Os perigos escondidos do fumo passivo
Esteja bem atento ao que nos explica o pneumologista Miguel Guimarães, do Hospital Lusíadas Porto, sobre os efeitos do fumo passivo. “O que se vê não é o perigo maior ...”, alerta o médico.
Existem cerca de 4000 substâncias químicas no fumo do cigarro. Além do tóxico monóxido de carbono e das cetonas com alto poder de irritabilidade, também se encontram no fumo hidrocarbonetos como o benzeno, polónio (substância radioativa) e até venenos como a arsénico e cianeto. “Mais de 50 das substâncias que compõem o fumo do tabaco estão relacionadas com o desenvolvimento de cancro”, explica o pneumologista Miguel Guimarães.
Fumo passivo, o perigo escondido
O fumador inala o fumo da combustão do cigarro a alta temperatura correndo por isso o maior risco. Mas os perigos do fumo passivo não afetam apenas quem está ao lado e respira o fumo que sai de um cigarro aceso. “O fumo é muito mais do que a fumaça que se vê”, alerta o especialista.
O branco visível “nem sequer é o mais importante”, já que contém “partículas grandes, que mais rapidamente serão filtradas pelo nariz, etc. Ou seja, não chega ter uma janela aberta, ou fumar só numa divisão da casa – “o fumo mais danoso é precisamente o que não se vê”, sublinha Miguel Guimarães.
Fumar “em terceira mão”
Além do fumo passivo, existe também um novo conceito, que se convencionou chamar “fumo em terceira mão” ou “terciário”, igualmente prejudicial, mas cujas consequências são ainda desconhecidas. Fala-se do depósito de partículas das substâncias do fumo nas superfícies – nas roupas, no chão... – e nos efeitos que possa ter para o organismo o contacto com essas substâncias através da pele ou da boca (mais relevante no caso das crianças).
“O que se sabe é que, neste aspeto, o único ambiente verdadeiramente seguro é o exterior ou espaços interiores protegidos por uma barreira física dos locais onde se fuma”, explica o médico. Fumar em zonas com extratores de ar, ainda que potentes, como acontece nos restaurantes, ou varandas com ligação ao resto da casa “não reduz o risco a 100%”, alerta.
Mais riscos do fumo dos outros
As variáveis dificultam conclusões absolutas. “Não é a mesma coisa estar numa sala de 100 metros quadrados onde alguém está a fumar ou sentar-se a menos de um metro de dois fumadores. Tal como não é igual passar ali uma hora, ou permanecer nesse sítio 12 horas”, explica o pneumologista. Mas alguns grandes estudos epidemiológicos confirmam que o fumo passivo aumenta o risco de várias doenças.
Nos adultos
- Cancro do pulmão e outros (nomeadamente cancro da mama, cancro renal e alguns tipos de tumor cerebral);
- Doenças cardiovasculares, nomeadamente enfarte do miocárdio e acidente vascular cerebral (AVC);
- Dores de cabeça causadas pela inalação de monóxido de carbono;
- Infeções respiratórias;
- Tosse persistente e irritabilidade da orofaringe.
Nas crianças
- Infeções pulmonares;
- Infeções do ouvido médio;
- Asma;
- Morte súbita do lactante (estatisticamente, sabe-se que o risco é maior quando os pais são fumadores, embora se desconheçam as causas).
Parar de fumar: mas como?
Um em cada cinco portugueses está dependente da nicotina: a percentagem de fumadores é de 23%. Mas o que torna a situação nacional mais preocupante, segundo Miguel Guimarães, não é o número em si, que “nem é dos mais altos no panorama europeu”, mas sim a tendência que a evolução das estatísticas nos últimos anos revela.
“Praticamente todos os países têm vindo a descer o número de fumadores, mas em Portugal até há um aumento, particularmente nalguns grupos, como o das mulheres mais jovens”. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o tabaco é responsável por 4,9 milhões de mortes evitáveis todos os anos.
Para ajudar aqueles que querem deixar de fumar, os Hospitais Lusíadas Lisboa e Lusíadas Porto têm uma Consulta de Desabituação Tabágica Integrada na Unidade de Pneumologia, com capacidade para assistência diária.
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Revisão Científica
Dr. Miguel Guimarães
Coordenador da Unidade de Pneumologia