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A importância da nutrição no tratamento da fibromialgia

Colaboração
Esta doença, que afeta predominantemente as mulheres, inclui sintomas como fadiga, rigidez articular, perturbações do sono, e também falta de memória e concentração. Descubra o papel da intervenção nutricional no tratamento da fibromialgia.

A fibromialgia é uma síndrome não degenerativa, complexa e multifatorial caracterizada por dor crónica generalizada e uma variedade de manifestações, incluindo fadiga, rigidez articular, perturbações do sono, enxaquecas, depressão, ansiedade, alterações gastrointestinais e cognitivas, tais como falta de memória e concentração. Esta síndrome está associada ao stress oxidativo, à disfunção mitocondrial, imunológica e cardiovascular. A gravidade dos sintomas varia entre indivíduos, porém a qualidade de vida é sempre afetada. 

Na Europa, estima-se que a prevalência desta patologia seja de 2,6% e em Portugal de 1,7%, sendo mais predominante no sexo feminino (95-96%) e na idade adulta (2-8%). Para o diagnóstico da doença, são utilizados os critérios de classificação de Roma III elaborados pelo American College of Rheumatology. 
    No tratamento desta patologia, é recomendada a terapêutica não farmacológica, que inclui a fisioterapia e a terapia cognitivo-comportamental e, caso esta não tenha efeito, a terapêutica farmacológica. A Nutrição inclui-se nas opções de tratamento não farmacológico.

O papel da Nutrição na fibromialgia

•    Vários autores defendem que aumentar a ingestão de antioxidantes, presentes nas frutas e hortícolas, parece melhorar os sintomas ao nível do aparelho digestivo e prevenir deficiências de micronutrientes. Défices de magnésio, selénio, ácido fólico, vitamina B12, ferro e zinco foram associados a um aumento das dores músculo-esqueléticas. 
•    Uma alimentação com um elevado teor em gordura e açúcar foi correlacionada a um aumento da inflamação, piorando o prognóstico de indivíduos com fibromialgia. Neste sentido, deve optar-se pelo consumo de alimentos com uma elevada densidade nutricional, tais como frutas e hortícolas, e evitar alimentos com uma elevada densidade energética e baixa densidade nutricional, onde se incluem os bolos de pastelaria, refrigerantes, fast food, entre outros. 
•    Um elevado Índice de Massa Corporal foi significativamente associado ao aumento da dor, uma vez que o excesso de peso também contribui para o processo de inflamação. 
•    Um ritmo circadiano equilibrado é relevante na regulação hormonal, bem como nos mecanismos de reparação celular. Os estudos realizados constataram que um ritmo circadiano desregulado está relacionado com um aumento dos níveis de dor, depressão e pior qualidade do sono. 
•    Vários estudos referem que existe uma associação entre a fibromialgia e a inflamação intestinal. Neste sentido, a microbiota intestinal também parece ter influência na doença, uma vez que pode afetar a digestão e absorção de macronutrientes, minerais e vitaminas e a secreção de hormonas e neurotransmissores, que estão frequentemente alterados na fibromialgia. 
•    Diversas dietas têm sido propostas como abordagens promissoras no controlo da sintomatologia da doença, nomeadamente a Dieta Mediterrânica. Também a dieta sem glúten e a dieta pobre em FODMAPs têm demonstrado melhorias ao nível da sintomatologia gastrointestinal. Noutros trabalhos, uma dieta vegetariana foi associada a uma diminuição da dor e a uma melhoria da qualidade de vida destes indivíduos. No entanto, não existe evidência suficiente para recomendar este tipo de alimentação. Para os indivíduos que já adotem este regime alimentar, poderá ser otimizado com o intuito de melhorar a sintomatologia da patologia.
•    Alguns trabalhos sugerem que a suplementação de vitamina D deve ser considerada, visto que cerca de 40% dos indivíduos com fibromialgia apresentam deficiência. Além disso, vários estudos sugeriram uma associação entre baixos níveis séricos de vitamina D e dor crónica, depressão e ansiedade em indivíduos com a doença. Os autores enfatizam a importância de avaliar os níveis séricos de vitamina D e recomendar a suplementação quando estiverem presentes fatores de risco para deficiência desta vitamina.
•    Vários suplementos nutricionais como Chlorella pyreinoidosa, coenzima Q10, Gingko biloba, L-carnitina, S-adenosilmetionina, creatina e melatonina têm demonstrado alguns benefícios em indivíduos com fibromialgia, ao melhorar sintomas como dores musculares, fadiga, rigidez matinal e, consequentemente, a qualidade de vida. Contudo, não existe evidência suficiente para recomendar a sua utilização na prática clínica.
    
Importa salientar que cada indivíduo deve ser avaliado de forma individualizada e personalizada por um profissional de saúde. A Nutrição apresenta-se como uma abordagem complementar promissora ao tratamento da fibromialgia, aliada a um estilo de vida saudável. No entanto, são necessários mais estudos para fornecer evidência, estratégias e recomendações eficazes no controlo da sintomatologia inerente à doença.

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Revisão Científica

Dra. Beatriz Vieira

Dra. Beatriz Vieira

Coordenador da Unidade de Nutrição Clínica

Hospital Lusíadas Amadora
PT