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Os bebés têm febre quando os dentes estão a romper?

Revisão Científica
Entre os seis meses e os dois anos e meio os dentes de leite rompem a gengiva dos bebés trazendo algum desconforto, irritabilidade e mal-estar. A temperatura pode subir, mas é preciso ter atenção a este sintoma pois pode não se atingir níveis elevados ou se os mesmos surgirem é fundamental não “culpar os dentes”.

Há 5000 anos já se registavam os sintomas que os bebés tinham quando lhes nasciam os dentes. Ao longo dos séculos, muitos fenómenos foram sendo associados a este processo normal, desde a produção de saliva até, erradamente, a cólera. Pode ser difícil para os pais, que têm de lidar com o desconforto do bebé, compreenderem se um sintoma é fruto do rompimento dos dentes ou não. Diz-se, por exemplo, que a febre está associada ao seu aparecimento, mas será mesmo assim?

Dentes e mais dentes

A espécie humana tem duas dentições, uma que surge nos primeiros anos de vida e que é provisória, os chamados “dentes de leite”, e a permanente, de 32 dentes, que substitui a primeira. Os dentes de leite são 20 e nascem entre os seis meses e os dois anos e meio. Inicialmente, estão alojados nos alvéolos dos maxilares e vão movendo-se em direção ao exterior, rompendo a gengiva e crescendo até à sua posição final.

Este processo está associado a uma temporada de mal-estar nos bebés. Na antiguidade clássica, tanto Hipócrates como Aristóteles associavam o rompimento dos dentes a uma morbidade significativa. No século XVIII, em França, metade das mortes dos bebés eram erradamente atribuídas ao nascimento dos dentes. Em 1842, este fenómeno era tido como responsável pela morte de 12% das crianças com menos de quatro anos, segundo o registo civil de Inglaterra e Gales. Hoje, associam-se sintomas como o mal-estar, a produção de saliva e a irritação dos bebés ao rompimento dos dentes. Estes sintomas duram até ao rompimento da gengiva. Mas em relação à febre, a questão é mais complexa.

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Cuidado com a temperatura que sobe

Um estudo publicado em 2016 na revista Pediatrics analisou os trabalhos científicos que se fizeram no passado sobre os sintomas associados ao nascimento dos dentes. Deste modo, os investigadores conseguiram definir com alguma representatividade os sintomas mais comuns associados ao processo. Por exemplo, identificaram que estes ocorriam em 70,5% das crianças nos primeiros 3 anos de vida e que os fenómenos mais prevalentes eram a irritação da gengiva, a irritabilidade da criança e a produção excessiva de saliva.

Quanto à existência de febre, a equipa encontrou dados que mostravam que a temperatura podia subir um pouco, mas normalmente ficava abaixo dos 38 ºC. Para os bebés, uma temperatura retal ou timpânica pelos 38 ºC - 38,3 ºC não passa de uma “ponta de febre” ou “febrícula”.

Esta conclusão obriga os pais e os pediatras a terem uma atenção especial quando os bebés têm temperaturas retais superiores a 38,3 ºC durante estas alturas do aparecimento dos dentes. Pode-se justificar esta temperatura corporal como um dos sintomas do rompimento dos dentes, mas o mais provável, segundo aquele estudo, é que a febre seja o sintoma de outro fenómeno que está a afetar o bebé.

Nesse caso, o melhor é levar a criança ao pediatra. Em relação ao rompimento dos dentes, é preciso que os pais garantam que o bebé beba água, continue a alimentar-se e que o ajudem a suportar o desconforto, massajando as gengivas ou por vezes usando paracetamol se o quadro o justificar e sempre sob orientação do pediatra assistente.

Em suma

O nascimento dos dentes nos bebés pode originar um aumento de temperatura e uma “ponta de febre”. Mas quando as crianças têm febre acima dos 38 ºC, então a origem da febre pode ser outra e o melhor é levá-las ao médico.

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Prof. Dr. José Manuel Aparício

Prof. Dr. José Manuel Aparício

Coordenador da Unidade de Atendimento Permanente Pediátrico

Hospital Lusíadas Porto

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