Tabagismo: a prevenção começa nas crianças
Todos os anos, um milhão e 200 mil pessoas morrem na Europa por causa do tabaco, diz a Organização Mundial de Saúde. São inúmeras as doenças que lhe estão associadas: cancro, doença coronária, doença pulmonar obstrutiva crónica, bronquite crónica, entre outras. “O tabaco prejudica gravemente a saúde”, sublinha o pneumologista Miguel Guimarães, do Hospital Lusíadas Porto.
De acordo com a Fundação Portuguesa de Cardiologia, os fumadores têm, em média, menos dez anos de vida do que os não fumadores. A maioria começa a fumar na adolescência. “Sabemos que 80% a 90% dos adultos fumadores se iniciou antes dos 18 anos”, diz o médico.
E alerta: “Aos 13 anos, 12% das crianças portuguesas já fumaram pelo menos uma vez. E 20% dos maiores de 18 anos fuma habitualmente. São dados preocupantes”, reitera o pneumologista. A prevenção é, por isso, fundamental e deve começar desde cedo. Com a ajuda do médico, deixamos-lhe algumas estratégias que o poderão ajudar a dissuadir o seu filho:
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Comece em casa
Um estudo da Academia Americana de Pediatria, publicado em 2014, concluiu que os adolescentes com pais viciados em nicotina têm dez vezes mais probabilidade de adotar o mesmo comportamento. “O ideal é que os pais deixem de fumar”, considera o pneumologista. “No caso de continuarem a consumir tabaco, devem fazer um esforço para que as crianças cresçam sem contacto com esta substância, quer seja em casa ou no carro”, acrescenta o médico. “Os maços nunca devem estar à vista.”
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Use exemplos de pessoas próximas
“Um discurso centrado nos riscos pode não ser o mais adequado (será encarado como uma realidade distante), a não ser que as crianças conheçam alguém nessa situação”, diz o especialista.
“Se tiveram contacto com alguém asmático, ou forem eles próprios asmáticos, será mais fácil explicar-lhes que o tabaco agrava a situação”, acrescenta. O mesmo pode suceder com casos próximos de fumadores que desenvolveram doenças cardiovasculares, entre outras.
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As vantagens de deixar de fumar começam logo 20 minutos após apagar o último cigarro.
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Foque-se nos benefícios e nas consequências imediatas
Ainda que valha a pena mencionar as consequências mais graves, que por norma só se manifestam 20 a 30 anos após os primeiros cigarros, o mais eficaz será abordar os efeitos a curto prazo. No caso de pré-adolescentes, os pais poderão explicar-lhes que o tabaco agrava a acne, provoca mau hálito e deixa os dentes amarelos.
“A questão económica também deve ser evidenciada. Com o dinheiro que poupam poderão, por exemplo, comprar um tablet ao fim de uns meses.” De forma genérica, os adultos deverão pôr a tónica nas mais-valias de uma vida sem fumo, incentivando a prática desportiva. E sublinhando que os não fumadores têm maior capacidade física, mais energia, menos problemas de pele e de respiração.
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Seja assertivo e supervisione os seus filhos
“Os pais devem ter um discurso firme – sem ser exagerado - e prevenir o consumo de tabaco desde cedo. Devem começar com mensagens simples (não há uma idade mínima), como ‘o tabaco faz mal’ ou ‘fumar provoca doenças’”, recomenda o pneumologista do Hospital Lusíadas Porto. É importante também que os pais estejam atentos.
“Devem tentar perceber se os pares os pressionam para fumar. Em alguns casos poderá ser útil encenar pequenos teatros para os ensinar a dizer ‘não’.”
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Use o argumento da independência
Esta estratégia funciona sobretudo com pré-adolescentes e adolescentes. “Trata-se de centrar a conversa na dependência causada pelo tabaco. Podemos mesmo perguntar aos nossos filhos: ‘Tu que és jovem e queres ser tão independente vais ficar dependente de uma substância?’”. E acrescenta: “Parece óbvio, mas é uma questão pouco colocada”.
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Revisão Científica
Dr. Miguel Guimarães
Coordenador da Unidade de Pneumologia