doenças relacionadas com o aparecimento de sangue nas fezes:
- Lesões na região do ânus
Como hemorroidas ou fissuras, que podem provocar sangue.
- Hemorragias dos divertículos
Pequenas saculações nos intestinos. A parede em vez de ser lisa tem pequenas saliências, saquinhos. É muito comum em pessoas acima dos 50 anos. Às vezes sangram muito. Mas a gravidade é pequena, é facilmente tratável e não tem sequelas.
- Isquemia intestinal
Acontece quando o intestino delgado ou intestino grosso é mal vascularizado, e também pode originar uma hemorragia de gravidade muito variável.
- Cancros do intestino grosso ou cólon.
O nosso grande medo são sempre os tumores. Há pólipos benignos mas que pela sua dimensão podem sangrar.
- Colite ulcerosa e a doença de Crohn
Duas doenças inflamatórias do intestino que podem também provocar sangramento.
- Úlceras em qualquer parte do tubo digestivo
Quais são os tratamentos?
Os tratamentos vão depender da causa da hemorragia. Estas são respostas médicas a algumas das doenças:
- Hemorroidas
No caso das hemorroidas basta aconselhar os doentes a reduzirem a agressão dessa região. Esta agressão está ligada à consistência das fezes e ao esforço a defecar. O objetivo é passar pouco tempo na casa de banho, não fazer muita força, procurar uma posição que evite a sensação das fezes saírem como obstáculo. É importante termos uma alimentação saudável e fezes moles. Não há alimentos proibidos e alimentos com fibras ajudam. Mas há regras de bom senso. Quem tem obstipação, se comer cinco bananas, ficará mais obstipado. Assim como não faz sentido para quem tem diarreia comer cinco kiwis.
- Pólipos
Mais de noventa e cinco por cento dos pólipos podem ser retirados durante a colonoscopia, no entanto, por vezes os pólipos são tão grandes que podem obrigar a cirurgia para a sua remoção completa.
- Doenças inflamatórias do intestino
No caso das doenças inflamatórias do intestino, em que há uma perda continuada de sangue, controla-se as hemorragias com comprimidos ou clisteres para desinflamar a mucosa intestinal.
- As úlceras no estômago
As úlceras no estômago ou duodeno são tratadas com medicamentos conhecidos como inibidores da bomba de protões (omeprazol, esomeprazol, rabeprazol ou outros) que permitem a cicatrização da úlcera quando ela é benigna. Quando existe uma bactéria no estômago, o Helicobacter pylori, a sua erradicação, feita com antibióticos, reduz muito a probabilidade de aparecer nova úlcera.
Como é feito o diagnóstico?
É feito pelo médico muitas vezes auxiliado por exames. Além da observação, é fundamental ouvir o doente. É necessário saber a idade, os fatores de risco, as circunstâncias em que ocorreu o sangue nas fezes. É preciso orientar os exames de acordo com o que o médico suspeita. A maior parte das vezes é a colonoscopia que permite o estudo do cólon ou do intestino grosso. A colonoscopia é como usar uma lupa para ver os intestinos. Consegue-se detetar os tumores ou outras alterações no cólon, doenças inflamatórias, isquemias, angiodisplasias. Se for uma suspeita de hemorragia no estômago terá de ser feita uma endoscopia ao estômago e ao duodeno para ver o que se passa.
É sempre importante ir ao médico?
Sim. Por vezes podem haver perdas de sangue por motivos diferentes. Hoje, a perda de sangue pode ser causada por hemorroidas grandes ou inflamadas. Daqui a dois ou três anos a perda de sangue pode estar relacionada com um cancro. Os sintomas podem ser absolutamente iguais. E há o perigo de já não se valorizar o novo sinal de se deitar sangue porque se associa às hemorroidas que não foram tratadas. Por isso, sempre que se deita sangue é fundamental ir ao médico esclarecer o que está a acontecer e tentar resolver o problema.
Há situações de hemorragias que são urgências?
Sim. Há perdas grandes de sangue quando os divertículos do intestino sangram. Quando há uma úlcera, a perda pode ser tão grande que a pessoa desmaia antes de o sangue ser expulso. Estas são situações menos usuais. Em caso de haver uma hemorragia é necessário levar a pessoa ao hospital. Não se sabe se a hemorragia já terminou. É uma urgência. Pode-se morrer.
Há pessoas mais suscetíveis a estas ocorrências?
Sim. Quem toma anticoagulantes para problemas cardíacos e vasculares. Nestas situações, as hemorragias podem ser de grande volume.