Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica: o que é e quais os sintomas?
Em Portugal, aproximadamente 14,2%1 das pessoas com mais de 40 anos são afetadas por esta condição, que pode impactar gravemente a qualidade de vida se não for diagnosticada e tratada a tempo. Quer compreender melhor o que é a DPOC, reconhecer os sinais de alerta e explorar as opções de tratamento? Continue a ler e descubra tudo neste artigo.
O que é a DPOC?
A doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC) é um termo utilizado para designar uma alteração permanente, progressiva e irreversível das vias aéreas do pulmão, que se acompanha por períodos de agudização, que irão causar perda da capacidade respiratória. Os doentes com DPOC podem ter, simultaneamente, destruição pulmonar (enfisema) e/ou queixas de tosse frequente (bronquite crónica).
Quais as causas e fatores de risco?
A DPOC é causada por condições que geram inflamação nos pulmões ou nas vias respiratórias. Os principais fatores de risco são:
Tabagismo: Estima-se que entre 40% a 50%2 dos fumadores desenvolvam doença pulmonar obstrutiva crónica. O tabagismo passivo também aumenta significativamente o risco de desenvolver a doença.
Exposição a substâncias irritantes: A exposição prolongada a ambientes poluídos, poeiras tóxicas, fumos de combustão, vapores ou produtos químicos, sobretudo no local de trabalho, pode provocar inflamação. Essa inflamação pode evoluir para lesões permanentes, que comprometem o funcionamento adequado dos pulmões.
Genética: Embora seja raro, ocorrendo em cerca de 1% dos casos, a DPOC pode ser causada por uma alteração genética que resulta na deficiência ou mau funcionamento da proteína alfa-1 antitripsina (AAT). Esta proteína tem como função ajudar a proteger os pulmões contra danos. Mas o desenvolvimento da doença pulmonar, mesmo em indivíduos com esta alteração genética, associa-se ao tabagismo.
Outros fatores: A prematuridade, condições que impeçam o desenvolvimento adequado dos pulmões, infeções pulmonares frequentes na infância, asma e idade avançada (mais de 65 anos) são alguns dos fatores que podem aumentar o risco de desenvolver doença pulmonar obstrutiva crónica.
Quais os sintomas da DPOC?
Os sintomas podem variar dependendo do doente e da fase da doença. Contudo, os mais frequentes incluem:
• Tosse persistente, com ou sem expetoração;
• Sensação de peso ou aperto no peito;
• Dificuldade em respirar profundamente;
• Aumento das secreções, especialmente ao acordar;
• Respiração ruidosa, caracterizada por sons agudos, semelhante a assobios;
• Dispneia (falta de ar) de esforço, em que o doente sente dificuldade em respirar ao realizar atividades normais do dia a dia, mas que com a progressão da doença sem tratamento evolui para falta de ar em repouso;
• Perda significativa de peso com a evolução da doença;
• Pele azulada (cianose) resultante do baixo oxigénio no sangue;
• Inchaço (edema) nas pernas, pés ou tornozelos.
Estes sintomas podem agravar-se devido a infeções respiratórias ou exposição a ambientes poluídos, o que acelera o declínio da função pulmonar.
A DPOC evolui de forma lenta e progressiva. Muitas vezes, os doentes só procuram assistência médica em estágios avançados, quando os sintomas começam a impactar negativamente a sua vida. Portanto, é fundamental consultar um médico caso apresente sintomas persistentes, especialmente se for fumador ou ex-fumador com mais de 40 anos. O diagnóstico precoce e o tratamento adequado podem contribuir para retardar a progressão da doença e melhorar a qualidade de vida.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico da DPOC é feito com base em vários fatores:
1) Avaliação do historial clínico do doente, dos sintomas e das queixas;
2) Identificação de fatores de risco, como o tabagismo;
3) Exame físico, como a auscultação;
4) Espirometria: exame em que é utilizado um aparelho (espirómetro) para medir o volume ar que entra e sai dos pulmões durante a respiração, permitindo avaliar a função respiratória.
Adicionalmente, o médico pneumologista pode solicitar exames complementares, como radiografia ou tomografia computadorizada (TAC) do tórax, para excluir outras condições ou avaliar a gravidade da DPOC. Também podem ser realizados exames para medir o nível de oxigénio no sangue, especialmente se houver suspeita de insuficiência respiratória.
Cuidados e tratamento
Embora não exista cura para a doença pulmonar obstrutiva crónica, o tratamento visa, principalmente, aliviar os sintomas, interromper a progressão da doença e melhorar a qualidade de vida.
Se o doente for fumador, o primeiro passo no tratamento é deixar de fumar. A cessação do tabagismo, na maioria dos casos, ajuda a retardar a progressão da doença para formas incapacitantes. O doente com DPOC também deve evitar a exposição a ambientes poluídos ou com partículas irritantes no ar.
A DPOC pode agravar-se devido a infeções como a gripe ou pneumonia. Por isso, é importante que as pessoas com esta condição façam a vacina contra a gripe e contra a COVID todos os anos. Além disso, como fazem parte do grupo de risco para doenças como a pneumonia bacteriana (Streptococcus pneumoniae), é recomendada a vacinação pneumocócica, de acordo com as orientações da Direção-Geral da Saúde (DGS) e contra o vírus sincicial respiratório.
Alguns dos medicamentos utilizados no tratamento dos sintomas incluem:
1) Broncodilatadores: ajudam a relaxar e reduzir os espasmos dos músculos das vias aéreas, facilitando a respiração;
2) Corticosteroides: ajudam a reduzir a inflamação.
A hidratação também é fundamental para ajudar a combater as secreções espessas, um sintoma comum da doença.
A longo prazo, a terapia com oxigénio (Oxigenoterapia) pode ser necessária para melhorar os níveis de oxigénio no sangue e reduzir a mortalidade da doença.
Além disso, os médicos podem recomendar outros tratamentos, como a reabilitação pulmonar, para reduzir o impacto dos sintomas na qualidade de vida do doente.
É importante destacar que o tratamento deve ser sempre personalizado, levando em consideração o historial clínico, características individuais da doença e necessidades do doente. A gestão da DPOC é frequentemente realizada por uma equipa multidisciplinar, que envolve pneumologistas, médicos de família e outros profissionais de saúde.
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Dra. Susana Moreira
Coordenador da Unidade de Pneumologia