Radioterapia: o que é e como é feita
A radioterapia é um dos mais importantes tratamentos das doenças oncológicas e utiliza diferentes tipos de radiação para destruir o tecido canceroso.
A radioterapia tem um alto potencial curativo, 40% dos doentes com cancro curados fizeram radioterapia como parte do seu tratamento e cerca de 50% dos doentes com cancro requerem radioterapia em alguma fase do seu tratamento. Além disso, a radioterapia tem um papel-chave na paliação de sintomas como a dor, a hemorragia e a compressão neurológica.
Como funciona
Depois da descoberta dos raios X, no final do século XIX, esta e outros tipos de radiações começaram a ser experimentados para tratar tumores malignos e outras patologias benignas. Em 1922, o oncologista francês Henri Coutard apresentou num congresso de oncologia em Paris a primeira prova da cura por radioterapia de um paciente com um cancro de laringe avançado.
Desde então, esta terapia foi evoluindo para formas mais sofisticadas e com menos efeitos colaterais. “As indicações para radioterapia dependem de vários fatores, tais como: tipo de tumor e a sua localização, estádio da doença e o estado geral do doente”, explica Maria Emília Monteiro Pereira. "O conceito geral da radioterapia baseia-se na utilização de altas doses de radiação, como raios X, raios gama, ou partículas como os protões, neutrões ou eletrões, que ao incidirem no tumor vão provocar alterações celulares como a danificação do DNA, assim como a libertação de antigénios tumorais e de citoquinas inflamatórias e a sobre-expressão transitória de recetores de células de superfície”, explica a médica.
Estes efeitos levam “à morte celular e ao desaparecimento do tumor, assim como ao aumento da resposta imunológica adaptativa contra as células tumorais em outras localizações do corpo, que não as irradiadas”. A partir deste princípio foram sendo desenvolvidas diferentes modalidades de tratamento. A radioterapia externa, a forma mais utilizada, e em que a fonte de emissão de radiação é externa ao paciente e a braquiterapia em que a fonte radioativa está em contacto direto ou dentro do tumor.
Estas duas modalidades podem ser usadas individualmente ou em conjunto no mesmo tratamento. Há várias técnicas de radioterapia externa, “como a radioterapia conformacional (3D CRT), a intensidade modulada com imagem guiada (IMRT/IGRT), a arcoterapia (VMAT), a radioterapia extereotáxica (SBRT/SRT/ SART)”, acrescenta.
A sofisticação atual com estas técnicas é tão grande que já é possível modelar a radiação adaptando-a à forma e ao volume do tumor, tendo em conta a profundidade do tumor no corpo do paciente, permitindo emitir um feixe onde a máxima energia alcançada seja exatamente no tumor, nem antes, nem depois.
Este tipo de manipulação do feixe de radiações permite que o tumor receba a dose máxima de radiação prescrita, ao mesmo tempo que o tecido circundante é poupado tanto quanto possível, evitando ao máximo os efeitos colaterais.
Cuidados, tempo de tratamento e efeitos colaterais
A radioterapia é utilizada por uma especialidade médica chamada Radioncologia. Antes de um paciente iniciar o programa de radioterapia, é informado sobre o tratamento e os cuidados que deve ter durante e após o mesmo.
“Estas indicações variam com a localização do tumor e a zona que irá ser tratada, a dose e fracionamento e tipo de feixe que está a ser utilizado. Genericamente, o doente deve estar bem hidratado bebendo água, alimentar-se bem de acordo com a dieta preconizada, manter a pele na zona a tratar limpa e hidratada, não expor a zona em tratamento aos raios solares ou a produtos químicos”, enumera a especialista.
De acordo com o tipo de tumor, a técnica utilizada e a finalidade do tratamento, este pode ir de uma até quarenta sessões. Normalmente, é feito em regime ambulatório. “A durabilidade das sessões também pode variar desde alguns minutos para as técnicas mais comuns a mais tempo para técnicas mais complexas”, explica a médica.
Os efeitos secundários imediatos da radioterapia iniciam-se após a segunda ou terceira semana de tratamentos, dependendo da sensibilidade do paciente e da localização do mesmo, desaparecendo alguns dias ou semanas após a última sessão.
Estes efeitos, podem “traduzir-se por algum cansaço, reações cutâneas ou das mucosas, alteração do trânsito intestinal, alterações urinárias, alterações hematológicas, dificuldade na deglutição”, aponta Maria Emília Monteiro Pereira.
Os efeitos tardios, podem surgir meses ou anos depois do tratamento tais como as fibroses ou a infertilidade. “O sucesso desta e de outras terapêuticas para o cancro, com o aumento da sobrevida proporcionado aos doentes, pode ter também como efeito tardio a indução de segundos tumores, embora em baixíssima percentagem”, explica a médica, “contudo a contínua investigação na área oncológica e especificamente na radioterapia, os avanços tecnológicos, físicos e radiobiológicos assim como ensaios clínicos, visam uma otimização dos resultados desta terapêutica e uma minimização dos seus efeitos secundários”, conclui a especialista.