Abordagens cirúrgicas inovadoras no tratamento de doenças renais
Qual a importância do rim para o funcionamento do corpo?
Os rins são órgãos do sistema urinário que desempenham funções vitais ao organismo. Têm a forma de um feijão do tamanho de um punho, localizados de cada lado da coluna vertebral, acima da cintura e por trás dos órgãos abdominais. Os rins são formados por milhares de pequenos túbulos que filtram e limpam o sangue, extraindo os resíduos do organismo e formando a urina. Para além de filtrarem o sangue, têm outras funções como a produção de hormonas essenciais que ajudam a controlar a pressão arterial e a produção de glóbulos vermelhos.
Qual a prevalência das doenças renais em Portugal? E quais são as idades mais afetadas?
Em Portugal as doenças renais são um problema crescente, afetando uma percentagem significativa da população. As idades mais afetadas variam, mas geralmente, adultos mais velhos enfrentam um risco mais elevado. A prevalência destas doenças sublinha a importância da sensibilização e prevenção.
Quais são as principais doenças renais?
Múltiplas doenças renais podem afetar a população, desde infeções urinárias a condições crónicas. Conhecer estas doenças é crucial para a deteção precoce e abordagem eficaz.
Vários fatores aumentam o risco de desenvolver problemas renais, incluindo hipertensão, diabetes, obesidade, história familiar, tabagismo, idade avançada e uso prolongado de analgésicos (acetaminofeno e AINEs). A compreensão destes fatores é fundamental para a prevenção.
Os sintomas das doenças renais podem variar, mas frequentemente incluem hematúria macroscópica (sangue na urina), dor na região lombar, aparecimento de massa na região lombar, cansaço, fadiga, edemas (inchaços) dos membros inferiores, perda de peso e alterações na frequência urinária.
Entre as doenças renais mais comuns, destaca-se a litíase urinária (pedras nos rins) e o cancro renal. Os tratamentos para problemas renais abrangem uma variedade de abordagens, desde mudanças no estilo de vida e gestão de condições subjacentes até medicamentos específicos e cirurgias minimamente invasivas.
Litíase Urinária
Epidemiologia: Cerca de 15-20% da população mundial desenvolve cálculos renais, contudo a grande maioria dos doentes consegue eliminar espontaneamente com a urina. A frequência de cálculos renais durante a vida varia imensamente entre os países, entre 8 e 15% em homens e entre 3 e 5% entre mulheres. É mais frequente entre os 40 e 49 anos. A litíase renal é mais frequente nos homens do que nas mulheres.
Tratamento da litíase urinária
Os tratamentos podem ser de vários tipos:
- Medicamentoso: apenas sob indicação médica, tendo em conta a causa da formação dos cálculos. Durante as crises, é indicado o uso de analgésicos e anti-inflamatórios potentes para aliviar a dor, que é extremamente forte, quase insuportável;
- Litotripsia extra-corpórea por ondas de choque (LEOC) visando a fragmentação dos cálculos tornando a sua eliminação pela urina mais fácil;
- Cirurgia percutânea: através de pequeno orifício lombar, o cálculo pode ser retirado dos rins após sua fragmentação com laser;
- Ureteroscopia: por via endoscópica (trans-uretral) permite fragmentar e retirar os cálculos localizados no ureter/rim.
Cancro renal
Epidemiologia
Em Portugal o cancro do rim representa cerca de 1,8% de todos os tumores malignos, estimando-se que surjam cerca de 600 a 700 novos casos por ano. É ligeiramente mais frequente nos homens (ratio 3:2) do que nas mulheres e é geralmente diagnosticado entre os 50 e os 70 anos. O cancro do rim mais comum é denominado carcinoma de células renais.
Fatores de risco para o desenvolvimento do cancro renal
Existem múltiplos comportamentos ou condições que aumentam o risco de ter um cancro do rim. Se um ou mais fatores de risco se aplicarem a si, não quer dizer que desenvolverá necessariamente cancro do rim. Da mesma forma, o cancro do rim pode aparecer em indivíduos que não apresentem fatores de risco conhecidos. Ainda não foi possível encontrar as causas para o cancro do rim, mas alguns fatores de risco são conhecidos.
