Radioterapia: o que é e como é feita
A Radioterapia, com cerca de 100 anos, constitui uma das 3 terapêuticas mais empregues no tratamento da doença oncológica. Os seus avanços tecnológicos permitiram uma elevada precisão de libertação da radiação o que se traduziu em crescentes taxas de sucesso e, simultaneamente, uma redução dos efeitos secundários.
Contudo, a radioterapia também é empregue no tratamento de condições benignas.
A Radioterapia começou a ser empregue, depois da sua descoberta nos finais do século XIX, e já depois de se ter iniciado o seu uso com os raios X. Desde que, em 1922, Henri Coutard, apresentou num congresso a primeira prova de cura por radioterapia de um paciente com um cancro da laringe avançado, esta terapêutica nunca mais deixou de ser empregue, de um modo crescente, quer com intenção paliativa, quer com intuito curativo.
Estima-se que ela é empregue em cerca de 40% dos doentes considerados “curados” e que cerca de metade de todos os doentes oncológicos, nalguma fase do seu processo terapêutico, são sujeitos a tratamentos de radioterapia.
Quando usada em contexto curativo a radioterapia também oferece a possibilidade de ser uma terapêutica de preservação do órgão de que se destaca a mama (foi a irradiação adjuvante da cirurgia conservadora da mama que permitiu diminuir drasticamente as mastectomias), a próstata, a bexiga (na atualidade a quimio-radioterapia (QRT) é uma alternativa à cistectomia em certos tumores músculo-invasivos da bexiga), o canal anal, o reto (o chamado “Wait and See” em que a QRT seguida de QT de consolidação já permite alcançar mais de 50% de respostas clínicas completas evitando-se assim a amputação abdomino-perineal), o cavum (nasofaringe), as cordas vocais, a pele, alguns tumores do esófago, certos tipo de tumores do pulmão, entre outros.
Em contexto paliativo é empregue como terapêutica antálgica, hemostática, descompressiva de compressões medulares, síndrome da veia cava superior, preventiva de fraturas patológicas, etc.
Como atua?
A moderna radioterapia recorre aos aceleradores lineares de partículas com produção de eletrões e de fotões X, ou protões no caso da protonterapia, que interage com o DNA das células malignas provocando-lhes danos subletais, cujo somatório resulta em apoptose (morte celular) do tecido maligno.
Contudo também se descobriu que a radioterapia, dependendo do tipo de tumor, do volume e da dose libertada, pode atuar como um ativador do sistema imunitário pois aumenta a libertação de antigénios tumorais e de citoquinas inflamatórias.
Em casos extremos, verifica-se o chamado efeito abscopall em que, à mercê do aumento da resposta imunológica adaptativa, ocorre resposta em áreas não irradiadas.
Os avanços tecnológicos permitiram que a medicina de precisão fosse uma realidade também na radioterapia cujo desígnio é, precisamente, o de libertar a maior dose nos tecidos tumorais e, em simultâneo, poupar e irradiar o menos possível os tecidos saudáveis circunvizinhos.
Para isso emprega, para além da radioterapia conformacional computorizada (3D-CRT) a radioterapia de intensidade modulada (IMTRT), a arcoterapia volumétrica (VMAT), a radioterapia estereotaxia corporal (SBRT, SABR) ou craniana (SRS). Todas estas técnicas recorrem à imagem guiada (IGRT) que “guia o tratamento” com recurso ou não a marcadores fiduciais, podendo ser empregues outras modalidades como a SGRT (RT guiada pela superfície).
Cuidados e efeitos colaterais
A radioterapia é computorizada e por isso inicia-se por uma TC (Tomografia Computorizada) de planeamento em que o doente efetua esse exame deitado, precisamente da mesma maneira como depois se posicionará no aparelho de tratamento. Para isso podem-se empregar sistemas de imobilização como máscaras, colchões de vácuo ou outras estratégias que permitam a reprodutibilidade diária da irradiação.
Existem vários fracionamentos de tratamento (dose diária e dose total), dependendo de muitas variáveis; tipo de tumor, localização, volume, radiossensibilidade, proximidade de estruturas críticas, associação ou não com outras drogas, etc.
Desse modo o tratamento pode variar desde uma sessão única a várias semanas com periodicidade diária.
As modalidades de tratamento estão plasmadas em orientações/recomendações internacionais.
No decurso do tratamento podem ou não surgir queixas significativas dependendo das áreas irradiadas. Essas queixas podem só aparecer alguns dias ou semanas depois de se ter iniciado o tratamento, mas é introduzida medicação preventiva para as atenuar/diminuir de intensidade (são os chamados efeitos agudos e subagudos).
Também podem existir efeitos a mais longo-prazo (a mais frequente é a fibrose) que só se manifestam algum tempo depois de concluída a radioterapia (efeitos tardios). Umas e outras são-lhe explicadas pelo seu Médico Radioncologista mas também pelos Técnicos que efetuam o tratamento e que apoiam na adoção de determinados cuidados.
Contudo tem-se verificado que, com os avanços tecnológicos, as queixas são cada vez menos intensas e de menor gravidade.
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![Dr. Pedro Miguel dos Santos Baptista Chinita](https://www.lusiadas.pt/sites/default/files/styles/large/public/practitioners/practitioner_2023.jpeg.webp?itok=cv_W3pyO)
Dr. Pedro Miguel dos Santos Baptista Chinita
Coordenador da Unidade de Radioncologia