Leucemia: sintomas, diagnóstico e tratamento
O que é a leucemia
“A leucemia é uma neoplasia hematológica com origem na medula óssea, ou seja, é um tipo de cancro que tem início nas células progenitoras do sangue. Na leucemia existe a produção anómala de células sanguíneas precursoras que sofreram transformação. Essas células malignas multiplicam-se de forma descontrolada e não amadurecem adequadamente, deixando-as incapazes de funcionar normalmente”, esclarece Rui Bergantim, especialista em Hematologia Clínica do Hospital Lusíadas Porto.
Tipos e subtipos de leucemia
Existem diferentes tipos de leucemia, sendo alguns subtipos muito raros. De acordo com a série hematológica que lhe dá origem, podem existir as leucemias linfoides (quando têm origem na série linfoide) e as leucemias mieloides (quando têm origem na série mieloide).
Para além desta divisão, as leucemias podem ser classificadas em agudas e crónicas, de acordo com a sua apresentação clínica. As leucemias agudas aparecem e progridem rapidamente, enquanto as crónicas são lentas no seu aparecimento e evolução.
As leucemias são doenças raras e têm prevalências diferentes. A leucemia mieloide aguda, por exemplo, representa apenas 1% de todas as neoplasias, explica Rui Bergantim. A leucemia linfoide crónica é a mais comum em idade adulta, enquanto a leucemia linfoide aguda é a mais frequente em crianças.
Causas e fatores de risco
Na sua maioria, as causas de leucemia permanecem desconhecidas. De acordo com o hematologista, os avanços científicos atuais confirmam que, na maior parte das vezes, resultam de danos de um ou mais genes que normalmente controlam o desenvolvimento das células sanguíneas.
Em alguns casos não se consegue identificar nenhuma alteração. Existem vários fatores que podem estar associados a esses danos - embora às vezes seja difícil estabelecer uma relação direta - tais como:
- Exposição a doses muito altas de radiação, como nos acidentes nucleares;
- Exposição a produtos químicos industriais, como benzeno;
- Certos tipos de quimioterapia e radioterapia usados para tratamento de outros cancros;
- Alguns distúrbios congénitos, como a Síndrome de Down;
- Outras doenças neoplásicas hematológicas ou doenças que cursam com imunossupressão de longa data.
As leucemias não são hereditárias, esclarece Rui Bergantim. A leucemia linfoide crónica, por exemplo, apresenta agregação familiar e o risco de um parente em primeiro grau vir a desenvolver a doença é aproximadamente sete vezes maior que a média da população. No entanto, como o risco de desenvolvimento desta leucemia é muito baixo, a grande maioria dos membros da família nunca desenvolverá essa leucemia, reforça o especialista.
Sintomas
Os sintomas são muito inespecíficos e a maior parte deles pode surgir em várias outras doenças, como infeções víricas, e não significa que o doente tenha uma leucemia.
É preciso ponderação na avaliação subjetiva que o doente faz e, existindo dúvidas, devem ser esclarecidas pelo seu médico habitual ou hematologista, aconselha Rui Bergantim. Os principais sintomas das várias leucemias são causados pela falta de células sanguíneas normais. Como as leucemias agudas evoluem rapidamente, os doentes geralmente relatam sentir-se mal durante um curto período de tempo (dias ou semanas) antes de serem diagnosticadas.
Por outro lado, nas leucemias crónicas, como a evolução é indolente, muitas vezes os doentes não têm qualquer sintoma e o diagnóstico é feito em análises de rotina. Os sintomas/sinais mais comuns são:
- Anemia devido à falta de glóbulos vermelhos, causando cansaço persistente, tonturas/vertigens, palidez ou falta de ar para pequenos/médios esforços;
- Infeções frequentes/recidivantes devido à falta de glóbulos brancos normais, especialmente neutrófilos;
- Sangramento ou hematomas/equimoses/petéquias inexplicáveis, devido a uma contagem plaquetária muito baixa;
- Dor óssea devido à infiltração da medula óssea pelas células malignas;
- Adenopatias ou massas devido ao aumento dos gânglios linfáticos (mais comum na leucemia linfoide crónica);
- Dor ou desconforto abdominal esquerdo, devido ao aumento do baço (mais comum na leucemia mieloide crónica);
- Hipersudorese (suor excessivo) ou perda ponderal não intencional (também mais comum nas leucemias crónicas).
Tratamentos disponíveis
Atualmente existem muitas opções terapêuticas disponíveis – quimioterapia, anticorpos monoclonais, inibidores-alvo de alterações genéticas - que são adaptadas às características da doença e do próprio doente. Rui Bergantim salienta a importância da realização de um diagnóstico correto para decidir o plano terapêutico.
Leucemias agudas
As leucemias agudas, quer mieloide quer linfoide, são tratadas com protocolos de quimioterapia intensiva, a maior parte em regime de internamento, que incluem vários fármacos de várias classes terapêuticas – citotóxicos clássicos, anticorpos monoclonais ou inibidores específicos de algumas alterações genéticas.
Habitualmente são realizados vários ciclos para induzir e consolidar uma resposta terapêutica. Nos casos de alto risco, em que a probabilidade de a leucemia reaparecer rapidamente é alta, o doente é orientado para ser submetido a um transplante de medula óssea.
Leucemia linfoide crónica
O tratamento da leucemia linfoide crónica assenta essencialmente em quimioterapia oral ou endovenosa associada, ou não, a anticorpos monoclonais. A medicação oral é habitualmente tomada enquanto há controlo da leucemia ou até à progressão da leucemia. Durante muito tempo, e de acordo com as características, estes doentes não precisam de tratamento e permanecem em vigilância clínica e analítica em consultas frequentes.
Leucemia mieloide crónica
O tratamento da leucemia mieloide crónica é também oral e bem tolerado, permitindo ao doente fazer o seu quotidiano normalmente. O tratamento desta leucemia, com um inibidor específico da alteração genética a ela associada, foi um avanço importante na abordagem destes doentes o que permite atualmente falar numa “cura operacional” nestes casos.
As leucemias têm cura?
Existem doentes com leucemias agudas que estão curados e todas as leucemias são potencialmente curáveis, esclarece Rui Bergantim. Acrescenta que alcançar esta cura depende de vários fatores e características do doente e até da própria leucemia, que podem favorecer, ou não, uma maior probabilidade de cura.
No que diz respeito às leucemias crónicas, o tratamento contínuo oral com inibidores específicos permitiu que os doentes ficassem com a doença indetetável com as técnicas atuais, permitindo uma “cura operacional” da leucemia e um quotidiano normal, conclui o hematologista.