Fibromialgia: quando a dor não para
A fibromialgia é uma síndrome crónica caracterizada por queixas dolorosas neuromusculares difusas e pela presença de pontos dolorosos em regiões anatomicamente determinadas. E apesar de haver descrições da doença desde meados do século XIX, só no final da década de 70 foi reconhecida pela Organização Mundial da Saúde. Em todo o mundo, estima-se que 2% a 8% da população adulta sofra de fibromialgia e a maioria dos casos – 80% a 90% - são mulheres com idade entre os 30 e os 50 anos. "Sem ter uma casuística estabelecida, posso referir que estamos, neste momento, a tratar cerca de quatro dezenas de doentes com fibromialgia, e que surgem à volta de seis a 10 novos casos por ano", afirma José Caseiro, especialista da Unidade de Tratamento da Dor do Hospital Lusíadas Lisboa.
Sintomas de fibromialgia
A reumatologista Iva Brito, do Hospital Lusíadas Porto, ajuda a identificar os sintomas de fibromialgia:
- Queixas de dor persistente, inespecífica e espalhada pelo corpo todo;
- Dor que se estende por um período superior a três meses, mas o doente não encontra uma causa definida;
- Cansaço ao acordar e uma fadiga extrema durante o dia, não justificável pelas ações do quotidiano;
- Falta de concentração e alguns episódios de desmemoriação;
- Em 25% dos casos há mesmo casos de depressão. Tipicamente, os doentes com fibromialgia manifestam algum sentimento de desespero que o médico tenta atenuar.
Diagnóstico
"Embora não haja exames específicos, devem ser efetuados alguns para se excluírem outras patologias de âmbito reumatológico, doenças autoimunes ou hipotiroidismo, por exemplo", continua José Caseiro. "O impacto e distribuição da dor deverão ser avaliados, bem como a performance cognitiva e as oscilações do humor. Sendo uma síndrome de fadiga crónica, a associação de fadiga, dor e perturbações do sono estão quase sempre presentes", acrescenta.
Tratamento da dor
"Do ponto de vista da dor, a fibromialgia tem similitude com outras situações clínicas de dor crónica, pelo que a estratégia de abordagem tem quase sempre mais importância do que a exclusiva escolha dos medicamentos a utilizar", esclarece o especialista da Unidade de Tratamento da Dor do Hospital Lusíadas Lisboa.
Para José Caseiro, "o exercício aeróbico, a harmonia alimentar e o equilíbrio psicológico são armas poderosas no acompanhamento destes doentes". Mas poderão ser também utilizados medicamentos, "sendo habitualmente preferíveis as terapêuticas multimodais com associação judiciosa de fármacos de grupos diferentes que, associados, possam contribuir para o alívio sintomático".
Segundo este especialista, as terapêuticas à base dos anti-inflamatórios deverão ser evitadas. "Defendemos, sim, a introdução de medicamentos com capacidade de interferência na componente neuropática das manifestações dolorosas (alguns anticonvulsivantes, determinados antidepressivos, analgésicos não-AINES, relaxantes musculares, etc.)
Causas da fibromialgia
"O doente não reconhece uma causa definida para a dor persistente, mas sabe-se que pode estar relacionada com um evento traumático passado, físico ou psicológico", explica a reumatologista Iva Brito. Independentemente do que se venha a descobrir sobre a origem desta síndrome, quem sofre reconhece-a bem e sente que, por vezes, a maior dificuldade é ser levado a sério nas suas queixas, quando apresenta exames e análises com valores normais.
"O maior inimigo de quem sofre de fibromialgia é a errada e incompreensível desconfiança que ainda existe sobre a doença, seja de alguns setores clínicos seja da sociedade civil, particularmente dos que rodeiam os doentes e que se cansam de lidar com eles, como os familiares diretos ou colegas de trabalho".