Mieloma múltiplo: o que é?
O que é o mieloma múltiplo?
O mieloma múltiplo é um tipo de cancro que afeta com maior frequência a medula óssea (tecido que preenche o interior da maioria dos ossos), embora possa também afetar outros órgãos. A doença afeta os plasmócitos – um tipo de glóbulos brancos –, células produtoras de imunoglobulinas com um papel importante na defesa do organismo contra infeções.
No mieloma, os plasmócitos tornam-se malignos, aumentando a sua presença e atividade na medula óssea. Como consequência, a imunoglobulina é produzida em excesso (proteína M), o que causa vários problemas no organismo, responsáveis pelos sinais e sintomas da doença.
Porque se chama “múltiplo”?
Exatamente porque a medula óssea é afetada em múltiplos locais. Esta variedade nos locais da medula afetados, assim como a diversidade da localização da doença (que pode ocorrer, por exemplo, na coluna vertebral, bacia ou crânio), a atividade do mieloma e o seu padrão de crescimento implicam que a doença seja muito variada de caso para caso.
Qual a incidência do mieloma múltiplo?
Em Portugal, são registados entre 300 e 500 novos casos de mieloma múltiplo por ano. Globalmente, representa cerca de 1% de todos os cancros diagnosticados e 15% de todas as doenças malignas hematológicas.
Que população é a mais afetada?
O mieloma múltiplo é ligeiramente mais frequente no homem (1,4 casos para cada ocorrência em mulheres) e a maioria dos casos acontece em indivíduos entre os 50 e os 70 anos. Abaixo dos 40 anos, a presença deste tipo de cancro é mais rara: apenas 5 a 10% dos casos registados. O mieloma múltiplo é também mais frequente em indivíduos de raça negra.
Quais as causas do mieloma múltiplo?
Não se conhecem causas evidentes, embora possam existir fatores genéticos que aumentem a suscetibilidade à doença. Porém, não há provas de que esta seja uma doença hereditária. Não existe nenhum método efetivo de prevenção ou de diagnóstico precoce de mieloma múltiplo.
Que sintomas estão associados à doença?
Os sintomas dependem do grau de evolução da doença e dos órgãos mais afetados.
Estes são alguns dos sinais de alerta:
- Falta de apetite;
- Fraqueza;
- Cansaço;
- Falta de ar;
- Infeções, sobretudo respiratórias;
- Insuficiência renal;
- Dores ósseas e risco de fratura;
- Maior tendência para hemorragias;
- Alterações neurológicas, como diminuição da sensibilidade e paralisia.
O que se altera no organismo?
As principais alterações são frequentemente chamadas de CRAB, uma sigla que abrange o Cálcio aumentado no sangue; alteração da função do Rim; Anemia por diminuição de glóbulos vermelhos na medula óssea; e alterações ósseas (Bone, em inglês) com destruição e fratura associadas.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico precoce é muito raro, porque a doença não provoca sintomas significativos e específicos até chegar a um estádio avançado. Para obter um diagnóstico, o médico especialista deve realizar exames específicos, que dependem muito do estádio da doença e da própria pessoa. No geral, o processo de diagnóstico pode envolver:
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Exames laboratoriais
Para deteção, por exemplo, de níveis de glóbulos brancos, vermelhos e plaquetas, quantidade de imunoglobulina, níveis de cálcio ou produção de Beta-2 – Microglobulina, que é também uma proteína produzida pelas células malignas;
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Exames de imagem
Radiografias ósseas, TAC (tomografia axial computadorizada), ressonâncias magnéticas e PET (tomografia por emissão de positrões, que permite mapear as células malignas do organismo, através da administração de moléculas de glicose marcadas por via endovenosa).
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Biopsia e aspiração da medula óssea (medulograma)
Remoção de uma pequena quantidade de medula óssea (e de osso, no caso da biopsia), que é depois enviada para análise. Além do diagnóstico, é importante saber qual o estádio do tumor para afinar o tipo de tratamento e prever a evolução da doença. Existem dois sistemas usados para definir, em cada caso, qual o estádio do tumor (I, II ou III): sistema de Durie-Salmon e o Sistema Internacional de Estadiamento.
Dependendo do sistema usado, os especialistas recorrem a dados como valores de imunoglobulina, Beta-2 ou hemoglobina, idade da pessoa, número de plaquetas ou função renal.
Quais são os tratamentos possíveis?
Uma vez que o mieloma múltiplo é crónico, o tratamento existente foca-se no controlo da doença, regressão e estabilização por um período de tempo (variável de caso para caso). Apesar de não existir uma cura, vários tratamentos têm demonstrado um aumento importante na sobrevivência.
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Quimioterapia
Administração de medicamentos, com capacidade para destruir as células de mieloma ou plasmócitos. Tratamento feito por ciclos, com duração e frequência adaptadas a cada pessoa;
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Transplante de medula óssea ou células progenitoras do sangue
Recolha de células progenitoras (com capacidade de autorrenovação e diferenciação) da medula óssea ou do sangue para posterior transplante. Indicado apenas para grupos específicos de pessoas, como por exemplo com menos de 70 anos e sem outras doenças associadas.
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Tratamentos de apoio
Estes tratamentos, como a radioterapia, permitem a diminuição dos efeitos do mieloma múltiplo no organismo e devem ser aplicados em paralelo com os tratamentos específicos da doença (indicados acima). Incluem-se tratamentos para dor, para insuficiência renal, para cálcio aumentado no sangue, para alterações ósseas, para anemia e infeções.
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Ensaios Clínicos
Diversos estudos clínicos testam novos medicamentos ou novas estratégias no tratamento do mieloma múltiplo. Fale com o seu médico sobre esta alternativa terapêutica para averiguar qual a disponibilidade e se poderá ser um procedimento indicado.
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Revisão Científica
Dr. Sérgio Barroso
Coordenador da Unidade de Oncologia Médica