Os principais fatores de risco são:
- Tabagismo: é o principal fator de risco de cancro do rim, aumentando o mesmo na proporção do tempo e carga tabágica do fumador;
- Obesidade: pessoas com excesso de peso têm maior probabilidade de desenvolver cancro renal;
- Hipertensão arterial (pressão alta): a hipertensão está associada a um maior risco de cancro renal;
- História familiar: pessoas com parentes de primeiro grau que tiveram cancro renal podem ter um risco aumentado;
- Doenças genéticas: certas condições genéticas, como a síndrome de Von Hippel-Lindau, aumentam significativamente o risco de cancro renal;
- Exposição ocupacional a substâncias químicas: a exposição a certas substâncias químicas no ambiente de trabalho pode aumentar o risco;
- Insuficiência renal crónica: pessoas com insuficiência renal crónica têm um maior risco de desenvolver cancro renal.
Tratamento de doenças renais e do cancro renal
Têm existido avanços significativos nas abordagens cirúrgicas e nos tratamentos às doenças renais, nomeadamente no cancro renal.
Os procedimentos cirúrgicos para o tratamento do cancro do rim podem ser:
- Nefrectomia parcial: nesta cirurgia remove-se parte do rim onde está localizado o tumor;
- Nefrectomia radical: nesta cirurgia remove-se a totalidade do rim, a glândula supra-renal, tecido circundante deste dois órgãos e gânglios linfáticos locais.
O cirurgião poderá remover o rim por duas abordagens distintas: por cirurgia aberta ou por laparoscopia/robótica. A cirurgia por laparoscopia/robótica é considerada um tipo de procedimento cirúrgico minimamente invasivo, que consiste na remoção do rim através de uma pequena incisão sendo utilizados pequenos orifícios para visualizar o abdómen e manobrar os instrumentos.
A cirurgia laparoscópica/robótica permite ao cirurgião ter melhor capacidade e precisão de realizar os gestos cirúrgicos e de uma forma mais fácil e confortável. Graças a essa precisão, pode melhorar os resultados e reduzir a quantidade de danos causados aos tecidos. Sendo um procedimento minimamente invasivo, os doentes têm a possibilidade de:
- Tempo de recuperação da cirurgia mais rápido;
- Menos dor e desconforto no pós-operatório;
- Risco reduzido de infeção cutânea;
- Cicatrizes mínimas.
Para indivíduos com risco de complicações cirúrgicas devido a outros problemas de saúde e que apresentem um tumor inferior a 4 cm, o cirurgião poderá optar por remover o tumor por uma destas abordagens:
- Criocirurgia: o cirurgião introduz um instrumento no tumor, pela pele ou através de uma pequena incisão, que congela a lesão destruindo-a;
- Ablação por radiofrequência: o cirurgião introduz uma sonda pela pele ou através de uma pequena incisão até ao tumor. A sonda contém uns pequenos eléctrodos que destroem as células de cancro do rim pelo calor;
- Vigilância ativa: em idosos com várias co-morbilidades e tumores pequenos (de crescimento lento);
- Embolização: não é uma opção terapêutica standard, mas pode ser considerada em doentes que não possam tolerar a extração ou ablação do tumor. Pode também ser considerada como complemento de tratamentos convencionais, sobretudo se o tumor estiver a sangrar. A embolização pode estancar a hemorragia, permitindo assim que o cirurgião estabilize o doente antes da cirurgia.
A escolha do tratamento dependerá da gravidade e tipo de condição renal diagnosticada, sendo essencial consultar um profissional de saúde para um plano personalizado. Esteja atento à sua saúde renal, mantenha um estilo de vida saudável e procure aconselhamento médico regular para garantir a prevenção e gestão eficaz de problemas renais.
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Revisão Científica
Dr. Luís Osório
Coordenador da Unidade de Urologia